(Deixo esta minha composição em elegia ao mestre)
Pelas
11h00, faleceu hoje, no Hospital de Leiria, Cunha Rocha, um dos
maiores artistas nacionais das artes plásticas. Com obra reconhecida
espalhada pelo mundo inteiro, desde a América, passando pelo Canadá
e Brasil, até à Austrália, Rocha foi sempre um apaixonado por
Coimbra -nasceu na Rua Fernandes Tomás, número 34, já lá vão 84
anos. Era ali, naquela casa humilde que a sua mãe, Florinda da Silva
Pratas, amassava, cozia e depois vendia, aos cafés Nicola, Central,
Briosa e outros, as melhores arrufadas de Coimbra de todos os tempos.
Em 1944, com 12 anos,
começou a trabalhar com o Vasco Berardo -um outro grande vulto da
pintura e escultura coimbrã. A sua primeira exposição foi em 1956, na
desaparecida galeria d’O Primeiro de Janeiro, na Rua Ferreira
Borges. Nesta altura, assinava “Achor Anhuc”, que era o
seu nome invertido, para lhe dar um certo ênfase estrangeiro. Depois
rubricou as suas obras com “António Rocha” e só mais tarde
passou a marcar todos os seus trabalhos com “Cunha Rocha”, nome
que ficaria para sempre gravado para a posteridade.
Em 1966, já consagrado
pintor de artes plásticas, em busca de uma vida melhor, partiu para
o Canadá. Depois de nove anos neste país norte-americano foi para o
Brasil. Aqui, na ex-colónia portuguesa, o seu mérito artístico
viria a ser reconhecido com uma medalha de ouro e outra de prata.
Regressou a Coimbra em 1978. Nesta época, por acaso fortuito, em
namoro de ocasião, foi para a praia da claridade, Figueira da Foz,
onde, na areia, enterrou para sempre o coração em promessa de amor
eterno. Na companhia da sua paixão de vida, a esposa Isabel, fez da
cidade-praia o seu berçário e uma das razões do seu viver.
A
última exposição deste grande pintor ocorreu em Coimbra em 2013,
na Praça do Comércio. Nessa altura, tive o privilégio de o
entrevistar para o jornal O Despertar. Padecente de um edema pulmonar
que lhe atrofiava as vias respiratórias há vários anos, Cunha
Rocha foi sempre um resignado à sua dor. Sofria em silêncio. Era
capaz de fazer tudo pelo seu amigo. Não se interessava pelos bens
materiais. “Embrulhava-se completamente nas causas sociais e
sentia o sofrimento alheio na sua própria alma” nas palavras
de Isabel, a sua esposa.
Em jeito de crítica,
Coimbra foi sempre madrasta para os seus artistas. Naturalmente que
Cunha Rocha não poderia fugir à sina desta cidade sem
reconhecimento.
Amanhã, quarta-feira,
pelas 10h00, o seu corpo estará presente para velório na capela do
Crematório da Figueira da Foz. Pelas 15h00, será a missa de
corpo-presente e uma hora depois, pelas 16h00, seguir-se-á a
cerimónia de cremação.
À Isabel Mora, a esposa e dedicada companheira,
e restante família, nesta hora de profunda dor, em nome da cidade
-se posso escrever assim-, em nome da Baixa, os nossos sentidos
pêsames. Embora o génio prolixo e vasta obra pictórica o recorde até
à eternidade, foi-se um de nós. Até sempre, amigo Cunha Rocha.
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