sábado, 12 de novembro de 2016

O DIÁRIO AS BEIRAS COM NOVO "LIFTING"





Hoje a cidade acordou com um Diário as Beiras mais crescido. De ontem para hoje, medrou cinco centímetros e alargou meio. Ou seja, está para as curvas com as medidas de 29 por 39 centímetros.
Quem é mais velho, acima do meio-século, como exemplo, deve lembrar-se do Diário de Notícias, e outros jornais nacionais em desdobráveis, com um tamanho enorme, a fazer lembrar um lençol. Depois, progressivamente, talvez para tornar o matutino mais acessível à leitura e poupar no papel, foi diminuindo de tamanho até que estacionou no actual formato de 28 por 36.
Por cá, pela cidade, assistimos ao mesmo fenómeno. O Diário de Coimbra, por volta de 1990, passou de desdobrável para a medida estandardizada de 28 por 37,5 e por estas medidas curvilíneas se mantém.
Já com o Diário as Beiras não foi bem assim. Por volta de 1993, como semanário, nasceu com as medidas de 32 por 40. Para a época, um rapagão noticioso tendo em conta os 28 por 37,5 do concorrente Diário de Coimbra.
Seguindo a linha do jornal I, nacional, em 28 de Janeiro de 2011, o Diário as Beiras encolheu para as dimensões de 28,5 por 34, tamanho A3, e hoje alteradas.
Comecemos então com perguntas. A primeira poderia ser assim: o tamanho influencia a qualidade da performance? Bem sei que a resposta surge desse lado rápida e incisiva: não senhor, não influencia! Mas, deste lado, não sou assim tão conclusivo. Para mim, agrada-me mais a actual configuração. Diariamente leio o Diário as Beiras em papel e, sempre que, até ontem, o manuseava, tinha a ideia de, por ser tão pequeno, estar a ler um jornal escolar. Bem sei que é psicológico, mas sempre senti assim. No entanto, nos jornais de espectro nacional, pela comodidade, concordo que a mudança de desdobrável para folha inteira foi acertada.
E, sem que ninguém me encomendasse o sermão, vou continuar com uma ressalva: tenho um profundo respeito pelos jornais da cidade, no seu todo. São meus companheiros diários. Apesar de não me coibir de criticar, como meus filhos, gosto deles em geral.
Localmente, para mim, a informação noticiosa, enquanto formativa de opinião, é tão necessária, para o leitor, como as várias forças políticas-partidárias em confronto, para o eleitor. Se, uns e outros, com o tempo se enquistam e passam a servir-se todos da mesma cartilha, isto, sendo verdade, já e outro assunto. O que é facto é que, na génese de um qualquer nascimento, subsiste sempre uma esperança que, mais tarde, infelizmente, se vem a mostrar frustrada.
Sobretudo no tocante à imprensa local, para justificar a inevitável formatação do tudo igual ao mesmo e mais do mesmo, poderíamos dizer que tudo contribui para este estado. Começa pela quebra acentuada de leitores na edição em papel e, consequentemente, na diminuição de assinantes -tanto quanto julgo saber, subscritores na edição online não será significativa. A complementar vem a redução drástica da publicidade -com empresas descapitalizadas, a divulgação de produtos é a primeira a ser vitimizada. No meio da pobreza material, então, em balanço, o que resta em receitas para poder aguentar a viabilidade económica de um jornal? As poucas assinaturas, mais as poucas vendas em tabacaria, mais a publicidade à prostituição, mais a publicidade institucional das entidades com poder na cidade. Isto é, com os custos de edição a tocar no vermelho, naturalmente, não se pode prescindir de nenhuma destas premissas. Por muito que se estrebuche, cruamente, esta é a realidade. Não é preciso ser economista para ver que a sequela deste gráfico inclinado é a continuada diminuição de jornalistas na cobertura local -a ganharem cada vez menos e com recurso a estagiários como mão-de-obra barata-, e o “encosto” deliberado ao poder instalado, que é quem decide a atribuição de verbas para publicidade e outras prebendas.

SER OU NÃO SER INDEPENDENTE?

Não é preciso ser sociólogo para saber que a independência jornalística é um mito. Se bem que, noticiando apenas os factos, sem opinião subjectiva, pode conseguir-se um distanciamento e ter-se a pretensão de se alcançar um aparente estado de transcendência. Porém, o cunho pessoal, a menor ou maior simpatia, está lá. Além disso, tudo depende da forma como a notícia é explanada. Por exemplo, se eu escrever sobre uma determinada conferência pública em que estiveram presentes apenas cinco pessoas e, para além de não dar conta disso, não perorar sobre esta diminuta assistência estou a deturpar completamente a informação do evento e a enganar o leitor.
Tenho reparado, nos últimos anos, que, na cidade, como máquina fotográfica a captar a imagem, tudo é mostrado a “preto e branco”e sobre uma exagerada positividade. Por parte do jornalista, há uma demasiada carga de espírito “acrítico”, impessoal, e uma enorme carência de crítica pessoal, que transforma a crónica desenxabida, sem sabor, insípida.
E depois, no pior que pode ter a imprensa local, servindo-se da ignorância como parcialidade, é o apagamento do facto, passando ao lado sem noticiar. Ou, no oposto, é noticiado apenas como relâmpago e não se questiona o facto, através de investigação -como exemplo, veja-se a morte por insolvência da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, uma agremiação com mais de 150 anos e que, nos jornais, pouco mais mereceu do que meia-dúzia de linhas.
Se encontro justificação para tudo, enquanto leitor diário não aceito. É um facto que temos em Coimbra uma imprensa (em papel), diária e semanal, paupérrima. Sem focalizar os títulos, diria que os jornais diários, em analogia, são instituições acomodadas e petrificadas no pedestal conseguido ao longo das décadas. É como se, diariamente, continuassem a editar sem noção de que o mundo mudou. Tudo continua igual como ao virar do milénio. Exceptuando as mudanças no jornal ou morte do director, raramente apresentam editoriais.
Sem pretender faltar ao respeito a quem quer que seja, os colaboradores dividem-se em políticos e sumidades fabricadas. Os articulistas políticos-partidários, ou são do passado -que já foram apeados e não trazem nada de novo- ou são do presente -que almejam o poder como comer para a boca e servem-se do meio jornalístico como escada para atingir o cume- e que a direcção do jornal, antevendo o seu sucesso, estende a passadeira vermelha e à espera de, no futuro, ser ressarcida.
Quanto às sumidades fabricadas, escrevendo quase sempre sobre assuntos pessoais, sem interesse público, quase sempre a bajular o poder implantado, são mesmo mais do mesmo -aliás, se houver algum que fuja ao estereótipo, é expurgado como demónio entrado em catedral.
Curiosamente, vá-se lá saber o porquê, desprezam e ostracizam a escrita do leitor colaborativo -pelo menos de alguns. Aventando hipóteses, é possível que temam a independência deste cidadão-escritor. Diga-se o que disser em relação à liberdade de expressão, esta, é um cliché.
Por outro lado, numa espécie de revista “Olá”, nos eventos culturais da cidade ou futebolísticos, sem grande variação, os jornais apresentam ao fim-de-semana sempre as mesmas pessoas em pose fotográfica.

E OS SEMANÁRIOS?

Quanto aos semanários, poucos e quase em número dos diários, chegam a ser incómodos pela falta de respeito com os colegas do mesmo ofício. Têm por hábito apontar os erros da concorrência. Pessoalmente, não gosto. Demonstram alguma falta de respeito, ética e sensibilidade. Outro apontamento que me apercebo e desgosto é a fixação, comportamento neurótico, em determinadas pessoas, políticos da praça ou outras. A fazer acreditar em disputas políticas e ódios pessoais, chega a ser patético ler, semanalmente, sempre as mesmas setas envenenadas e direccionadas para os mesmos alvos.

E OS NOVOS DESAFIOS?

Antes de prosseguir, não posso deixar de fazer referência a um notório êxito redactorial: o online Notícias de Coimbra. Provavelmente, terá mais leitores que alguns jornais editados em papel.
No entanto, apesar da ameaça digital, tal como os livros impressos, os jornais em edição palpável nunca desaparecerão. No máximo, em escolha possível, conviverão harmoniosamente. Estamos a viver um período conturbado, sobretudo de nivelamento, onde a novidade da Internet deixa marcas profundas, mas ainda não teremos índices estabilizados que nos permitam aferir em bom juízo.
Já se sabe que o digital tem o imediatismo, o em cima do acontecimento, que o formato em papel nunca poderá igualar. No entanto, é de prever que, embora só para alguns, num eterno retorno às origens, a imprensa, como sempre a conhecemos, se vá manter. O prazer de desfolhar, o cheiro a ocre, o sublinhar, o escrever nas margens, o apalpar, o sentir nosso na estante, neste apreender com os sentidos, o virtual, creio, nunca poderá proporcionar este gozo da alma.


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