quinta-feira, 27 de setembro de 2012

UM TURISMO EMBRULHADO EM TEIAS



Bom dia Sr. Luís,

Permita-me contar-lhe (mais) um episódio daqueles que nos deixam chateados. Como sabe tenho a minha Loja na Rua Visconde da Luz, e nos últimos tempos até nem nos podemos queixar da afluência de turistas estrangeiros. Apesar de não comprarem como dantes, sempre vão adquirindo alguma coisa. Aconteceu que, hoje, e sendo já episódio recorrente, entrou uma senhora espanhola na loja, esbaforida e cheia de pressa pegou num artigo e mandou embrulhar rapidamente. Disse que não se podia separar do grupo que caminhava apressadamente com o guia à frente.

Ora, sendo eu turista há alguns anos em vários países da Europa, nunca vi tal coisa; havendo mesmo recomendações aos guias para que parem nas zonas históricas e deixem os turistas usufruir do comércio local, e, quem sabe, fazer umas "comprinhas" para os amigos e familiares.

Não sei se é possível mudar esta situação, estabelecer um protocolo com os operadores turísticos, sei lá...

Diga-me lá Sr. Luís, você que tem sempre boas ideias, o que pensa do assunto?

Um abraço,
Pedro
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NOTA DO EDITOR

 Bom dia, Pedro. Lá ideias tenho muitas, talvez por isso me julgue permanentemente idiota. De que vale tê-las numa terra em que poucos auscultam alguém? E se por acaso ouvirem é porque o emissor terá uma importância tal que o escutar não é ouvir, é simplesmente um mero formalismo, uma submissão directamente proporcional ao seu grau de estatuto. Ou seja, vale mais um tossir de um qualquer “senhor Doutor”, tecnocrata, que nunca saiu do seu gabinete e não tem qualquer percepção da realidade laboral, do que uma voz anónima que está no terreno e fala com conhecimento –como é o seu caso.
Quanto ao seu legítimo lamento, concordo consigo. É um escândalo! Em 13 de Janeiro de 2011 escrevi um texto –veja link- sobre o mesmo assunto e que acontece diariamente na zona da Sé Velha. Enviei-o para a Empresa Municipal de Turismo. Pensa que alguém desta entidade respondeu? Isso é que era bom!
Na altura consegui saber que muitos dos guias turísticos são contactados particularmente por hotéis. O que quer dizer que agem por sua conta e risco. Outros profissionais de turismo são contratados por agências de viagens e a mesma coisa: como ganham pouco, muitas vezes, tentam ampliar a sua prestação com comissões nas lojas previamente visitadas. Outros ainda são então contratualizados pelo turismo e pela empresa municipal.
O que é saliente, e indigna, é o desprezo a que a maioria das lojas comerciais é votada. Salta à vista que não há planeamento e cada guia faz o que bem entende, mesmo que com a sua acção interesseira esteja a condenar dezenas ou centenas de operadores que arriscam tudo o que têm para ganharem a vida.
No meu entender, por exemplo aqui em Coimbra, este encargo de criar roteiros caberia por inteiro à Empresa Municipal De Coimbra –embora já fosse anunciada a sua extinção-, que, para isso, deveria reunir com todas as entidades ligadas ao sector. Claro que, mesmo assim, não quer dizer que não houvesse desvios, isto é, favorecimento de um ou outro estabelecimento, mas, creio que tentar agitar já seria um passo em frente. Este silêncio que todos assistimos faz um barulho danado a quem está na Baixa e vê os grupos a passarem em bandos, como se fossem andorinhas em direcção ao Norte de África.

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