(Imagem desviada sem autorização do site Notícias de Coimbra)
O
último dia de Outubro, na última terça-feira, eventualmente, para
Coimbra teria representado uma espécie de janela aberta para o
Mundo. Seguindo a rotina dos outros dias do ano, a cidade, retirando
um ou outro caso de violência desmesurada ou queda de dois prédios,
é um sítio apagado.
Em
prol das vítimas dos incêndios de 15 de Outubro, com uma linha
aberta de chamadas de valor acrescentado a favor dos necessitados
pela calamidade, a RTP, desde as 10h00 e até às 18h00, realizou a
sua emissão a partir da Praça 8 de Maio. À noite, a partir das
22h00, novamente com linha aberta para contribuições, com a
presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi
transmitido um espectáculo com vários artistas nacionais que
actuaram no auditório do Convento de São Francisco.
Sem
ter a mais leve pretensão de contestar o objecto solidário desta
acção, ou a sua realização, gostaria de escrever umas linhas
sobre o antes, o decorrer e o depois
da realização. Faço-o, não na direcção de dizer mal só porque
sim, mas mais no sentido da reflexão. Ou seja, em futuros eventos do
género -cruzes, canhoto, oxalá não seja necessário- que se
aprenda e se melhore o que agora correu menos bem.
Para
começar, sobre a transmissão do evento no Convento de São
Francisco por parte da televisão pública, o som, por vezes
arrastado e pouco nítido, chegado a nossas casas foi pouco
satisfatório. No mínimo, exigia-se que os serviços técnicos
estivessem mais à altura do acto que visou a beneficência.
Depois,
não se consegue perceber muito bem como é que a cifra destas
chamadas de valor acrescentado -cujo montante rendeu cerca de 106 mil
euros-, com custo total de cada chamada telefónica para o utilizador
de 74 cêntimos, só 50 cêntimos vão parar aos beneficiários
directos e que deram origem ao aparato. Isto é, com a generosidade
pública, foi um bom negócio para as operadoras -a levarem 10
cêntimos por chamada- e para o Governo -a cobrar 14 cêntimos de
IVA. Uma pergunta óbvia: este procedimento é vantajoso para o
social? Por outras palavras, incentiva a solidariedade?
Depois
ainda, numa festa, alegadamente, esgotada cinco dias antes não se
concebe que ficassem três dezenas de lugares vazios por preencher
-eu telefonei para obter bilhetes e foi-me dito que estava de lotação
esgotada. “Só havia uns lugares marcados pela Internet, que,
apesar de reservados, ainda não estavam pagos”, foi-me dito
textualmente pela funcionária do Convento de São Francisco cinco
dias antes quando escrevi um texto sobre o assunto. É certo que
Gonçalo Tavares, um dos músicos presentes, veio dizer que todos
lugares vazios tinham sido pagos -a servir de desculpa esfarrapada,
mais que certo e a começar por mim, ninguém acreditou. Má
logística, é o que se pode depreender, a não repetir.
PALMAS
PARA SARDET
A
finalizar, veio André Sardet, o mentor e organizador da grande gala
solidária agradecer a disponibilidade de várias entidades privadas
e públicas, onde constou a Câmara Municipal de Coimbra, que se
disponibilizaram e contribuíram para a concretização do
acontecimento.
Legitimamente
e com todo o direito, o músico de Coimbra apresentou-se como um
homem contente e satisfeito e foi ovacionado de pé.
Começou
por dizer que “tenho orgulho nesta cidade. Coimbra é uma
cidade fantástica!”
SARDET,
UM CASO DE/PARA ESTUDO SOCIAL
Pode
parecer um despropósito eu chamar à colação o que vou escrever a
seguir. Correndo o risco de vir a ser endemoniado e tornado
proscrito, não deixo de questionar certas verdades que agora, pelo
malhar do tempo, passaram a ser mentiras. Ainda que seja considerado
uma grande melga, como cidadão anónimo e minimamente atento ao que
se passa na cidade, ao longo dos anos vou tomando notas de "ditos" de certas pessoas.
Gosto de tentar perceber as reacções, as queixas de alguns
munícipes, mais ou menos conhecidos, e tentar enquadrá-las num
certo catecismo político.
Vou
explicar melhor onde quero chegar. Comecemos com umas declarações e
seguidas de uma adivinha. Há nove anos, mais precisamente em
Fevereiro de 2008, no programa “Dois
dedos de Conversa”,
na Rádio Regional do Centro, foi dito o seguinte:
“Coimbra não tem condições para fixar os jovens nem é capaz de
manifestar apreço por quem leva mais longe o nome da cidade. (…) o
que lamento é a falta de reconhecimento. O Presidente da República
mandou-me um cartão a dar-me os parabéns e a incentivar. Coimbra
não. (…) Esta cidade está todos os dias a perder os valores da
terra, o orgulho, a auto-estima. Dizem que esta é a cidade do
conhecimento mas acho que devia ser também a cidade do
reconhecimento, ganhávamos todos muito mais”.
Quem
disse isto? Precisamente André Sardet.
Ora,
agora, com a frase “tenho
orgulho nesta cidade. Coimbra é uma cidade fantástica!”
podem retirar-se várias ilacções e fazer várias perguntas.
Primeira, ao que tudo indica, constata-se que Sardet fez as pazes com
Coimbra. Pelos vistos, a cidade deixou de ser a urbe do não
reconhecimento. O que mudou?
-Em
2008 o executivo municipal era de coligação PSD/CDS. Agora em 2017,
e desde 2013, a cadeira do poder é ocupada pelo PS.
-Em
2008 André Sardet era um cantor e compositor ainda desconhecido do
grande público à procura da fama e a tentar romper a bruma do
anonimato. Agora em 2017 Sardet, por direito próprio, faz parte do
leque de bons artistas nacionais. Para além disso, é um empresário
hoteleiro de sucesso -com abertura de um hotel turístico na Alta- e,
tanto quanto julgo saber, um grande promotor de espectáculos, com
uma empresa de contratação de artistas.
Não conheço pessoalmente este grande artista. Se o conhecesse perguntar-lhe-ia: André, diz-me cá meu bom amigo, o que contribuiu para a alteração do conceito sobre Coimbra? Quem mudou? Foste tu, no estatuto, ou a cidade?
Não conheço pessoalmente este grande artista. Se o conhecesse perguntar-lhe-ia: André, diz-me cá meu bom amigo, o que contribuiu para a alteração do conceito sobre Coimbra? Quem mudou? Foste tu, no estatuto, ou a cidade?
1 comentário:
André Sardet deixou um novo comentário (no Facebook) na sua mensagem "Editorial: Coimbra em busca de mão de reconhecimento":
Meu Caro António, não posso deixar de responder a esta sua “reflexão”.
A reflexão tem algumas (muitas) imprecisões.
Vamos a isto:
-Em 2008 já tinha reconhecimento público. Muito até... vendi 13 platinas desde 2006.
-Nada mudou em relação à falta de reconhecimento da cidade. Se analisar com atenção entrevistas anteriores, verá que sempre disse que o público e os cidadãos de Coimbra foram sempre o meu grande suporte e estiveram do meu lado. Veja-se o exemplo da gravação do ACUSTICO em 2004.
-Continuo a não achar normal que em 2006, depois de 12 semanas em número 1 no Top de vendas Nacional, não ter tido uma palavra do então presidente da câmara ou de outras instituições da cidade.
Não há portanto nenhuma incoerência.
Há até bastante coerência...
Também não acho normal querer comemorar os meus 20 anos de carreira em 2016 e não ter tido as ajudas mínimas.
Não é hora de falar de mim.
O que se passou no dia 31 está acima destas tricas, próprias de uma cidade com a dimensão de Coimbra.
Também não serão as tricas nem reflexões mais ou menos profundas e sustentadas que me farão deixar de dizer que Coimbra é uma cidade fantástica.
E de facto é! Se o não fosse não a tinha escolhido para criar os meus filhos.
Obrigado.
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