sexta-feira, 20 de maio de 2016

O SORRISO CÂNDIDO DO PEQUENO DEMÓNIO

(Imagem de arquivo, de Leonardo Braga Pinheiro)



“A GNR retirou a custódia do filho aos pais que acorrentaram a criança de 10 anos no quintal, por causa do seu mau comportamento. Foram constituídos arguidos e o menino foi colocado numa instituição do estado.
O caso, que está a chocar o país, ocorreu no Montijo e foi denunciado às autoridades por vizinhos da família que contactaram a GNR quando viram o menino de 10 anos acorrentado, por um pé, no quintal da casa.
A criança “terá passado largas horas preso”, de acordo o Correio da Manhã, que reporta que os agentes da GNR que se deslocaram ao local a encontraram ainda acorrentada, enquanto os pais estavam dentro de casa a preparar o jantar. Contactaram o procurador do Ministério Público em serviço e retiraram-lhes a custódia do filho que foi colocado numa casa de apoio da Segurança Social.
Antes disso, o menino recebeu tratamento no hospital por causa dos ferimentos nas pernas, alegadamente provocados pelas correntes.” -retirado de aqui.

A notícia saltou assim, ontem para Portugal e para o Mundo. Ainda ontem, através da SIC em entrevista, ficámos a saber que estes pais detidos, “sequestrados”, pela GNR, alegadamente, teriam sido violentamente espancados por agentes encapuzados.
Esta semana, numa cidade próxima de Coimbra, um miúdo de 14 anos, a pedido da CPCJ, Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, foi retirado, temporariamente, à mãe e entregue aos avós paternos.
Se seguirmos a mesma linha da notícia acima plasmada, somos invadidos pelo clamor: “ai, coitadinha da criança!”. Mas se acrescentar que no dia anterior, na segunda-feira, este pequeno delinquente deu uma tareia à progenitora que a mandou para os HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, talvez a forma de avaliação do caso mude.
E não se pense que para esta mãe –vamos chamar-lhe Maria-, esta agressão foi caso isolado. Os traços de disfunção de personalidade do agora adolescente teriam começado em 2005 com o divórcio dos pais, tinha então a criança quatro anos. A partir do desquite, já que o pai nunca se importou com o seu herdeiro, o puto foi-se transformando num ser egoísta, manipulador e com manifestações de agressividade verbal.
Em 2009 faleceu a avó materna e, talvez porque esta familiar fosse o último esteio em substituição do pai, o rapaz passou a apresentar instabilidade na personalidade. Passou a ser acompanhado em Pedopsiquiatria.
A partir de aqui, sempre em crescendo, os diálogos com a mãe, Maria, passaram a ser em nota de insulto, desafio e provocação. Teria sido também por esta altura que a progenitora passou também a ser acompanhada em consultas de psicologia.
INVASÃO SEM CONSENTIMENTO
Há cerca de três anos, em 2013, Maria conheceu o seu actual companheiro. Mais uma vez, esta mãe percebeu alterações emocionais no seu filho, sobretudo, na recusa em aceitar o novo ocupante da casa. Presumivelmente, por se sentir ameaçado na partilha da progenitora que, supõe-se, considera sua propriedade.
Os insultos e provocações ao companheiro passaram a ser um hábito naquele lar em busca de uma paz inexistente. Desde “cabrão” a “filho de puta” o tratamento de pouca cordialidade passou a ser o prato diário.
Sempre com a desculpa de que o “menino estava doente”, Maria foi aguentando tudo e rogando ao companheiro que não reagisse ao desafio de violência.
Enquanto o pequeno ditador crescia na idade, na força e no incitamento, Maria ia ficando cada vez mais frágil, vulnerável e a encolher no peso, cada vez mais perdida e sem saber como conseguir controlar a situação.
SUBITAMENTE EM JANEIRO
Sem explicação plausível, ou talvez pelo contrário, no princípio deste ano, agora com 14 anos, o rapaz transformou-se para pior. Ora exigia um “Tablet”, ora impunha a compra de um telemóvel de preço elevado. Por vezes até eram umas sapatilhas de marca que, por dificuldades financeiras, não se poderiam adquirir.
Vieram as ameaças de morte. Desde afirmar que há-de matar quem o colocou no mundo até pegar numa chave de fendas e, com ela em riste e com sorriso tresloucado, dizer que um dia destes a mata, tudo tem feito para desequilibrar a já fraca estrutura psíquica de quem o criou. Já muitas vezes lhe enviou vários objectos, desde sapatos, a livros, e tudo o que tiver à mão contra o seu corpo e já por várias vezes lhe bateu.
Destrói coisas, declaradamente com cinismo, para provocar o caos. Chega a cortar fotografias a meio onde aparecer com aquela que o amamentou.
Quando Maria conduz é normal o seu filho, de repente, colocar a mão no volante e guiná-lo de modo a provocar um acidente rodoviário.
EPÍTETOS DE FAZER CORAR UM VELHO
Os impropérios que o pequeno malfeitor usa no rol são variados: “puta”, “cabra”, “ladra”, “vaca”, “chula”, “porca”, “filha de Puta”, e sublinhando “filha de uma grande puta”.
É comum mandar a mãe “ir vender o corpo na Rua Direita” ou receber velhos em casa” para arranjar dinheiro para o que ele precisa.
Várias vezes manda a sua protectora para o “caralho” e “que se vá foder”. Complementa que tem nojo de quem o ampara.
Para evitar que a mãe durma com o companheiro passou a fazer barulho ensurdecedor, desde bater no mobiliário até manter a televisão em som no máximo, tudo para fazer chantagem emocional. Só fica quieto quando a progenitora abandona o quarto do companheiro.
AGRESSÕES FÍSICAS A ESMO
No último 13 de Maio, com uma grande estalada, agrediu o companheiro de Maria. Aquele não respondeu na mesma moeda para não ser acusado de violência doméstica –tal como anteriormente foi chamada a GNR, que se limitou a tomar conta da ocorrência.
Manifestamente, por ter receio que o primogénito a mate, em cenário de grande violência, já por várias vezes chamou a GNR.
E QUEM ACREDITA NA MÃE?
O rapaz, no contacto escolar e com as pessoas da rua, algo introvertido, é um amor de pessoa.
Este anómalo caso está a ser seguido na CPCJ, Comissão de Proteção de Menores.
Maria tem dificuldade em fazer crer às técnicas da instituição de protecção o que verdadeiramente se passa em sua casa. Apercebe-se que o seu protegido consegue facilmente recorrer à manipulação e alterar a avaliação objectiva de quem o examina. De tal modo é convincente que chega a afirmar que é sovado em casa. Segundo Maria, acreditam nas suas declarações.
Perante este desnorte nos depoimentos, a mulher cada vez mais se sente perdida, a ponto de não saber o que fazer à vida. Nos últimos tempos, demasiadas vezes, tem pensado em colocar termo à sua existência de sofrimento e martírio.
A ANÁLISE
O diagnóstico médico e psicológico é taxativo: hiperactividade.
A medicação pouco vai além da “Ritalina”, um reconhecido fármaco aconselhado para a hiperactividade. Quando lhe é receitada outra qualquer medicação para tomar na escola não os ingere e vindo a gabar-se do feito.
A CONSEQUÊNCIA
O estado actual de Maria, físico e psicológico, é simplesmente preocupante. Nos últimos tempos perdeu muito peso e o seu discurso, por vezes desconexo, é interrompido por esquecimentos e lapsos de raciocínio.
Nesta última segunda-feira, Maria foi sovada pelo filho -de catorze anos, recorda-se- e foi parar aos HUC.
BENEFICIAR O INFRACTOR
Alegadamente, perante a denúncia de agressão no hospital, a CPCJ retirou o seu filho de sua casa e foi entregá-lo aos avós paternos –que nunca quiseram saber grande coisa no acompanhamento e na evolução do miúdo. Ou seja, pensa Maria, quando o caso já deveria ter sido remetido ao Ministério Público para internamento compulsivo, a CPCJ continua a beneficiar o pequeno bandido.
Como interrogação final, pergunta Maria: será que não se está a caminhar para um proteccionismo e um igualitarismo absolutistas às crianças –tratando todos como anjos- e num esvaziamento da autoridade paternal? Onde começam as obrigações e os direitos de uns e de outros?





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