(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
António
Madeira, para além de ser um respeitado munícipe na Baixa, é,
desde há muitos anos, o proprietário da Residencial Moeda, na Rua
da Moeda, confinante com a Loja do Cidadão. Desde há uns tempos, na
sua página do Facebook, tem vindo a plasmar a sua impotência para
vencer o isolacionismo a que está votado e a lamentar o que se passa
na zona envolvente paredes-meias com o seu estabelecimento, o
conhecido “Bota-abaixo”, a área do Largo das Olarias.
Desta
vez, na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial)
postou o seguinte post:
“OBRIGADO
SR. PRESIDENTE DA CÂMARA POR MAIS ESTE COMENTÁRIO E PONTUAÇÃO DE
MERDA ACABADINHO DE CHEGAR DE UM CASAL ESPANHOL.
Convido-o
a vir visitar o meu estabelecimento e ver as excelentes condições
com que recebemos os nossos clientes, para no fim termos uma
pontuação miserável por sua causa. HONRE A SUA PALAVRA E FAÇA O
QUE PROMETEU.
A noite no "Bota-abaixo" tem que mudar. ESTAMOS FARTOS.!
A noite no "Bota-abaixo" tem que mudar. ESTAMOS FARTOS.!
A
sua página de comentários em Booking.com
Anónimo
La ubicación está en peatonal parte antigua cuando cierran negocio a las 19 ha se vuelve muy inseguro.”
Anónimo
La ubicación está en peatonal parte antigua cuando cierran negocio a las 19 ha se vuelve muy inseguro.”
Para
se perceber melhor vamos aclarar algumas premissas simples referidas
nesta crónica. Comecemos por explicar o que é o “Bota-abaixo”
e o “Booking.com”.
O
“Bota-abaixo”
é a denominação de uma área de casario antigo que começou a ser
demolida em meados de 1960 para construir uma avenida central que
ligaria a Rua da Sofia à margem do Rio Mondego. Alegadamente por
falta de dinheiro, a obra pública viria a ser interrompida e
constituiria um enorme buraco até aos finais de 1990 -quando os
terrenos foram vendidos em hasta pública pela Câmara Municipal de
Coimbra à Bragaparques, uma firma de Braga, que ali construiu um
grande estacionamento subterrâneo e vários prédios, entre eles a
Loja do Cidadão. Depois disso continua inquinada com os interesseiros do Metro. Daí apelidar-se a zona de “Bota-abaixo”.
O
“Booking.com” é um site de reservas para hotéis e
congéneres de dormidas a nível mundial. No fim de pernoitar no
alojamento o cliente comenta e classifica a estrutura turística a
seu modo. Está de ver que esta manifestação pessoal acaba por ser
uma espécie de carta de recomendação para outros, quem, no mundo
inteiro, estiver interessado no mesmo espaço e pretenda deslocar-se
e alojar-se.
Ora,
agora voltando ao protesto de António Madeira, o que escreveram os
espanhóis, que estiveram alojados na Residencial Moeda, no
“Booking.com”? Aproximadamente, tão só como isto:
“A
localização está edificada na parte antiga. Quando encerram os
comércios às 19h00 se torna muito insegura.”
Prosseguindo
na análise desta mensagem escrita, vamos a perguntas:
-O
turista lamentou os serviços prestados dentro do empreendimento
hoteleiro? Não senhor, o espanhol queixou-se da zona envolvente.
-E
as consequências para o empresário? Mesmo sendo por razões
exteriores ao seu serviço, assume os prejuízos e paga pelo mesmo,
ou não? Claro que sim!
Em
balanço, ou seja, por um problema que cabe inteiramente às
entidades públicas que gerem a segurança pública na cidade, este
empresário pode acabar na falência. Está correcto o alheamento a
que está a ser votado? Sabendo que na zona existem outros
empreendimentos no género, é óbvio que todos se encontram no mesmo
patamar de abandono e com um pé na insolvência, mas, pelos vistos,
num cenário que todos conhecemos bem, ninguém protesta.
TODA
A BAIXA É UM IMENSO “BOTA-ABAIXO”
O
que
se está a passar na zona enunciada é o mesmo que se apreende e
constata em toda a Baixa. O que está em causa nem é uma efectiva
segurança material mas antes, pela desertificação notória depois
do encerramento do comércio às 19h00, uma sentida insegurança
psicológica. Pelo facto de haver poucas pessoas a circular à noite,
como é natural, a todo o passo, em ruas com pouco movimento e pouco iluminadas, damos
de caras com indivíduos de aspecto maltrapilho e emoldurados com
rosto pouco amistoso. Posso escrever à vontade porque moro e
trabalho nesta zona, retirando um ou outro caso pontual, desde há
meia dúzia de anos que não há notícias de criminalidade,
violência, através de assaltos sobre pessoas.
Se
bem que, sejamos justos, na área do Bota-abaixo, apesar de estar
inserida na Baixa, há uma diferença para pior: os sem-abrigo e
toxico-dependentes concentram-se em grupo. Depois do encerramento,
executado há anos, de alguns becos com portões, estes últimos
injectam-se à vista de toda a gente, causando algum horror ao
transeunte menos familiarizado com estas questões de saúde pública. já escrevi várias crónicas a tentar trazer à discussão a criação de uma sala de chuto nesta área velha. A resposta, claro está, nunca veio. É preciso inventar novos conceitos.
Já muito se falou, já muito se escreveu sobre este assunto, sobretudo na recente campanha eleitoral, porém foi fumo que não deu fogo, aliás, pelo deixa-correr, nada a que todos não estejamos já habituados.
Já muito se falou, já muito se escreveu sobre este assunto, sobretudo na recente campanha eleitoral, porém foi fumo que não deu fogo, aliás, pelo deixa-correr, nada a que todos não estejamos já habituados.
QUEM
LEVA A SÉRIO A BAIXA?
É
público
que a Reforma Administrativa de 2013, que levou à agregação das
juntas de freguesia em todo o país, foi um fiasco -"A
maioria das Freguesias agregadas defende que a reforma administrativa
não melhorou a gestão nestas autarquias", refere um estudo que
leva a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) a defender a
reposição das juntas extintas contra a sua vontade.”.
Retirado daqui. E como é de prever a Baixa de Coimbra não constitui
excepção. Passados quatro anos, desde essa altura, a zona histórica
está entregue a si mesma, sem que alguém leve os seus problemas ao
executivo ou, no mínimo, à Assembleia Municipal. Para piorar, quando deveriam permanecer na Baixa, transferiram-se os serviços da junta, agora agregada, para os Arcos do Jardim. Durante estes
últimos quatro anos, exceptuando a campanha alegre, a contactarem munícipes, nunca se viu por
aqui o presidente da Câmara Municipal, o presidente (agora
substituído) da União de Freguesias de Coimbra. Também nunca se
viu um deputado à Assembleia a saber dos problemas que afligem quem
cá mora e trabalha.
MAS
ATÉ A SEGURANÇA PÚBLICA?
Sabe-se
que a segurança pública é da responsabilidade da PSP, mas o
presidente da Câmara Municipal, enquanto chefe máximo da protecção
civil, também aconselha e dá orientações sobre a garantia de
bem-estar na cidade. E quando escrevo “segurança
pública”
refiro também a protecção psicológica que qualquer cidadão
nacional ou estrangeiro tem direito. Escrevo isto porque, é dos
livros, quando se fala de segurança pública lá vem o responsável
máximo, mesmo que seja interino, pela instituição com um molho de
números de estatística onde, a todo o custo, tenta mostrar que na
Baixa não há criminalidade que justifique mais agentes de turno.
Não
entro em sentimentos de ocasião, que um recente caso de espancamento
à porta do Mc Donald's fez disparar a rebelião da oposição no
executivo, em que à custa da desgraça alheia se tenta capitalizar
juros políticos. O que escrevo, e não é só agora, é que a
cidade, a Baixa, a Alta e outras zonas precisam de um policiamento
diário, durante o dia e a noite, de proximidade. Na última década,
digo eu, teria sido neste ramo de segurança pública a cargo do MAI,
Ministério da Administração Interna, onde, para poupar, mais
cortes teria havido e, em consequência, por um lado, terá gerado
nas pessoas de bem um sentimento de medo, por outro, nos malfeitores,
uma ideia de completa impunidade.
Uma
coisa é certa, porque o texto já vai longo, é injusto, é ilegal,
é inconstitucional que para poupar no erário público se
sacrifiquem investidores que arriscam a sua vida no negócio. Estas
pessoas, de que os políticos parecem ter tanto amor na altura da
captura do voto, como o António Madeira, precisam da protecção
institucional. Quem lhes vale?
3 comentários:
Obrigado Amigo Luis, por compreender a minha mensagem de revolta e a clarificá-la por forma a que todos saibam as injustiças porque passam os comerciantes desta zona.
Bem haja Amigo. abr.
Aguinalda Simões Graça Amaro deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”":
Boa noite, Sr. António Luís Fernandes Quintans. Mais uma vez obrigada por escrever para o povo. Li tudinho...
Eu estou na Rua da Sofia. Mesmo em frente ao Terreiro da Erva. É horrível, horrível. Há três semanas tive que ir à PSP. Não fui fazer qualquer queixa, apenas pedi para desabafar com alguém. Falei, falei... É muita toxicodependência à luz do dia, à frente de todos. Estamos no café e sentimo-nos intimidados. Eles vêem que a gente vê... É um entra e sai a toda a hora a trocar notas de 5... Digo que não tenho, tratam-me mal. Casa de banho: tenho que pôr um papel “avariado”. O meu filho passa no Terreiro da Erva todos os dias, pois anda na São Bartolomeu (na escola). O meu coração... Seringas pelo chão.
Saem completamente "mocados "do terreiro. É horrível! Sentados na travessa a fazer a droga ainda me vêm pedir prata e limão. Eu sou obrigada a passar por isto????
Foram os polícias simpáticos. Todos os dias tem passado um agente, e pára pelo café. Pedi por favor para o fazerem, para ver se os toxicodependentes se afastam.
Estas duas semanas tem sido mais calmo o movimento por lá. Tenho medo. Fica noite cedo. Para me sentir mais segura tenho fechado o café às 18h30. Quero sair e apanhar o autocarro com o meu filho enquanto há gente e portas abertas. Infelizmente é a única coisa que posso fazer.
Desculpe o desabafo mas realmente não é seguro. A baixa não é nossa ...Um bem-haja.
A baixa e a baixinha de Coimbra acabou para tudo que seja comercio tradicional .
Jorge Neves
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