Já escrevi vários textos sobre o percurso de
vida de Paulo Simões, 49 anos de idade, 37 a trabalhar no comércio. A última crónica
que plasmei aqui, nos primeiros dias do mês passado, contava que o Paulo tinha
acabado de encerrar o seu estabelecimento e a embalar a trouxa e, digo eu, a
tentar esquecer uma história pessoal que foi tudo menos profícua. O Simões
entrou em insolvência particular e empresarial. A sua casa de família um pouco
sua, mesmo ainda propriedade do banco, vai perdê-la. O Paulo está divorciado e
tem dois filhos de guarda partilhada, o que quer dizer que estão ao seu cuidado
durante quinze dias de um mês.
O Simões acabou de falar comigo. Embora
resignado pela sua situação, estava indignado: vai receber da Segurança Social
178,15 euros. O processo já foi deferido mas, passados cerca de trinta dias, ainda não sabe quando lhe vão
pagar.
Às gentes de bem deste país, a uma moralidade e
ética que nos devem acompanhar, agora que estamos na quadra de Natal, pergunto
se acham bem que um homem que trabalhou toda a vida e agora entrou em desgraça,
que fez descontos para esta mesma Segurança Social em seu nome e para
retribuição dos vários funcionários que teve ao seu serviço, quase por esmola,
tenha direito a um denominado RSI, Rendimento Social de Inserção, na
importância de 178,15 euros? É de justiça? É justo que, perante os nossos
olhos, um nosso companheiro só porque o anterior governo, como os antecedentes,
desprezasse toda uma classe empresarial que, por sua conta e risco, promove a
riqueza nacional? É legítimo que um governo, tentando ganhar eleições à custa
de incautos, promulgue uma lei e depois da norma entrar em vigor dê ordens
aos serviços competentes para que, no enquadramento, não a execute? O anterior executivo PSD/CDS, em
paradigma, foi o pior exemplo que se pode dar a uma classe trabalhadora. Nunca
até aqui nenhum ministério fora tão longe. Ou seja, prometeu corrigir uma
iniquidade, promulgou a lei adjectiva, que lhe dava suporte, e, numa hipocrisia
escandalosa, congelando a sua própria ordenação, deu ordens aos serviços
sociais para não atribuir o necessário subsídio de desemprego a qualquer
requerente.
Este novo Governo do Partido Socialista, com
António Costa à frente, se de facto é um executivo pró social, que está atento
e tem por missão corrigir as incoerências que anterior gerou e abandonou, tem
de honrar os compromissos assumidos pelo Estado. Em nome da dignidade de uma
classe, está obrigado a retirar da pobreza extrema pessoas como o Paulo Simões,
que se encontra na mais pura das indigências. Em nome da justiça social, é um
imperativo categórico*.
Um país que (mal)trata assim os seus cidadãos –e
os coloca em paridade com aqueles que nada fizeram para erguer esta Nação- é um
Estado falhado que não merece respeito. E os seus governantes que, a coberto de
uma hipocrisia reinante assim procederem, continuarem na mesma linha são uns
bandalhos, uns escroques que não representam os votos dos eleitores, que
exercendo o acto, numa esperança viva, esperam uma melhor condição de vida.
Em nome da decência, em nome da
sensibilidade social, para que não sejam palavras vazias, haja consideração.
*Texto enviado para um deputado da nova maioria de esquerda.
*Crónica também enviada para o programa "Sexta às 9", da RTP.
*Texto enviado para um deputado da nova maioria de esquerda.
*Crónica também enviada para o programa "Sexta às 9", da RTP.
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