quarta-feira, 18 de maio de 2016

VER O SOL ATRAVÉS DA MINHA JANELA




A SAGA DO COMÉRCIO NA BAIXA DE COIMBRA:
Hoje fui a 3 floristas na baixa de Coimbra para comprar um ramo de flores e não consegui.
Na primeira loja, cheguei às 12h37 e a porta estava fechada e tinha um papel colado na porta a dizer " fui fazer uma entrega, volto já", e tinha também um número de telefone. Esperei 5 minutos e liguei para ver se demorava muito ( esperava se fosse preciso). A senhora disse - me que tinha ido almoçar a casa e que só abria às três da tarde e pediu-me para voltar a essa hora.
Na segunda loja quando entrei a senhora estava sentada num banco a fazer umas cenas. Dei as boas tardes e disse que queria um ramo de flores. Calada, a senhora continuou o que estava a fazer e eu feita otária ainda esperei uns 5 minutos. Acabei por desistir e fui embora.
Na terceira, o mesmo pedido, mas agora não o podiam fazer porque a rapariga que os fazia não estava.
Desisti do ramo e de continuar à procura.
DEPOIS PONHAM AS CULPAS NAS GRANDES SUPERFÍCIES.



Hoje fui à Câmara Municipal para tratar de um assunto do meu interesse e não consegui.
No primeiro serviço cheguei às 12h37 e a porta estava fechada para almoço –não tinha qualquer aviso a dizer que, no direito legítimo dos funcionários, tinham ido exercer a obrigação de saciar o estômago. Demoradamente, olhei a porta de alto a baixo para verificar se havia alguma comunicação escrita. Como não havia, apeteceu-me escancará-la. Nem um número de telefone nem nada! Mentalmente, pensei para comigo que, com tantos funcionários públicos, com tanto desemprego, com tanta apregoada falta de produtividade, era absurdo os serviços não estarem abertos durante a hora do almoço. Enquanto olhava o tecto pintado do corredor, pensei também que, mesmo sendo uma promessa eleitoral do PS, era paradoxal, ou melhor, discriminatório perante os privados, os funcionários públicos virem proximamente a trabalhar 35 horas semanais. Chamei a mim também o facto de não laborarem ao Sábado. Por momentos, amaldiçoei António Costa, o actual Primeiro-ministro. Rapidamente afastei o esconjuro porque, apesar de não ser Socialista, até gosto do homem –e, acima de tudo, estou a torcer para que o seu projecto político dê certo para o país, que também é meu, como se sabe.
Sou um pequeno comerciante, estou sozinho na loja – porque o movimento de clientes não me justifica ter funcionários –antes tivesse. Quem me dera! Trabalho todos os dias, incluindo Sábados e Domingos. É durante a hora de almoço que, muitas vezes, vou ao banco, faço entregas ou resolvo pequenas questões de logística. Naturalmente que, como não tenho o dom da ubiquidade, sou obrigado a encerrar. Bem sei que perco negócio por ter a porta cerrada, mas tenho outra alternativa?
Foi então que me lembrei de arriscar outra porta no edifício da municipalidade. Quem sabe, apesar de ser hora de almoço, não tivesse mais sorte e estivesse de portas abertas. Azar danado! Estava igualmente fechado este serviço, dito público e que, sendo assim, deveria ter um horário alargado. Por que não ir até às 22h00? Estava a especular, está de ver. Um funcionário público tem família, tem direito ao descanso. Mas há um ponto que nunca esqueço: mesmo considerando que se entrega à causa de servir o outro de corpo e alma, tem o seu ordenadinho certo. É pouco? É muito? Não sei! O que sei é que a sua função permite-lhe planear a sua vida ao longo de um mês. E eu? Se não vender? E, por vezes, estou o dia inteiro e não abro a caixa. Onde vou pedir dinheiro? Ao Totta?
Entretanto passou a hora de almoço e fui a outro serviço da edilidade. Então não é que dei as boas tardes e não obtive resposta? A funcionária estava a falar ao telefone com uma colega de outro serviço. Confesso que já me estava a passar. Comecei a tamborilar os meus dedos na secretária para chamar a atenção. Deveriam ter passado cerca de três minutos quando, finalmente, ela, com olhar escanzorrado, olhou para mim com olhos de “come, e está calado e cala-te”. Apeteceu-me virar-lhe as costas, mas, pelo respeito que devo a quem me presta uma tarefa, não fiz isso. Costumo pensar que a sociedade está encadeada. Uma parte serve outra parte mais notoriamente mas, no final, todos servimos para ser servidos. O problema é, amiúde, esquecermos e pensar que, às vezes, somos superiores ao servidor. Por isso mesmo, achei que deveria usar de alguma paciência e compreensão. Afinal, falho todos os dias. Quem sou eu para me classificar na reserva moral da nação? Se outros motivos não existissem, lembrei-me de tantos casos excepcionais de funcionários públicos anónimos que, num momento de aperto, me ajudaram na hora em que eu desesperava.
Nunca até hoje desisti de acreditar que, por haver maus funcionários, não posso generalizar e classificar todos pela mesma bitola. É profundamente injusto fazer este exercício. Sei que ao longo da minha existência vou sempre cruzar-me com bons, razoáveis e maus humanos. É a lei da vida –e aqui, na forma de avaliar, entra muito a minha subjectividade. Tenho obrigação de não esquecer que a minha clientela é constituída por bons e maus funcionários públicos. E quando lhes estou a vender, no meu interesse egoísta, pouco me importa o seu desempenho profissional.
Por morrer uma andorinha acaba a Primavera? Claro que não. Por ter um dia menos bom na Câmara Municipal de Coimbra, vou culpar toda administração pública?

(Crónica ficcionada apenas para responder ao texto que serve de bandeira e colocado no Facebook por uma funcionária da edilidade conimbricense)




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