TEXTO
ESCRITO A QUATRO MÃOS.
POR
MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES
Coimbra
tem na sua zona mais antiga o titulo de Património Mundial atribuído
pela UNESCO. Uma distinção merecida. Basta visitar a Alta e a Baixa
para visualizar o vasto património histórico, cultural,
paisagístico e arquitectónico -sem esquecer que Santa Clara também
faz parte da zona baixa. Mas há outros locais da cidade que merecem
uma visita demorada, nomeadamente, Celas, Olivais, o Penedo da
Saudade, miradouro inesquecível e recanto de poetas, São José e os
jardins paradisíacos Botânico e Sereia.
Devido
à sua riqueza monumental, para bem de todos, Coimbra está a
modificar o seu “modus vivendi”. Tal como outras urbes do
país, Lisboa, Porto e outras, está a transformar-se num polo
turístico mundial. Em consequência desta “invasão”
pacífica, já há na cidade empresas viradas para este sector e, é
de supor, muitas outras surgirão.
Mas há um pormenor que,
a meu ver, não é muito justo para os turistas e até para os
citadinos. Ou seja, muito do vasto património da cidade ou está
encerrado e vedado ao público ou paga-se caro para entrar. Por
exemplo, e volto novamente a carregar na mesma tecla, a Rua da Sofia
-que, a par da Universidade, foi objecto principal de classificação
pela UNESCO- tem vasto património e está tudo fechado –não passou muito tempo, requalificaram uma igreja e chegou a estar
aberta, depois, em mimética, seguindo a linha das demais, trancaram
portas até hoje. Muitos monumentos destes dois grupos está em
degradação.
Antes
de prosseguir, gostava de dizer que para residentes na cidade deveria
haver um preço de ingresso diferenciado. Claro que não falo de
museus, cuja entrada sempre foi onerada, mas sim dos claustros de
algumas igrejas.
Continuando,
dizem que para visitar, o pagamento é necessário e a receita é
aplicada em melhoramentos. Não sei se é. Embora pense que se não é
deturpa completamente e torna injustificável a obrigação.
Por outro lado, sendo os
monumentos um gerador de receita, como é que se entende que o Estado
os deixe apodrecer no mais gritante abandono, sobretudo quando, em
complemento, podem ter verbas elencadas no Orçamento?
Outro exemplo, embora de
contornos diferenciados, é o Convento de Santa Clara-a-velha.
Gastaram-se milhões na sua recuperação, no entanto, tal não
impediu que nas últimas cheias do Mondego alagasse tudo e, segundo a
imprensa, apresentasse um prejuízo incalculável -já que afectou
achados arqueológicos. De quem é a responsabilidade? Não há? A
culpa morre solteira? E, já agora, junto também o projecto
mal-concebido do Parque Verde, no âmbito do Programa Polís. Foram
uns milhões por água-abaixo. Bem sabemos que o orçamento
camarário, aligeirando a aselhice do projectista, vai recuperar os
danos. Mas de onde vem o dinheiro? E, mesmo que se regularize o leito
do rio, com o prometido desassoreamento, durante quantos anos se
garante que se mantém a obra incólume e o espaço sem destruição?
Num vício sem erradicação à vista, caímos nisto. Nunca há
culpados. Até se entende por que a teta do mamar, aparentemente, é
grande e nunca seca. Para preencher incompetências sobem-se impostos
e o “Zé”, burro de carga, humilde, simpático e que
raramente se revolta contra os governos predadores, locais e
nacionais, que, para alimentarem clientelas, sofregamente chupam o
Estado até ao tutano.
Ainda no caso do Mosteiro
de Santa Clara, com um investimento de requalificação tão
vultuoso, admite-se que a entrada seja feita em labirinto e pelas
traseiras?
Com
estas críticas ao edificado histórico, surgiu-me um pensamento de
uma ideia aplicada em Lisboa, em 2014. Refiro a polémica taxa de um
euro aplicada a turistas -curiosamente, por António Costa, actual
Primeiro-ministro e na altura presidente da Câmara Municipal de
Lisboa. Em 2015 aplicou-se às chegadas de passageiros e a partir de Janeiro de 2016 a todas as dormidas, sejam da hotelaria ou do
alojamento local.
Como
ressalva, a título de honestidade intelectual, manifestei-me contra
esta medida.
Li há pouco na imprensa
que, com o resultado desta taxa, vai ser reconstruido um palácio na
zona da capital.
Pergunto:
por que não fazer o mesmo em Coimbra? Isto é, pretendendo ser
Coimbra uma cidade turística de excelência mundial, por que não
aplicar a mesma taxa a quem nos visita? E, repetindo, que as verbas
resultantes, em percentagem, fossem distribuídas para a recuperação
de vários monumentos. Quero dizer que, com regras claras e sem saco
azul, uma fatia desta riqueza deveria ser sempre empregue no
monumento que mais receita gera e lhe dá origem.
Não chega afirmar que a
Universidade de Coimbra está a fazer um bom trabalho -como
recentemente foi afirmado num debate. Em nome do bom-senso, em
balanço de três anos de classificação pela UNESCO, é preciso
inventariar o que foi feito até agora e que deve ser melhorado -sabe-se que a Câmara Municipal de Coimbra, proximamente, vai publicar o resultado de um questionário feito aos turistas que nos visitam. É acertado e um primeiro passo. Aguardemos.
Sobretudo no turismo, por ser internamente uma área dinâmica mas sempre dependente de factores externos, está subordinado à instabilidade securitária de países concorrentes, por conseguinte, é importante que esteja permanentemente a ser observada a sua evolução. Para isso mesmo existe no Governo a pasta de Secretária de Estado, no caso, da responsabilidade de Ana Mendes.
Sobretudo no turismo, por ser internamente uma área dinâmica mas sempre dependente de factores externos, está subordinado à instabilidade securitária de países concorrentes, por conseguinte, é importante que esteja permanentemente a ser observada a sua evolução. Para isso mesmo existe no Governo a pasta de Secretária de Estado, no caso, da responsabilidade de Ana Mendes.
Com
muita pena por não ser politicamente correcto, não embarco na
tradicional frase feita de que tudo está bem e recomenda-se. Coimbra, apesar de melhor, continua a sofrer de raquitismo e merece mais. E quando escrevo que merece mais, englobo também os
operadores, incluindo comerciantes e hoteleiros, que, em nome de um
transcendente serviço social para a comunidade, têm de perder o
egoísmo que se traduz no “se não tenho movimento ao Sábado de
tarde estou encerrado”. Olhando para a Natureza, primeiro é
preciso semear e só depois vem a colheita. Se queremos construir uma
cidade melhor, cabe a cada um de nós exigir mas também contribuir
com um pequeno esforço. Temos, todos, de deixar de acreditar que a
solução dos nossos problemas reside unicamente na entidade que
superintende.
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