quinta-feira, 21 de julho de 2016

BAIXA: COIMBRA É UMA LIÇÃO




A Farmácia Nazareth, a mais antiga da cidade e do país -foi fundada em 1815-, vai sair da Baixa, da Rua Ferreira Borges. Se Adolfo Rocha (Miguel Torga), que era cliente, ainda estivesse entre nós mandava um palavrão que rebentava os tímpanos a muito boa gente.
Segundo informação de alguém que pediu o anonimato e que sabe do que fala, “o alvará foi vendido há cerca de dois anos e o novo adquirente vai deslocalizar os serviços para a Avenida Afonso Henriques, junto à Escola José Falcão, em Coimbra, até ao fim do ano.”

E O QUE VAI ACONTECER ÀS CENTENÁRIAS INSTALAÇÕES?

Uma coisa se adivinha facilmente, a Baixa vai perder o seu estabelecimento comercial mais antigo e ainda em actividade. Saber o futuro daquele magnífico espaço museólogico é um enigma -para não dizer que é a pergunta de um milhão de euros.
Dizer também que já nada pode evitar uma perda destas -mesmo juntando os cacos- é o óbvio de La Palisse. No entanto -e segundo o meu depoente tal hipótese pode não ser descurada-, no mal menor para a colectividade, poderia, por exemplo, transformar-se o espaço ainda ocupado pela “Pharmacia Nazareth” em museu, sei lá, da Associação Nacional de Farmácias.

E NINGUÉM SE IMPORTA?

Em nome da verdade, é bom dizer que a Câmara Municipal de Coimbra, à luz das directivas europeias concernentes à livre concorrência, nada pode fazer para evitar a transferência para outro local da cidade. Transposto para o ordenamento jurídico nacional, a lei é geral e abstracta.
Porém, a meu ver e já vem de longe, a edilidade faz o que costuma fazer sempre: assobiar para o lado. Faz de conta que nada se passa. Por vezes até se debate, debate, debate e nunca se sabe qual é a cultura de Coimbra. Ainda há dias foi o leilão da insolvente ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, fundada há mais de 150 anos. Na última Assembleia Municipal, de há cerca de duas semanas, Manuel Machado, presidente da autarquia, foi questionado por um deputado sobre o interesse que a Câmara Municipal estava a dar à execução patrimonial. Perante todos, Machado disse mais ou menos isto: a edilidade está a seguir com toda a atenção a venda judicial. Quando for caso disso, faremos exercer o direito de preferência. Até porque a ACIC e a autarquia são parceiros num projecto comum -salvo erro a NOVOTECNA. O leilão da ACIC decorreu nas instalações da Relvinha. Alguém leu alguma coisa nos jornais acerca da intervenção municipal a exercer a preferência na venda?
No entanto, pelo que julgo saber, para evitar o desaparecimento de estabelecimentos emblemáticos antigos, há um instrumento legal em vigor há décadas -pouco utilizado pelas autarquias- que é classificar um espaço patrimonial com a Declaração de Interesse Municipal. Como é de prever, julgo, é um processo moroso que, implicando a concordância de várias entidades, leva tempo e até se obter luz verde não nos doa a cabeça. 
Como foi anunciado há dias na imprensa, a Câmara Municipal de Lisboa tem em mãos a discussão de um novo Regulamento Municipal para a classificação de "Lojas com História".

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