Para
quem anda por cá mais atento, mais que certo, terá visto que nos últimos
tempos o alojamento local na Baixa está em crescimento. Passe-se à
noite na Rua Ferreira Borges e, no patim da antiga sapataria Romeu,
ver-se-á um ou dois estrangeiros a dormir em cima de um colchão.
Também na Rua Eduardo Coelho, no prédio das antigas Galerias
Coimbra, paredes-meias com uma frutaria, um aposento simples, com um cobertor a fazer de cortina e que dá
guarida a duas pessoas desabrigadas, mostra-se a quem passa.
O
tempo de hoje nesta zona histórica, apesar do Governo
tentar mostrar o contrário, pelo elevado número de indivíduos que
permanecem à noite junto à Loja do Cidadão à espera das
carrinhas, das associações Integrar e João Paulo II, que
distribuem comida, parece ter voltado uns anos trás, para
2010/2013, num contrato social falhado. Tal como nessa altura, constata-se também diariamente um
aumento exponencial de pessoas a tentarem vender qualquer coisa,
apenas para fazer algum dinheiro.
Seja
lá por que for, por vergonha ou empenho, parece que não se fala da
miséria recorrente e que, aparentemente, voltou a conviver com as
famílias portuguesas. Será que, ao não tocarmos neste assunto,
estamos todos a tentar auto-convencer-nos de que estamos melhor? Será
que, colectivamente, estamos a sofrer a síndrome de Estocolmo,
estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um
tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo
sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor?
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