(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
“Repetindo,
o prédio em causa está encerrado há cerca de quatro anos.
O
presidente da autarquia, sendo politicamente parte interessada na
revitalização
da Baixa, deve colocar-se ao lado de um estupor que
recorre
à denúncia ou apoiar quem investe e procura retirar o Centro
Histórico
do lodo em que se encontra?”
A
“estória”, por ser tão insignificante, tão tão
miudinha, tão comezinha, conta-se de uma penada. Ontem um
comerciante de uma destas ruas estreitas contratou um operário de
construção civil para reparar o telhado de um prédio recentemente
adquirido em leilão judicial por falência do anterior operador.
Tratava-se de substituir meia-dúzia de telhas e algumas ripas de
suporte que voaram no último temporal, há cerca de duas semanas.
Através
do interior do edifício, durante a manhã o pedreiro foi fazendo o
seu trabalho. O novo proprietário, para afastar e impedir que lixos
vindos do Céu pudessem atingir os transeuntes, colocou quatro travessas
de madeira encostadas à parede, ao alto, e com fitas plásticas às
cores.
Cerca
das 14h30, acompanhado de dois assessores, passou Manuel Machado,
presidente da Câmara Municipal de Coimbra. Parando por momentos em
frente à loja encerrada há cerca de quatro anos, durante escassos
minutos pegou numa das travessas identificadas pelas fitas, falou
qualquer coisa com os acompanhantes e prosseguiu o seu caminho.
Passado meia-hora regressou e voltou a atravessar a via em sentido
inverso, em direcção da Câmara Municipal.
Ainda
os ponteiros do relógio não tinha dado uma volta de meio-círculo e
já um fiscal da autarquia estava a interpelar o comerciante e dono
recente do edifício para indagar do âmbito da “obra ilegal”,
pelos vistos, descrita pelo presidente da edilidade.
Em
face do facto de que se estava perante uma “montanha que pariu
um rato”, o funcionário da fiscalização, ouvindo e
verificando in loco o que se tratava, regressou à sua vida.
ALEGAÇÕES,
PERSPECTIVAS, SILOGISMOS E INTERROGAÇÕES
Alegadamente, sem certeza absoluta, por parte de um residente na zona, terá havido uma denúncia para a
autarquia por obras ilegais.
A ser assim, surgem as primeiras perguntas:
-
Por que razão se desloca pessoalmente o presidente da
edilidade e não delega a missão num funcionário do sector de
obras? O curioso disto é que, durante os últimos anos, raramente se
vê por aqui o eleito pelo PS!
-
Manuel Machado, enquanto político experiente, antes
de “emprenhar pelos ouvidos”, já que veio, não tinha
obrigação de indagar no local, falando com o visado na presumível acusação
torpe, sobre o que estava a fazer?
Ou
o prefeito, fora das campanhas eleitorais, tem receio de falar com o
povo?
-
É verdade ou não que, alegadamente, ao dar crédito a um
denunciante falso e timorato o chefe máximo da edilidade, para além
de estar a promover a cobardia, está a envolver-se directamente e a
sujar as mãos num tipo de massa viscosa colectiva que é preciso
expurgar?
Para
além da carência de humildade, serviço púbico e sentido de
justiça, o que sugere sobrar em arbitrariedade, falta em calo
social e nas relações humanas. Não é o que transparece?
-
Será
que um acto como este do presidente da câmara em exercício, em que
sem procurar o apuramento dos factos, parecendo indicar estar ao
serviço de um qualquer amigo invejoso, mandando sancionar um
investidor, é assim que concorre para recuperar a Baixa de um marasmo que se
perpetua?
Será
isto que Machado, que almeja outros voos políticos, procura para a
cidade?
-
Repetindo,
o prédio em causa está encerrado há cerca de quatro anos. O
presidente da autarquia, sendo politicamente parte interessada na
revitalização da Baixa, deve colocar-se ao lado de um estupor que
recorre à denúncia ou apoiar quem investe e procura retirar o
Centro Histórico do lodo em que se encontra?
FINAL
Como
ressalva, ninguém me encomendou o sermão. Escrevo esta história
infeliz porque me sinto indignado.
Tenho
pena que o chefe máximo do concelho não seja um político no
verdadeiro sentido do termo, isto é, que o seu interesse maior não
seja as pessoas que concorrem para o desenvolvimento da Baixa, da
cidade e da periferia, e se deixe enredar em teias estapafúrdias que
concorrem para cada vez mais afastar os cidadãos dos políticos.
Tenho
pena que, em face de uma crise comercial sem precedentes, a zona
histórica, por um lado, tenha ao seu leme um político sem visão, por
outro, esteja ocupada com alguns residentes, moradores e
comerciantes, sem carácter e onde impera a má-fé, a maldade e a
vilania.
É
por estas e por outras que a Baixa não sai da cepa torta.
É
por estas e por outras que cada vez mais me sinto sem vontade de
escrever e, por vezes, a defender quem não merece uma linha.
1 comentário:
Amigo:
Calma. Parar de escrever? "Home essa!".
Isso e' o que eles querem. Temariam eles que nao podessemos escrever, nem fotografar, nem filmar. Esta sacanagem politica, podre, que se apoderou das cidades e do pais para servir os interesses dos adinheirados, preferiria que nem podessemos pensar.
Mas, olhe la' meu amigo, eles ate' tem coisas engracadas! Um presidente da camara, tipo pe' descalco, tal cantoneiro, a fiscalizar obras de bricolage. Eh eh eh. O que eu nao dava para estar la'! Agora imagine so' o peso do tubarao que tem este pilinhas de presidente no bolso e as razoes porque o tem, para o fazer figura de palhaco pela cidade. Isso e' que e' obra que ninguem fiscaliza!
Amigo a cidade e os que como eu gostam dela precisam de si e de todos os que a escrevem, pintam, fotografam, filmam e cantam.
Por favor continue a mergulhar a pena no tinteiro.
Um braco cheio de saudades do Mondego
Alvaro Jose da Silva Pratas Leitao
Bradford, Ontario, Canada'
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