terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA

(Foto de Márcio Ramos)



TEXTO ESCRITO A QUATRO MÃOS.
POR MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES


Há em Coimbra vários centros comerciais. Embora alguns no centro de Coimbra estejam às moscas, como o Avenida, o Visconde, o Mayflower, outros, fora da cidade velha, parecem autênticas cidades dentro de outra cidade, é caso do Dolce Vita, Coimbra Shopping e Fórum.
Estamos perto de uma altura mítica do ano que, embora de objectivo paganístico, é um período de santidade para o comércio e indústria hoteleira: o Natal e Passagem de Ano.
Na televisão já há muito tempo que se vêem anúncios da quadra natalícia. As grandes superfícies já estão engalanadas para esta época festiva e as suas lojas  igualmente há mais de um mês. Embora fossem inauguradas as luzes no último fim-de-semana no maior centro comercial de Coimbra, a Baixa,  seguindo o costume de anos anteriores, parece que o espírito do menino Jesus  se atrasou. É verdade que a maioria dos lojistas tradicionais sente o desânimo e muitas vezes nem vontade tem de ornamentar a sua loja  para a festa que se avizinha, mas, apesar disso, já vou vendo alguns estabelecimentos decorados. Embora as grandes áreas comerciais da cidade andem muito à frente nas ornamentações, a Baixa, como é hábito, anda ao ralenti e pouco se vê, cheira ou sente –porque a cidade tem cheiro, tem emoção, tem vida.
Já vi as luzes nas ruas e o programa de Natal e Passagem de Ano. Pergunto: que género de luzes? Esta zona comercial deveria ser totalmente adornada com decorações festivas para a fazer renascer das cinzas -sim, porque a Baixa está muito em baixo. No entanto, só  três artérias, as Ruas Ferreira Borges, a Visconde da Luz e a Sofia –esta como enteada das primeiras-, as mais largas, são engalanadas  e algumas pracetas. E, seguindo a tradição de anos anteriores, provavelmente quando os  comerciantes tentarem dar mais luz ao centro comercial a céu aberto metendo uns vasos decorativos,  uns pequenos arbustos a lembrar a quadra, iniciativas que animem as vias públicas, levam uma multa para os remeter à quietude. Ou seja, em metáfora é como se o Paço Municipal, senhor intemporal, passe a mensagem de que se não  iluminar  as artérias nenhum dono de loja tem o direito de alindar a sua porta. Há qualquer coisa que não bate certo. Não deveria ser o contrário? Não deveria ser obrigação? Isto é, convidar todos, através de postura municipal a comparticiparem no embelezamento? Até porque, nos becos e pracetas os candeeiros de iluminação pública estão de tal maneira conspurcados que não irradiam luz alguma.
Nas ruelas mais estreitas, as únicas luzes de Natal que foram colocadas foi um pequeno painel. Do ponto de vista da equidade estará certo? Não são todos filhos de Deus? A verba não provém do mesmo fundo, o erário público? O argumento de que a cavalo dado não se olha o dente –no sentido de que é a edilidade que assume os custos- não cola. Não há cuspo que aguente tamanho despautério. O acto simbólico de trazer o Pai Natal num carro de bombeiros é pouco. Muito pouco! Pouquíssimo! É atirar milho para entreter os galináceos.
Acho bem que se comemore na Baixa a Passagem de Ano. Mas, a complementar, durante esta época festiva todas as ruas comerciais e praças deveriam estar carregadas de espírito natalício, bem iluminadas, e até com música alusiva à época.
Não deveria haver bloqueios aos comerciantes. A edilidade, pelo menos nesta altura, deveria mostrar solidariedade e dar um sinal de paz e concórdia.
Vai haver vários concertos mas esqueceram a música clássica tão indicada para o mês do nascimento de Jesus. Porque não toma a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, a iniciativa de realizar uma Noite Branca com teatro de rua, um presépio vivo, referente ao Natal?
Pressinto que este ano a Câmara Municipal se desligou de contribuir para a revitalização comercial. Se a intenção é, neste preceito, mostrar que o executivo liderado pelo PS é muito pior do que o anterior dirigido pelo PSD estamos conversados e todos convencidos de que assim é, de facto.
Quando se visiona na Internet outras cidades e vilas do país  a resplandecerem de luz e cor -e não me refiro somente ao Porto ou a Lisboa-, onde dá prazer percorrer as ruas, passear e apreciar o encanto e a mágica do tempo, Coimbra perdeu o comboio, o metro, e segue de bicicleta –penso que não terá nada a ver com a cimeira do clima.
Sentados e a rezar à padroeira, continuamos à espera de um executivo aberto, que desça do pedestal e, de peito aberto, entre nas lojas e venha falar com os comerciantes- é certo que há excepções no grupo de vereadores eleitos, mas são residuais.
A Baixa tem tudo para competir com os grandes centros comerciais. Porém, numa tradição indecorosa, está abandonada à sua sorte pelo poder autárquico. É uma pena! Ou melhor, é uma tragédia que custa muito caro a muitas famílias que fazem da arte da compra e venda o seu modo de vida.


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