terça-feira, 26 de julho de 2016

FALECEU CUNHA ROCHA

(Deixo esta minha composição em elegia ao mestre)




Pelas 11h00, faleceu hoje, no Hospital de Leiria, Cunha Rocha, um dos maiores artistas nacionais das artes plásticas. Com obra reconhecida espalhada pelo mundo inteiro, desde a América, passando pelo Canadá e Brasil, até à Austrália, Rocha foi sempre um apaixonado por Coimbra -nasceu na Rua Fernandes Tomás, número 34, já lá vão 84 anos. Era ali, naquela casa humilde que a sua mãe, Florinda da Silva Pratas, amassava, cozia e depois vendia, aos cafés Nicola, Central, Briosa e outros, as melhores arrufadas de Coimbra de todos os tempos.
Em 1944, com 12 anos, começou a trabalhar com o Vasco Berardo -um outro grande vulto da pintura e escultura coimbrã. A sua primeira exposição foi em 1956, na desaparecida galeria d’O Primeiro de Janeiro, na Rua Ferreira Borges. Nesta altura, assinava “Achor Anhuc”, que era o seu nome invertido, para lhe dar um certo ênfase estrangeiro. Depois rubricou as suas obras com “António Rocha” e só mais tarde passou a marcar todos os seus trabalhos com “Cunha Rocha”, nome que ficaria para sempre gravado para a posteridade.
Em 1966, já consagrado pintor de artes plásticas, em busca de uma vida melhor, partiu para o Canadá. Depois de nove anos neste país norte-americano foi para o Brasil. Aqui, na ex-colónia portuguesa, o seu mérito artístico viria a ser reconhecido com uma medalha de ouro e outra de prata. Regressou a Coimbra em 1978. Nesta época, por acaso fortuito, em namoro de ocasião, foi para a praia da claridade, Figueira da Foz, onde, na areia, enterrou para sempre o coração em promessa de amor eterno. Na companhia da sua paixão de vida, a esposa Isabel, fez da cidade-praia o seu berçário e uma das razões do seu viver.
A última exposição deste grande pintor ocorreu em Coimbra em 2013, na Praça do Comércio. Nessa altura, tive o privilégio de o entrevistar para o jornal O Despertar. Padecente de um edema pulmonar que lhe atrofiava as vias respiratórias há vários anos, Cunha Rocha foi sempre um resignado à sua dor. Sofria em silêncio. Era capaz de fazer tudo pelo seu amigo. Não se interessava pelos bens materiais. “Embrulhava-se completamente nas causas sociais e sentia o sofrimento alheio na sua própria alma” nas palavras de Isabel, a sua esposa.
Em jeito de crítica, Coimbra foi sempre madrasta para os seus artistas. Naturalmente que Cunha Rocha não poderia fugir à sina desta cidade sem reconhecimento.
Amanhã, quarta-feira, pelas 10h00, o seu corpo estará presente para velório na capela do Crematório da Figueira da Foz. Pelas 15h00, será a missa de corpo-presente e uma hora depois, pelas 16h00, seguir-se-á a cerimónia de cremação.
À Isabel Mora, a esposa e dedicada companheira, e restante família, nesta hora de profunda dor, em nome da cidade -se posso escrever assim-, em nome da Baixa, os nossos sentidos pêsames. Embora o génio prolixo e vasta obra pictórica o recorde até à eternidade, foi-se um de nós. Até sempre, amigo Cunha Rocha.

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