sábado, 29 de setembro de 2012

UMA NOVA OPINIÃO SOBRE AS ESCADAS DO GATO





 Sobre um estrado implantado no espaço onde ruíram dois prédios em Dezembro de 2006, ao fundo das Escadas do Gato, em Fevereiro último, escrevi que em alternativa a este projecto, em vez desta plataforma em madeira, se deveria ter optado pelo arranjo do chão e então sim colocar lá uma esplanada. E porque volto eu ao mesmo assunto? Será que mudei de opinião? 
“Não, não pode ser” –dirão vocês, leitores! Uma pessoa deve ser sempre coerente com o que escreve. É ou não é? Mesmo que mais tarde, em face de novos dados apreendidos, em nome dessa tal coerência e mesmo que até errada, deve continuar a teimar. É assim?
Toda a gente sabe que quem escreve é uma espécie de pássaro, nefelibata, que anda nas nuvens. De lá de cima olha cá para baixo e tenta sempre ver o que os outros não vêem. Quem escreve é um emotivo sem emoção. Ou seja, tanto plasma com o coração como friamente e completamente desapegado de sensações pode fazer exactamente o contrário. Muitas vezes tudo depende da corrente social. Se esta, como rio em direcção à foz, caminha no mesmo sentido, o escritor, tentando desvendar o movimento faz o percurso inverso. Isto tudo para dizer que, eu que não sou escritor, apenas sou coerente na minha constante incoerência. Não estou agarrado a dogmas de espécie alguma e, na maioria das vezes, a minha convicção, prega-me partidas.
E comecei este arrazoado em jeito de sermão aos peixes, porque há dias passei novamente nas Escadas do Gato e deparei-me com o estrado ornamentado com uma alcatifa, com mesas e cadeiras. E, apesar de lá passar todos os dias, como se o fizesse pela primeira vez, ao ver aquele quadro de cor na paisagem decrépita, parei estático. Foi como se a imagem que estava perante os meus olhos tocasse os meus sentidos. Dei um passo atrás e fotografei. Aquele enquadramento estava bonito. Era um remanso na paisagem. Quebrava o aspecto de abandono. Admito perfeitamente ter errado na minha primeira apreciação genérica. Tenho razão? Não tenho? Não sei. O que achei é que, em face do que senti naquele dia desta semana e o que escrevi anteriormente, deveria transcrever e partilhar convosco. 


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