(Foto de Márcio Ramos)
TEXTO ESCRITO A QUATRO MÃOS.
POR MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES
Há em Coimbra vários centros comerciais. Embora
alguns no centro de Coimbra estejam às moscas, como o Avenida, o Visconde, o
Mayflower, outros, fora da cidade velha, parecem autênticas cidades dentro de
outra cidade, é caso do Dolce Vita, Coimbra Shopping e Fórum.
Estamos
perto de uma altura mítica do ano que, embora de objectivo paganístico, é um
período de santidade para o comércio e indústria hoteleira: o Natal e Passagem
de Ano.
Na
televisão já há muito tempo que se vêem anúncios da quadra natalícia. As grandes
superfícies já estão engalanadas para esta época festiva e as suas lojas
igualmente há mais de um mês. Embora fossem inauguradas as luzes no último
fim-de-semana no maior centro comercial de Coimbra, a Baixa, seguindo o
costume de anos anteriores, parece que o espírito do menino Jesus se
atrasou. É verdade que a maioria dos lojistas tradicionais sente o desânimo e muitas
vezes nem vontade tem de ornamentar a sua loja para a festa que se avizinha,
mas, apesar disso, já vou vendo alguns estabelecimentos decorados. Embora as
grandes áreas comerciais da cidade andem muito à frente nas ornamentações, a
Baixa, como é hábito, anda ao ralenti e pouco se vê, cheira ou sente –porque a
cidade tem cheiro, tem emoção, tem vida.
Já vi as luzes nas ruas e o programa de
Natal e Passagem de Ano. Pergunto: que género de luzes? Esta zona comercial
deveria ser totalmente adornada com decorações festivas para a fazer renascer
das cinzas -sim, porque a Baixa está muito em baixo. No entanto, só três artérias,
as Ruas Ferreira Borges, a Visconde da Luz e a Sofia –esta como enteada das
primeiras-, as mais largas, são engalanadas e algumas pracetas. E,
seguindo a tradição de anos anteriores, provavelmente quando os
comerciantes tentarem dar mais luz ao centro comercial a céu aberto metendo uns
vasos decorativos, uns pequenos arbustos a lembrar a quadra, iniciativas
que animem as vias públicas, levam uma multa para os remeter à quietude. Ou
seja, em metáfora é como se o Paço Municipal, senhor intemporal, passe a
mensagem de que se não iluminar as artérias nenhum dono de loja tem
o direito de alindar a sua porta. Há qualquer coisa que não bate certo. Não
deveria ser o contrário? Não deveria ser obrigação? Isto é, convidar todos,
através de postura municipal a comparticiparem no embelezamento? Até porque,
nos becos e pracetas os candeeiros de iluminação pública estão de tal maneira
conspurcados que não irradiam luz alguma.
Nas ruelas mais estreitas, as únicas luzes
de Natal que foram colocadas foi um pequeno painel. Do ponto de vista da
equidade estará certo? Não são todos filhos de Deus? A verba não provém do
mesmo fundo, o erário público? O argumento de que a cavalo dado não se olha o dente –no sentido de que é a edilidade
que assume os custos- não cola. Não há cuspo que aguente tamanho despautério. O
acto simbólico de trazer o Pai Natal num carro de bombeiros é pouco. Muito
pouco! Pouquíssimo! É atirar milho para entreter os galináceos.
Acho bem que se comemore na Baixa a Passagem
de Ano. Mas, a complementar, durante esta época festiva todas as ruas
comerciais e praças deveriam estar carregadas de espírito natalício, bem
iluminadas, e até com música alusiva à época.
Não
deveria haver bloqueios aos comerciantes. A edilidade, pelo menos nesta altura,
deveria mostrar solidariedade e dar um sinal de paz e concórdia.
Vai haver vários concertos mas esqueceram a
música clássica tão indicada para o mês do nascimento de Jesus. Porque não toma
a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, a iniciativa de realizar
uma Noite Branca com teatro de rua, um presépio vivo, referente ao Natal?
Pressinto que este ano a Câmara Municipal se
desligou de contribuir para a revitalização comercial. Se a intenção é, neste
preceito, mostrar que o executivo liderado pelo PS é muito pior do que o
anterior dirigido pelo PSD estamos conversados e todos convencidos de que assim
é, de facto.
Quando se visiona na Internet outras
cidades e vilas do país a resplandecerem de luz e cor -e não me refiro somente
ao Porto ou a Lisboa-, onde dá prazer percorrer as ruas, passear e apreciar o
encanto e a mágica do tempo, Coimbra perdeu o comboio, o metro, e segue de
bicicleta –penso que não terá nada a ver com a cimeira do clima.
Sentados e a rezar à padroeira, continuamos
à espera de um executivo aberto, que desça do pedestal e, de peito aberto, entre
nas lojas e venha falar com os comerciantes- é certo que há excepções no grupo
de vereadores eleitos, mas são residuais.
A Baixa tem tudo para competir com os
grandes centros comerciais. Porém, numa tradição indecorosa, está abandonada à
sua sorte pelo poder autárquico. É uma pena! Ou melhor, é uma tragédia que
custa muito caro a muitas famílias que fazem da arte da compra e venda o seu
modo de vida.
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