(Imagem retirada, com a devida vénia, do Jornal da Bairrada)
Num
tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer
melhor os candidatos à Câmara Municipal da Mealhada nas próximas
eleições autárquicas, em Outubro, em nome da página Mealhadenses
que Amam a sua Terra, propomos aos participantes já conhecidos – e
mais tarde a outros que se apresentem a concurso – responderem a
algumas questões que consideramos elementares. Depois de Hugo Alves
Silva, António Jorge Franco, apresentamos agora João José Pereira
Marques, candidato à Câmara Municipal da Mealhada pela CDU,
Coligação Democrática Unitária. Com 46 anos, habita na
Pampilhosa. É Licenciado em Matemática, ramo de Formação
Educacional, Licenciado em Informática - via Ensino e Mestre em
Administração e Organização Escolar. É Professor de Matemática
do 3.º ciclo e secundário do quadro do Agrupamento de Escolas José
Saramago - Poceirão - Palmela. Atualmente é Diretor Pedagógico de
uma escola particular. É membro do PCP. Foi eleito recentemente para
a Direção do Sindicato dos Professores da Região Centro. Foi
presidente da Direção do CAPP - IPSS da Pampilhosa.
Mealhadenses
que Amam a sua Terra (MAST): Como é o João Pereira Marques no
dia-a-dia?
João
Pereira Marques (JPM):
O
meu dia-a-dia é parecido com o de muitos professores que trabalham
longe da sua zona de residência.
Dou
aulas a 200 km de casa. Espero que o próximo concurso de
professores, de que estou a aguardar pelo resultado, me traga para
mais próximo.
Para
além da minha atividade profissional, procuro envolver-me o mais
possível na vida da comunidade do meu local de residência.
Fui
dirigente associativo durante muitos anos no setor social e, mais
recentemente, estou envolvido no movimento sindical e no movimento
associativo do setor cultural.
Procuro
ainda usufruir do tempo em família.
No
pouco tempo livre que me resta durante a semana, procuro ir tendo
tempo para ler e usufruir da oferta cultural de Lisboa.
MAST:
Tendo em conta que o PS, a partir de 1982, ganhou sempre com maioria,
leva-nos a pensar que o Concelho da Mealhada, tendencialmente, é de
ideologia de esquerda. A ser assim, como entende que o último
vereador comunista eleito para a Câmara fosse em 1985 através da
APU, Aliança Povo Unido?
É
verdade, o Concelho da Mealhada tem maioria Partido Socialista desde
1982.
O
último vereador eleito em listas do Partido Comunista foi eleito em
1985, curiosamente o Sr. Vereador eleito nas listas da APU, foi
depois eleito vereador e presidente da Câmara Municipal da Mealhada
em listas do Partido Socialista e é hoje um dos mentores de um
movimento independente candidato aos órgãos autárquicos.
A
nossa intervenção não se esgota na apresentação de quatro em
quatro anos de listas aos órgãos autárquicos.
A
nossa participação faz-se com os nossos eleitos nas assembleias de
freguesia e com os nossos eleitos na assembleia municipal.
Sempre
que necessário e ainda que não tenhamos nenhum deputado eleito à
Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Aveiro,
solicitamos a intervenção dos nossos deputados, em prol dos
trabalhadores e do povo.
Procuramos
preparar de forma muito participada as nossas intervenções e a
nossa presença em todos os órgãos autárquicos.
Reforço
que a intervenção da CDU não se esgota em atos eleitorais,
entendemos que o nosso papel é intervir de forma continuada junto
das populações, na auscultação dos seus anseios e preocupações,
honrando assim, o poder local, uma das muitas conquistas da Revolução
de Abril de 1974.
MAST:
A dificuldade em eleger um vereador comunista no executivo local a
que se deve? Será que os eleitores do Concelho, 48 anos depois da
queda do Antigo Regime, ainda têm medo dos comunistas? Será que a
CDU/Mealhada, por incompetência, por falta de ambição política,
por impossibilidade de dar a volta à retórica histórica, não fala
a mesma linguagem popular e, por isso mesmo, não consegue fazer
passar a mensagem?
JPM:
Somos
uma candidatura que se assume, sem medo e sem vergonha. Somos uma
candidatura assumidamente ideológica e que no seu trabalho
autárquico não escamoteia a ideologia que está na sua base.
Nesse
sentido, orgulhamo-nos do património de gestão autárquica da CDU,
que apresenta inúmeros exemplos, um pouco por todo o país, da sua
honestidade e competência na gestão autárquica.
Assumimos
as nossas convicções que dão corpo aos nossos projetos.
Centramos
a nossa intervenção, também ao nível autárquico, nos problemas e
nas aspirações das populações.
MAST:
Sendo comunista de convicção e liderando uma candidatura que visa a
eleição, vai ser criativo na campanha eleitoral? O que vai
apresentar de novo para convencer os eleitores?
JPM:
Iremos
procurar apresentar as nossas propostas em contacto direto com as
populações de cada uma das freguesias. Continuamos a privilegiar,
com todos os constrangimentos do momento pandémico que vivemos, o
contacto freguesia a freguesia, rua a rua, porta a porta.
Não
ignoramos a importância dos novos meios e as redes de comunicação
atual. Também nesses espaços estaremos presentes para apresentar as
nossas propostas.
E
sublinhamos para nós a apresentação das nossas propostas. É nelas
que iremos centrar a nossa campanha.
Procuraremos,
com as nossas limitações materiais, fazer chegar as nossas
propostas a todos.
A
qualidade coletiva das nossas listas permite-nos aspirar ao aumento
do número de eleitos.
Mas
o nosso trabalho não terminará no dia das eleições. O nosso
coletivo continuará a seguir às eleições a estar ao lado das
populações, procurando em todos os momentos intervir na promoção
da qualidade de vida e da justiça social.
MAST:
Um pouco rebuscado, elencado em quatro prioridades, aquando da
comunicação pública dos candidatos, a CDU apresentou o Manifesto
Eleitoral a traçar as linhas mestras para o concelho. De todas,
quais considera prioritárias?
JPM:
A
nossa prioridade sempre é melhorar a vida das populações.
Também
ao nível autárquico preocupamo-nos com a justiça social.
Procuramos
criar melhores condições de vida para todos, nas aldeias e vilas do
concelho da Mealhada.
Assim,
a CDU continuará a insistir na necessidade de criação de uma rede
de transportes públicos que permita servir melhor as populações
das vilas e aldeias no acesso, nomeadamente à sede do concelho, com
preocupações ecológicas e de sustentabilidade.
A
melhoria da Mobilidade dentro do Concelho permitirá a melhoria da
qualidade de vida de todos e potenciar a utilização das
infraestruturas já existentes e de outras a criar.
Temos
hoje graves problemas de habitação.
Casas profundamente
degradadas e falta de oferta para jovens que queiram fixar-se no
concelho.
A Câmara Municipal pode e deve ter também neste
âmbito uma ação mais presente e interventiva.
É
preciso fazer muito mais e melhor.
Existem
hoje fundos dirigidos para a reabilitação de casas. É preciso,
também a este nível, não perder oportunidades para melhorar a vida
das nossas populações.
Por
outro lado, é necessário um plano de construção de habitação a
custos controlados que permita atrair e fixar jovens, no concelho.
Com políticas de integração ativa. Com políticas ativas de
envolvimento na comunidade de todos e cada um. Com políticas ativas
de promoção da cultura, do desporto do associativismo.
Em
terceiro lugar uma aposta no desenvolvimento sustentável.
Vivemos
num concelho rural, cujo potencial agrícola está muito longe de ser
eficazmente rentabilizado. Também aqui a inação da Câmara
Municipal não permite que se avance.
O
executivo camarário parece não ter quaisquer estratégias para o
setor.
Sabemos
hoje que é urgente diminuir a pegada ecológica dos nossos
alimentos.
A
diminuição da pegada ecológica dos nossos alimentos só se faz
encurtando os circuitos de produção distribuição e consumo. Isso
exige uma aposta na pequena e média agricultura de proximidade.
Todos
ganham e o planeta agradece.
Também
aqui é necessário estar atento e ser proactivo na mobilização dos
apoios financeiros disponíveis para este sector.
Assim
é necessário que concretizemos projetos de regadio, é urgente que
se projete a realização do emparcelamento e que se promova a
instalação de jovens agricultores e a dinamização dos mercados
com estratégias de promoção do consumo local.
Propomos
a criação de um gabinete próprio para ajudar os agricultores a
aceder aos fundos com o compromisso de aproveitar todas as
oportunidades do próximo quadro comunitário de apoio.
É
necessário que saibamos valorizar os ativos de enorme valor do nosso
município. Também no sector agrícola é necessário fazer mais e
melhor, promovendo o desenvolvimento económico.
Outra
prioridade será a criação de um plano específicos de valorização
do Complexo Termal do Luso e Mata Nacional do Buçaco.
Contra
a nossa vontade, as águas do Luso estão hoje na posse de uma
empresa multinacional. A sua sede da empresa deixou sequer de estar
no Luso e não sabemos o seu futuro.
Infelizmente,
por responsabilidade do Partido Socialista (mas não só), aqui e no
governo, não se acautelou o interesse público.
É
muito importante a valorização do Complexo Termal do Luso, pela sua
centralidade na economia da freguesia do Luso e do Concelho. Esta
valorização deve ser conjugada com o investimento público na Mata
Nacional do Bussaco. Pela sua importância como espaço público do
Concelho, Região e do País. Pela sua importância para o
desenvolvimento sustentável. Pela sua importância para a
conservação das espécies. Como espaço estatal de promoção da
biodiversidade. Pela sua importância como espaço adjacente às
termas do Luso.
A
Mata Nacional do Bussaco deve ser um espaço central para a promoção
da qualidade de vida no Concelho e Região. Para isso é necessário
investir na sua manutenção e salvaguarda, dotando-a dos recursos
humanos necessários para a limpeza e valorização das suas
infraestruturas, mas também na promoção adequada das visitas
turísticas, na sua utilização enquanto espaço educativo.
Para
o desenvolvimento económico do Concelho é também fundamental que
se avance para a certificação do Leitão da Bairrada.
Esse
é também um dos nossos compromissos.
Avançar,
juntamente com os agentes económicos, para a certificação do
leitão da Bairrada.
É
uma marca central da economia local. Precisa de ser devidamente
protegida e valorizada.
Este
projeto, de enorme importância, pode dinamizar todo o setor
agropecuário, privilegiando os modos de produção sustentáveis e
apostando na pequena e média agricultura.
MAST:
A Câmara da Mealhada, do ponto de vista financeiro, é das poucas a
nível nacional que, para além de ter uma almofada financeira de
cerca de 8 milhões de euros em depósitos a prazo, encerrou 2020 sem
dívidas a fornecedores. Se for eleito para presidir os destinos dos
mealhadenses, vai manter a mesma política de aforro, ou vai investir
mais em infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do Concelho?
JPM:
A
gestão equilibrada, do ponto de vista financeiro, é fundamental
para que seja possível concretizar os investimentos necessários ao
Concelho.
A
nossa prioridade é a melhoria das condições de vida das
populações.
A
criação de almofadas financeiras não melhora a vida das
populações.
MAST:
Concorda com a decisão de construir uma nova sede concelhia no
montante de 6 Milhões de euros?
Os
munícipes devem ter acesso facilitado a todos os serviços
municipais.
Os
trabalhadores do município devem estar instalados num edifício
adequado, que permita a melhoria das suas condições de trabalho e,
com isso, a prestação de mais e melhores serviços a todos os
cidadãos.
O
atual edifício, pela sua dimensão, obriga a que alguns serviços do
município funcionem em espaços dispersos pela cidade. Esta solução
poderá criar constrangimentos quer aos trabalhadores quer aos
cidadãos que precisam de ver resolvidas as suas questões nos
serviços municipais.
A
nova sede da Câmara Municipal deve ser amplamente discutida quer do
ponto de vista político, quer do ponto de vista técnico. Só assim
se criará uma solução adequada para as próximas décadas.
MAST:
Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o
Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a
apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar.
Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só
a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas
também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património
construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a
gastronomia e os vinhos?
O
concelho deve ser visto como um todo. Só o desenvolvimento integrado
do Concelho é sustentável em termos futuros.
O
Luso e as suas termas são centrais no que respeita à promoção da
atividade turística no Concelho.
A
valorização do Complexo Termal do Luso, como já lhe referi
anteriormente é uma das nossas prioridades.
É muito importante
dar passos consistentes na valorização do património edificado do
Luso.
Para
isso é necessário agir em articulação com os agentes económicos
locais, procurando criar novas dinâmicas de desenvolvimento mais
próximas dos agentes locais. A história tem-nos mostrado que os
“grandes investidores externos” chegam com grandes promessas e
partem deixando grandes desilusões.
A valorização do
complexo termal deve ser conjugada com o investimento público na
Mata Nacional do Bussaco.
Esta
valorização do Luso – Bussaco deve ser articulada com estratégias
muito bem definidas de dinamização das marcas centrais da economia
da Mealhada.
É
aqui que entra, na nossa perspetiva, a certificação do Leitão da
Bairrada.
Esta
certificação é muito importante para o sector da restauração,
mas deve também integrar o setor agropecuário. Deve constituir-se
como fator de desenvolvimento sustentável, dinamizando a pequena e
média agricultura.
Mas
também é muito importante a aposta na cultura, na formação de
públicos, numa oferta de atividades culturais de reconhecida
qualidade.
No
que à cultura diz respeito é necessário apoiar ativamente o
trabalho de todos os agentes culturais do concelho: os grupos de
teatro e as filarmónicas. As associações ligadas ao Carnaval, os
ranchos folclóricos e as associações que localmente desenvolvem um
trabalho de muita qualidade na promoção da cultura e na preservação
da história.
O
concelho tem ao seu dispor, felizmente, espaços culturais de
qualidade. O Cineteatro Messias é um espaço com muita qualidade,
que é necessário utilizar de forma mais participada. É preciso que
as associações ligadas à cultura possam estar presentes neste
espaço municipal.
No futuro próximo também estará
disponível o cineteatro da Pampilhosa. Será com certeza um espaço
e uma associação que, com a sua dinâmica, marcará o futuro
cultural do Concelho.
É
preciso trazer os alunos das escolas a estes espaços para que neles
usufruam, com as suas famílias, de uma oferta cultural diversificada
e de qualidade.
É
preciso criar parcerias com entidades locais, regionais e nacionais
que se traduzam numa oferta cultural diversificada. Que traga os
munícipes à Mealhada ou que vá ao encontro dos munícipes nas
diferentes freguesias.
Que
promova a utilização e a valorização dos espaços públicos. Que
promova a vida em comunidade.
Que
seja fator de melhoria da qualidade de vida.
MAST:
Tenciona combater a desertificação das povoações em redor da
Mealhada? Se sim, de que forma?
JPM:
A
desertificação combate-se melhorando a vida nas aldeias.
Da
oferta de transportes públicos de qualidade, à melhoria dos
arruamentos e à criação de passeios que melhorem a mobilidade
segura de todos.
Combate-se
também melhorando o apoio às associações locais.
MAST:
Fala-se muito em construir habitação social de raiz na cidade. O
que pensa da ideia de, através de uma nova visão partilhada de
repovoamento local, a autarquia adquirir prédios velhos, abandonados
e decrépitos, nas aldeias, restaurando-os e instalando lá pessoas?
JPM:
O
problema da habitação, até pela nossa matriz marcadamente
ideológica, é uma nossa preocupação desde há muito.
A
habitação social é uma proposta nossa de longa data.
A
habitação social não se esgota na construção de edifícios. A
integração de novos agregados seja na cidade, seja nas vilas ou
aldeias do concelho, deve ser sempre acompanhada de processos de
integração cuidada, acompanhada por políticas sociais ativas.
MAST:
Fala-se há muito da vinda da marca Continente para a Mealhada. Tendo
em conta o impacto no comércio já instalado, é a favor ou contra?
JPM:
A
instalação de novos supermercados no concelho deve, em primeiro
lugar, cumprir com todos os requisitos legais.
Nada
nos move contra a instalação desta ou daquela marca.
No
entanto não hesitamos em afirmar que entendemos que o
desenvolvimento da Mealhada não deve fazer-se à custa de salários
baixos.
No
nosso entender a criação de grandes espaços comerciais pode
comprometer a viabilidade económica do comércio local de
proximidade (tem sido este o registo que temos constatado nas ultimas
décadas) e colocar em causa, também, os investimentos municipais
que a Câmara Municipal já fez e pretende vir a fazer em Mercados
Municipais.