Hoje
a cidade acordou com um Diário as Beiras mais crescido. De ontem
para hoje, medrou cinco centímetros e alargou meio. Ou seja, está
para as curvas com as medidas de 29 por 39 centímetros.
Quem é mais velho, acima
do meio-século, como exemplo, deve lembrar-se do Diário de
Notícias, e outros jornais nacionais em desdobráveis, com um
tamanho enorme, a fazer lembrar um lençol. Depois, progressivamente,
talvez para tornar o matutino mais acessível à leitura e poupar no
papel, foi diminuindo de tamanho até que estacionou no actual
formato de 28 por 36.
Por cá, pela cidade,
assistimos ao mesmo fenómeno. O Diário de Coimbra, por volta de
1990, passou de desdobrável para a medida estandardizada de 28 por
37,5 e por estas medidas curvilíneas se mantém.
Já com o Diário as
Beiras não foi bem assim. Por volta de 1993, como semanário, nasceu
com as medidas de 32 por 40. Para a época, um rapagão noticioso
tendo em conta os 28 por 37,5 do concorrente Diário de Coimbra.
Seguindo a linha do
jornal I, nacional, em 28 de Janeiro de 2011, o Diário as Beiras
encolheu para as dimensões de 28,5 por 34, tamanho A3, e hoje
alteradas.
Comecemos
então com perguntas. A primeira poderia ser assim: o tamanho
influencia a qualidade da performance? Bem sei que a resposta surge
desse lado rápida e incisiva: não senhor, não influencia!
Mas, deste lado, não sou assim tão conclusivo. Para mim, agrada-me
mais a actual configuração. Diariamente leio o Diário as Beiras em
papel e, sempre que, até ontem, o manuseava, tinha a ideia de, por
ser tão pequeno, estar a ler um jornal escolar. Bem sei que é
psicológico, mas sempre senti assim. No entanto, nos jornais de
espectro nacional, pela comodidade, concordo que a mudança de
desdobrável para folha inteira foi acertada.
E,
sem que ninguém me encomendasse o sermão, vou continuar com uma
ressalva: tenho um profundo respeito pelos jornais da cidade, no seu
todo. São meus companheiros diários. Apesar de não me coibir de
criticar, como meus filhos, gosto deles em geral.
Localmente, para mim, a
informação noticiosa, enquanto formativa de opinião, é tão
necessária, para o leitor, como as várias forças
políticas-partidárias em confronto, para o eleitor. Se, uns e
outros, com o tempo se enquistam e passam a servir-se todos da mesma
cartilha, isto, sendo verdade, já e outro assunto. O que é facto é
que, na génese de um qualquer nascimento, subsiste sempre uma
esperança que, mais tarde, infelizmente, se vem a mostrar frustrada.
Sobretudo no tocante à
imprensa local, para justificar a inevitável formatação do tudo
igual ao mesmo e mais do mesmo, poderíamos dizer que tudo contribui
para este estado. Começa pela quebra acentuada de leitores na edição
em papel e, consequentemente, na diminuição de assinantes -tanto
quanto julgo saber, subscritores na edição online não será
significativa. A complementar vem a redução drástica da
publicidade -com empresas descapitalizadas, a divulgação de
produtos é a primeira a ser vitimizada. No meio da pobreza material,
então, em balanço, o que resta em receitas para poder aguentar a
viabilidade económica de um jornal? As poucas assinaturas, mais as
poucas vendas em tabacaria, mais a publicidade à prostituição,
mais a publicidade institucional das entidades com poder na cidade.
Isto é, com os custos de edição a tocar no vermelho, naturalmente,
não se pode prescindir de nenhuma destas premissas. Por muito que se
estrebuche, cruamente, esta é a realidade. Não é preciso ser
economista para ver que a sequela deste gráfico inclinado é a
continuada diminuição de jornalistas na cobertura local -a ganharem
cada vez menos e com recurso a estagiários como mão-de-obra barata-, e o “encosto”
deliberado ao poder instalado, que é quem decide a atribuição de verbas para publicidade e outras prebendas.
SER OU
NÃO SER INDEPENDENTE?
Não
é preciso ser sociólogo para saber que a independência
jornalística é um mito. Se bem que, noticiando apenas os factos,
sem opinião subjectiva, pode conseguir-se um distanciamento e ter-se
a pretensão de se alcançar um aparente estado de transcendência.
Porém, o cunho pessoal, a menor ou maior simpatia, está lá. Além
disso, tudo depende da forma como a notícia é explanada. Por
exemplo, se eu escrever sobre uma determinada conferência pública
em que estiveram presentes apenas cinco pessoas e, para além de não
dar conta disso, não perorar sobre esta diminuta assistência estou
a deturpar completamente a informação do evento e a enganar o
leitor.
Tenho
reparado, nos últimos anos, que, na cidade, como máquina
fotográfica a captar a imagem, tudo é mostrado a “preto e
branco”e sobre uma exagerada positividade. Por parte do
jornalista, há uma demasiada carga de espírito “acrítico”,
impessoal, e uma enorme carência de crítica pessoal, que transforma
a crónica desenxabida, sem sabor, insípida.
E depois, no pior que
pode ter a imprensa local, servindo-se da ignorância como
parcialidade, é o apagamento do facto, passando ao lado sem
noticiar. Ou, no oposto, é noticiado apenas como relâmpago e não
se questiona o facto, através de investigação -como exemplo,
veja-se a morte por insolvência da ACIC, Associação Comercial e
Industrial de Coimbra, uma agremiação com mais de 150 anos e que,
nos jornais, pouco mais mereceu do que meia-dúzia de linhas.
Se
encontro justificação para tudo, enquanto leitor diário não
aceito. É um facto que temos em Coimbra uma imprensa (em papel),
diária e semanal, paupérrima. Sem focalizar os títulos, diria que
os jornais diários, em analogia, são instituições acomodadas e
petrificadas no pedestal conseguido ao longo das décadas. É como
se, diariamente, continuassem a editar sem noção de que o mundo
mudou. Tudo continua igual como ao virar do milénio. Exceptuando as
mudanças no jornal ou morte do director, raramente apresentam
editoriais.
Sem
pretender faltar ao respeito a quem quer que seja, os colaboradores
dividem-se em políticos e sumidades fabricadas. Os articulistas
políticos-partidários, ou são do passado -que já foram apeados e
não trazem nada de novo- ou são do presente -que almejam o poder
como comer para a boca e servem-se do meio jornalístico como escada
para atingir o cume- e que a direcção do jornal, antevendo o seu
sucesso, estende a passadeira vermelha e à espera de, no futuro, ser
ressarcida.
Quanto
às sumidades fabricadas, escrevendo quase sempre sobre assuntos
pessoais, sem interesse público, quase sempre a bajular o poder
implantado, são mesmo mais do mesmo -aliás, se houver algum que
fuja ao estereótipo, é expurgado como demónio entrado em catedral.
Curiosamente,
vá-se lá saber o porquê, desprezam e ostracizam a escrita do leitor
colaborativo -pelo menos de alguns. Aventando hipóteses, é possível que temam a
independência deste cidadão-escritor. Diga-se o que disser em
relação à liberdade de expressão, esta, é um cliché.
Por
outro lado, numa espécie de revista “Olá”, nos eventos
culturais da cidade ou futebolísticos, sem grande variação, os
jornais apresentam ao fim-de-semana sempre as mesmas pessoas em pose fotográfica.
E OS
SEMANÁRIOS?
Quanto
aos semanários, poucos e quase em número dos diários, chegam a ser
incómodos pela falta de respeito com os colegas do mesmo ofício.
Têm por hábito apontar os erros da concorrência. Pessoalmente, não
gosto. Demonstram alguma falta de respeito, ética e sensibilidade. Outro
apontamento que me apercebo e desgosto é a fixação,
comportamento neurótico,
em determinadas pessoas, políticos da praça ou outras. A fazer
acreditar em disputas políticas e ódios pessoais, chega a ser
patético ler, semanalmente, sempre as mesmas setas envenenadas e
direccionadas para os mesmos alvos.
E
OS NOVOS DESAFIOS?
Antes
de prosseguir, não posso deixar de fazer referência a um notório
êxito redactorial: o online Notícias de Coimbra. Provavelmente,
terá mais leitores que alguns jornais editados em papel.
No entanto, apesar da
ameaça digital, tal como os livros impressos, os jornais em edição
palpável nunca desaparecerão. No máximo, em escolha possível,
conviverão harmoniosamente. Estamos a viver um período conturbado,
sobretudo de nivelamento, onde a novidade da Internet deixa marcas
profundas, mas ainda não teremos índices estabilizados que nos
permitam aferir em bom juízo.
Já se sabe que o digital
tem o imediatismo, o em cima do acontecimento, que o formato
em papel nunca poderá igualar. No entanto, é de prever que, embora
só para alguns, num eterno retorno às origens, a imprensa, como
sempre a conhecemos, se vá manter. O prazer de desfolhar, o cheiro a
ocre, o sublinhar, o escrever nas margens, o apalpar, o sentir nosso
na estante, neste apreender com os sentidos, o virtual, creio, nunca poderá proporcionar este gozo da
alma.
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"O IPO e a crise de identidade"
"Editorial: mudam-se os penicos mas..."
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