sábado, 15 de setembro de 2012

COIMBRA ACORDOU E SAIU À RUA



 Usando a analogia de um meu amigo, provavelmente, desde o 1º de Maio de 1974 que a cidade não via tanta gente junta. Às 17h30 a Praça da República, embora com o chão relativamente coberto, ainda apresentava algumas clareiras na pedra calcetada. Às 17h45, sobre a mensagem de megafone e depois trauteada pelos populares de “o povo unido jamais será vencido”, os orientadores começaram a encaminhar as pessoas para a estrada, para seguirem em direcção à Baixa. Nesta altura, por ventura, estariam presentes cerca de 3000 manifestantes. Por entre os protestantes, Teresa Portugal, ex-vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra por parte do Partido Socialista (PS), e depois deputada à Assembleia da República, puxava os participantes presentes com um slogan: “abaixo o Governo”. Por entre a assistência pode ver-se também, embora com menos empolgamento, Helena Freitas, actualmente vice-reitora da Universidade de Coimbra e outrora líder do PS na Assembleia Municipal –e agora uma das indigitadas para ser candidata à autarquia de Coimbra pelo partido da rosa.
Sempre com grande civismo a grande massa de povo, empunhando centenas de cartazes alusivos à crise, foi engrossando sempre a cantarolar frases musicais divididas entre “está na hora, está na hora, de o Governo ir embora”; “gatunos… gatunos”; “Governo para a rua, a luta continua”; “fora já daqui, porca miséria do FMI”; “ai não, ai não, Troika não, Troika não!; “o povo unido jamais será vencido” e muitos assobios e muitas palmas a marcar o compasso dos slogans. Embora menos, mas de vez em quando lá se ouvia: “Passos, ladrão, o teu lugar é na prisão!”. E muitas vezes: "gatuno"! "gatuno"! Tudo sempre acompanhado com o ritmo de bombos e do som estridente saído de tachos e panelas tocados por mãos empunhando paus improvisados e a servirem de baquetas.
Entre os manifestantes havia uma diversidade digna de nota, pais com filhos ao colo; filhos com os pais velhinhos pela mão; muitos jovens à procura de um futuro; muitos velhos em busca de uma velhice condigna; muitos cidadãos contemplados com RSI, Rendimento Social de Inserção; muitos empresários conhecidos na cidade; muitas centenas de funcionários públicos, incluindo professores em grande escala; alguns políticos de nomeada, embora, pareceu-me, mesmo do PS, nem todos lá estiveram. Do PSD ou do CDS/PP não me lembro de ter avistado nenhum, o que também se compreende -a SIC noticiou que Norberto Pires esteve presente. 
O certo é que havia uma homogeneização muito grande de todas as classes da cidade. Salienta-se o facto de não se avistar uma única referência a um partido político, ou estrutura sindical, em cartazes ou bandeiras.
Comerciantes da Baixa não se viram muitos, mas avistaram-se alguns. Desde o Armindo Gaspar, o Arménio Pratas, o David, o Francisco Veiga, o Eduardo Carvalho, e até o senhor Carvalho, o decano dos comerciantes, que com 80 anos ainda trabalha no seu estabelecimento, e mais alguns que vislumbrei de longe.
Nas janelas dos muitos prédios que não ostentavam a placa de uma imobiliária a dizer “vende-se”, os residentes, desde a velhinha ao mais novo da família, todos tiravam fotografias para mais tarde recordar.
Para além de um carro de exteriores da RTP, a SIC de Balsemão também estava no terreno. Da TVI não vi sombra. Junto à 2ª Esquadra, nas Escadas de Montarroio, os muitos repórteres de imprensa acotovelavam-se para tirar o melhor plano.
Sempre bem organizada, quando chegou à Praça 8 de Maio, provavelmente já traria cerca de 5 000 pessoas. A longa fila foi engrossando entre a Câmara Municipal e o Largo da Portagem e em direcção ao Parque Verde e quando ali chegou, cerca das 19h30, levaria uma corrente de mais de 10 000 pessoas –a PSP fala em 20 000. Durante quase uma hora os automobilistas ficaram imobilizados junto ao Turismo para deixarem passar os milhares de cidadãos indignados contra a política da coligação governamental PSD/CDS-PP.
Sem que o número exacto de manifestantes seja importante, o certo é que tudo indica que Coimbra está acordada para o que “der e vier”. Este Governo que se cuide, e outros que aí venham. A partir de agora a cidade, por uma causa justa em prol de todos, pelo que se antevê, está pronta a dar-se e a ombrear contra a injustiça.
Foi bom de ver, numa urbe que raramente dá as mãos seja lá por que for, tantos milhares de pessoas envolvidas no mesmo protesto. Foi bom verificar que este povo é ordeiro, e apenas quer a reposição do que lhe foi retirado abusivo e unilateralmente.
Uma grande salva de palmas para Coimbra.



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