quinta-feira, 10 de junho de 2021

MEALHADA: O QUE FAZ FALTA PARA ANIMAR A MALTA? (4)

  



Nesta altura de pré-eleições autárquicas, em que os partidos e movimentos concorrentes à Câmara Municipal de Mealhada procuram novas ideias para apresentarem aos seus eleitores, penso que faz sentido, na linha da cidadania activa, pensarmos, individualmente mas destinado ao colectivo, o que, de facto, nos faz falta e é preciso implementar no futuro.

Não tenhamos medo de cair no ridículo. Não tenhamos receio de pedir o impossível. Afinal, na nossa condição de munícipe e eleitor, o nosso papel na sociedade é apontar defeitos ou omissões e apresentar soluções. Se é exequível? Bom, isso já não nos cabe avaliar. Quem governar a autarquia nos próximos quatro anos, se estiver disposto a correr riscos, experimentará e retirará dessa experiência uma ilação.

Esta minha publicação, a qual outras se seguirão, vão nessa direcção. A minha intenção, para além de apresentar propostas, é também despoletar em si, leitor, a possibilidade de pensar. Afinal, esta é a nossa terra, que será o resultado daquilo que nós defendermos e estivermos prontos a dar por ela; o nosso Concelho, aquela junção de lugares que juntos formam uma espécie de arquipélago de pontos habitados com a sua identidade muito sua e personalizada que os diferencia dos demais.


CENTRO DE MESTERES ANTIGOS – ARTES & OFÍCIOS TRADICIONAIS


Por ter várias peças de valor museológico e que seria cedido por empréstimo à autarquia, em Junho de 2008 apresentei este ante-projecto à Câmara Municipal de Mealhada. Por razões que pouco interessam agora, não lhe foi dada grande atenção. Se é certo que muita água já passou por baixo das pontes, é também certo que, devido ao desaparecimento acelerado de cada vez mais actividades comerciais, industriais e de usos e costumes, na minha modesta opinião, cada vez mais faz sentido haver uma certo equilíbrio projectado numa memória tangível entre os tempos antigos e hodiernos. Sobretudo pelas crianças de hoje e homens de amanhã, é absolutamente necessário manter a memória viva. Se o cidadão comum, quer pela apatia e desligamento de modorra como olha para a cultura, quer pela falta de possibilidades financeiras, dificilmente pegará numa ideia destas, o ensejo, a haver vontade, caberá por inteiro a uma câmara municipal.

Por um lado, por ter começado a escrever este lote de ideias (megalómanas?), por outro, pelo facto de a Câmara Municipal de Mealhada estar em vias de adquirir o edifício “Urbiluso” e ter pedido ideias para implementar na sua nova funcionalidade, achei por bem trazer à liça este meu plano arrumado no fundo de uma gaveta há treze anos e já com um cheirito a mofo.

Mas, afinal, do que se trata? Mostre lá isso, que o tempo continua a avançar – pareceu-me ouvir alguém interrogar.

Está bem, não vou perder mais tempo com explicações acessórias.


UMA CATEDRAL DE VENDAS COM ATMOSFERA ANTIGA


Por momentos, imagine o leitor estar a entrar numa das duas médias superfícies instaladas na Mealhada. Transpõe a porta e, perante os seus olhos, depara-se uma vivência recuada entre 50 e 100 anos. Como se penetrasse num túnel do tempo, deparam-se-lhe vendedeiras de hortaliças com lenços na cabeça e saias compridas. Os vendedores de outras lojas, com mobiliário retro, vestem batas cinzentas – salienta-se que bastava transferir os vendedores do actual mercado do Luso.

Os estabelecimentos representativos de memória instalados no piso térreo seriam uma mercearia, montada com mobiliário de época e instrumentos correspondentes, com venda de produtos endógenos da região,incluindo, enchidos, o pão e o leitão.

Um pequeno café com mobiliário de 1950, aproximadamente.

Um forno em que fosse cozido o tão famoso pão da Mealhada; um forno para assar leitão; um moinho representativo para moer farinha.

Uma loja de Velharias e antiguidades; um barbeiro; um sapateiro; uma costureira/modista; um ceramista a trabalhar em barro e pintor de louça ; um vendedor de plantas e mezinhas; um técnico de rádios antigos; uma secção para cesteiro/empalhamento em vime; uma secção para artesanato.

Ainda no piso térreo e zona envolvente, poderia realizar-se uma feira de velharias e artesanato uma vez por mês, ao Domingo.

No andar superior, com entrada destes materiais pesados pela rua lateral, poderiam ser instaladas outras actividades, como, por exemplo, um carpinteiro/marceneiro e restauro de móveis com ferramentas antigas expostas; um construtor de instrumentos musicais; um salão de jogos de meados do século XX; um homem a trabalhar em ferro; um tanoeiro; um latoeiro – tenho noção que algumas destas profissões já será difícil arranjar mestres.

Ainda no andar superior, deveria ser disponibilizada uma sala para aulas sobre artes e ofícios tradicionais; uma sala para um grupo de folclore; uma sala para o ensino de teatro; uma sala para escuteiros.

Muitas profissões em desaparecimento, como exemplo, o vendedor de banha da cobra, e jogos tradicionais, como exemplo, o saltar ao cavalinho, seriam teatralizadas com apresentação ao Domingo pelos grupos folclóricos e alunos de teatro.

Ao longo da semana seriam realizados workshopps, cursos rápidos, pós-laboral, sobre várias temáticas, mas sempre sobre artes em desaparecimento.

Os valores a pagar pelos operadores residentes seriam de acordo com a autoridade fiscal e, por parte da edilidade, com a mesma filosofia do actual mercado de Luso.

A ideia de projecto, a haver concretização, era trazer ao Luso, em excursão, muitos alunos de todo o país durante todos os dias da semana.

Seria um museu essencialmente interactivo onde os visitantes, incluindo crianças, poderiam interagir com os expositores.

Como ressalva, é lógico que deixei apenas um cheirinho do plano.

Valerá a pena pensar nisto?


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