terça-feira, 10 de novembro de 2009

E SOBRE O CASAMENTO HOMOSSEXUAL, QUEM ATIRA UMAS FLORES SOBRE OS NUBENTES?





Vamos ver se consigo ser claro. Sobre o casamento homossexual que se prepara para entrar no Parlamento, já o escrevi aqui, no meu cantinho: eu não tenho nada a ver com aquilo com o meu vizinho faz dentro de portas. E fora, terei? Desde que não me toque (fisicamente) nada tenho a ver com isso. Pois!, mas isso é o que eu penso, e este meu pensar pode não ser extensível aos outros. E os outros têm o direito de se imiscuírem na vida alheia? Bom, aí é que a porca torce o rabo. Para mim não têm. Mas a maioria não pensa assim. Consideram-se uma espécie de puristas, zelotas, guardas dos bons costumes.
Agora vamos pelo outro lado do espelho. Somos uma sociedade conservadora, a cair no hipócrita. Dentro de portas, às escondidas, faz-se tudo, mas na rua, nem pensar. É preciso manter a aparência de ser “igual aos outros”. Nada de diferente. “Diferente”, só se for para melhor, com o assentimento social. Sempre viram a família do mesmo modo e com os mesmos olhos. Não aceitam que na vida tudo é dinâmico, tudo se transforma, tudo evolui. Porém…
esta é a sociedade civil que temos, e, naturalmente, temos de (con)viver com ela. Com as suas valências positivas e negativas. E então? Parece interrogar você. Calma! Já me explico. Ou melhor, vou tentar. É que a lei ratifica o costume e não o contrário. Ou seja, só depois do costume se tornar consuetudinário (habitual, rotineiro, usual) é que, para converter o hábito legal, vem então a lei plasmar o ramerrão. Ora, no caso em apreço –casamento homossexual-, não existe o costume de duas pessoas do mesmo sexo se casarem. Ora, em conformidade, logo, não havendo praxe, quer dizer que a carroça anda à frente dos bois. Porque, não podemos escamotear a questão, vivemos em sociedade, e não é por eu pensar de modo diferente da maioria –isto é, faço parte da minoria- que o meu modo de pensar tem de ser aceite por todos. Não podemos minimizar o facto de a democracia assentar na prerrogativa da vontade da maioria.
Depois há outro facto que também não é despiciendo. Segundo julgo, os homossexuais apostam tudo no acto solene do casamento, não só pela defesa dos direitos patrimoniais, mas sobretudo para se livrarem da chacota social. No fundo, a pensarem que se a união de facto actual, que já vem de 2002 e é reconhecida pelo direito, mas continua a não ser reconhecida socialmente, acreditam que a celebração oficial do contrato, com foto e tudo, vai obrigar a colectividade à sua aceitação. Mas será assim? Será que a comunidade homossexual não se estará a preparar para levar uma grande banhada de escárnio pela colectividade?
Depois há ainda outra questão: se o casamento heterossexual está em crise –no ano passado, celebraram-se cerca de 43 mil enlaces-, porque insistem tanto os homossexuais em reactivar o nó? Sim, é uma pergunta pertinente, o que está em crise é o contrato de casamento na sua forma jurídica e não na parte social. As pessoas, devido à incerteza que se vive, no descartar de afectos, receiam que a ligação de direito que as vai amarrar a outra, mais tarde, no pressuposto de falharem, lhes vai trazer aborrecimentos. Ora este pensamento não será alargado a pessoas do mesmo sexo que tantos defendem o reconhecimento jurídico?
Pessoalmente, mesmo a pensar de uma forma liberal, a bem da dignidade da pessoa homossexual, acho que Cavaco Silva, ao devolver a lei ao governo, esteve bem.
O governo até pode levar a sua avante, só que, no meu modesto entender, contrariamente ao que pensam, tal legalização pode se transformar num anátema sem retorno. E o governo nem precisa de fazer um referendo sobre a questão. Se fazia parte do seu programa eleitoral, ou avança ou recua. Se teimar em avançar pode destruir muitas conquistas sobre a dignificação da comunidade, na sua forma diferente de ser, que os homossexuais conseguiram na última década.
Perdoem-me a infeliz metáfora, mas galinhas apressadas têm pintos carecas, diz o povo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Discordo completamente do casamento entre pessoas do mesmo sexo, não faz sentido, é aberrante.

A tolerância deve existir, os direitos devem ser respeitados mas, há limites...

Não faz sentido, comparar o que é incomparável...uma ficha casa com uma tomada, não casa com outra ficha, não funciona...

A figura da união de facto, deve ser a resposta para estas situações...

Os portugueses na generalidade não aceitam estes casamentos, os partidos de forma subreptícia querem impor esta "modernidade"...

Seguramente, serão os próprios homosexuais a não aderir, vão sentir-se, vexados, maltratados, apontados...então, será o geverno a promover a nova lei...Portugal, vai virar manicómio.

jorge neves disse...

É muito difícil para as famílias e especialmente para os jovens falar da sua homossexualidade por isso, muitas vezes, este assunto permanece sob forma de segredo. No meu entender a terapia de família auxilia a revelação do segredo da homossexualidade e proporciona a pais e filhos a oportunidade de expressarem sentimentos, temores, ansiedades e conflitos, isto é, ter um encontro com a própria realidade, embora os pais evite abordar o assunto.As famílias, em geral, operam a partir de uma crença de que os filhos são heterossexuais e, portanto, seguirão estilos de vida e experiências heterossexuais: casar, ter filhos, ser pais, avós...O que acontece àqueles jovens que se sentem diferentes, desde a infância, preferindo a companhia de meninas à de meninos, sendo mais artísticos, expressivos emocionalmente e menos interessados em desportos competitivos?E àquelas jovens, que desde muito cedo, preferem brincadeiras de meninos, identificando-se com eles na maneira de vestir e de se comportar?O preconceito social que assistimos, nas atitudes dos pais e amigos, em relação aos homossexuais, leva os filhos a reprimirem seus impulsos, escondendo sua verdadeira identidade sexual.Na minha perspectiva as modificações não são fáceis de atingir, porém com acompanhamento especializado e mudanças de mentalidade serão o caminho a seguir.Com este artigo de opinião espero ter aberto um espaço para reflexão sobre dificuldades enfrentadas por famílias com membros homossexuais e da socialização dos não homossexuais. O acompanhamento a tais famílias levou-me a pensar sobre a maneira mais adequada de intervenção nesses casos já que tanto a bibliografia e estudos sobre este tema ainda são restritos.Espero, aprofundar os meus conhecimentos sobre esse assunto tão polémico, e seguir os estudos e escrever sobre o tema e obter respostas à questão que proponho. Como afinal a ciência se propõe a explicar a homossexualidade?

Jorge Neves
Bloco Esquerda
Assembleia Freguesia São Bartolomeu