domingo, 2 de agosto de 2009

BAIXA: É PRECISO LIMPAR MENTALIDADES















É Domingo, o relógio da Igreja de Santa Cruz acaba de bater as dezoito badaladas. Um grupo de turistas, talvez uma dúzia de pessoas, tira imagens fotográficas ao templo da Praça 8 de Maio.
Junto ao encerrado restaurante Carmina de Matos vários papéis voam descoordenadamente, acompanhados com restos de maços de tabaco e “piriscas”. Uma folha de jornal, meia amarfanhada é empurrada pela brisa e vai apanhar em cheio uma das senhoras. Calmamente, a cidadã estrangeira retira o papel do rosto, embrulha-o com a ajuda das duas mãos, olha em volta à procura de um recipiente para colocar o lixo, como não avistasse nenhum, demarca-se dos amigos e vai colocá-lo no café Santa Cruz.
O grupo caminha agora em direcção à Rua da Sofia. Vai tirando fotos aos velhos colégios. A mesma senhora que apanhou em cheio a folha de jornal aponta agora para o beco do Restaurante a Democrática: vários sacos com detritos, uns abertos outros fechados, jazem inertes naquele beco carregado de história. Ao longo da Rua da Sofia avistam-se vários sacos com lixo, acompanhados com vários papéis à volta.
Ou porque ficassem desmotivados ou não, a verdade é que voltaram para trás, em direcção à Praça 8 de Maio e entraram na Rua da Louça. Conversa aqui, foto acolá, chegam ao Largo do Poço. Junto ao Pedrosa, loja de confecções para criança, vários detritos estão à vista de todos. Um dos sacos, certamente colocado ali no dia anterior, sábado, foi esventrado por um qualquer animal. A mesma senhora fez um comentário jocoso, que não deu para perceber.
Continuam agora em direcção à Rua Eduardo Coelho. Ao longo desta artéria, é visível o lixo miúdo espalhado ao comprido desta ruela. No Largo da Freiria, junto a um receptáculo de papéis diversos, o aspecto é lastimoso. Para além de aparentemente estar cheio, vários sacos de várias cores fazem companhia ao “mostrengo” para que se não sinta só. Entre o grupo, parecia haver unanimidade de que a Baixa era uma porcaria –salvo seja. Entram na Rua das Padeiras, a mesma triste e decadente lixeira. Um homem do grupo faz estancar os demais. Aponta para a Rua do Almoxarife: vários sacos, uns abertos outros fechados, estão espalhados ao longo da rua histórica do almoxarifado. As pombas, entretidas no repasto, nem se dignaram cumprimentar os turistas visitantes.
Vão andando, com o mesmo cenário de companhia, e entram na Rua Adelino Veiga. A mesma coisa. Vários sacos de lixo jazem por lá como se constituíssem o mote para novos poemas alusivos ao mau-cheiro na rua do grande poeta. A praça do Comércio, um pouco melhor, mas pouco menos. E chegam ao Largo da Portagem. Junto ao Banco de Portugal, um deles faz menção de todos se sentarem numa das esplanadas existentes junto à estátua de Joaquim António de Aguiar. Chegam junto a uma delas e, por entre as cadeiras e mesas, com várias pessoas sentadas, o lixo no chão é variado e à escolha, como se fizesse parte da calçada portuguesa. Já não se sentaram. Como havia outra agradável ao lado, encaminharam-se para lá. Debalde. A mesma coisa. O chão está pejado de papéis, bocados de cigarros e pacotes de tabaco. Também não se acomodaram ali. Nos seus rostos, notava-se uma sombra de tristeza e frustração. Continuaram, e entraram na rua Ferreira Borges. Embora o chão estivesse “mais-ou-menos”, como quem diz “assim-assim”, os sacos por lá, espalhados, emolduravam a rua. A Visconde da Luz, um pouco mais mal cuidada do que a anterior, tinha também vários sacos de lixo. Debaixo de um banco de madeira uma fralda plástica, recém-utilizada, mostrava que qualquer sítio serve para depósito de excrementos.
Encaminharam-se então para a esplanada do café Santa Cruz –que em Agosto está aberto ao domingo, um bom exemplo, saliento. É então que uma senhora do grupo, colocando os braços em direcção ao céu, grita: “Eureka” –em inglês, obviamente. Para logo, seguidamente, colocar as mãos no peito. Pelo arfar, estava cansada mas feliz. Tinham corrido toda a Baixa mas encontraram um sítio limpo para tomarem uma bebida.
Embora não me convidassem para os acompanhar no refresco, fiquei feliz por eles. Por mim, por si, por outros tantos visitantes que aí virão, fiquei deveras apreensivo. O que fazer com isto? Olhe, vá pensando. Eu sei que você, leitor, tem a solução. Descarregue-a aqui, nos comentários. Pode ser que alguém (ir)responsável pela salubridade da urbe leia este pequeno texto e pense que é urgente mudar este cenário desgraçado de lixeira.

5 comentários:

Anónimo disse...

Parabens pela sua visita,acompanhando os turistas. A senhora,treve mesmo azar com a malvada folha do jornal.
Mas tem toda a razão.É verdade que as mentalidades de algumas pessoas é dificil mudar. Não é menos certo que os serviços de limpeza da C.M.C., tinha um piquete para a recolha de residuos sólidos, mas não funciona. Talvez para Outubro 09, uns dias antes das eleições, volte a funcionar. Que tristeza!!!
Olhe, que não é por falta de insistência da incomodativa Junta de Freguesia de S. Bartolomeu, que as coisas não melhoram. Posso dizer-lhe que já foi proposto ao Vereador responsável a colocação de uma brigada de limpeza para a Freguesia de S. Bartolomeu, brigada essa que teria a orientação do Executivo.
Garanto-lhe, que não seria preciso muitos dias para fazer mais e melhor.
Mas também, os moradores e comerciantes teriam que colaborar.

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado pelo comentário, senhor Clemente. Saliento, sem demagogia, que não me refiro à Junta de Freguesia de São Bartolomeu. Sei bem o esforço que é feito por este executivo para mudar o actual cenário de limpeza da Baixa. Embora a talhe de foice, nunca é demais lembrar, porque não distribuir em toda a freguesia uns panfletos aos moradores e comerciantes a lembrá-los de que o lixo deve ser apenas colocado à noite e, enquanto essa tal brigada de limpeza de que fala não funcionar, jamais ao sábado durante o dia. É normal os residentes e comerciantes abandonarem os resíduos durante o dia e, mais propriamente ao sábado às 13 horas. Ou seja, o centro histórico, ao fim de semana, fica com o aspecto que ilustro nas fotografias.
Já há muito que defendo que estas medidas, para funcionarem, têm de ser acompanhadas, efectivamente, com coimas aos prevaricadores. O óptimo seria que estas pessoas entendessem que a rua envolvente às suas casas ou aos seus negócios também é sua, mas debalde. Já o escrevi várias vezes, tratam a cidade como uma prostituta: servem-se dela e abandonam-na. Nomeadamente os comerciantes "usam-na" (para ganharem a sua vida) de segunda a sábado até às 13 horas. Depois desse horário é como se pouco lhes importasse o que possa acontecer ao "oceano" onde praticam a faina diária de pesca. Porca miséria! Enquanto isto acontecer, bem podemos pedir em prece, a todos as imagens santificadas de esperança; aos Pratas, aos Secos, aos Queirós, a todas as Catarinas e outros santos populares, pseudos-milagreiros, que nos ajudem a cuidar da Baixa.

LUIS FERNANDES disse...

Para não ser acusado de discriminação, volto atrás. Esqueci-me do mais popular de todos, e que até tem o seu altar na Baixa, na Rua Fernandes Tomás, o nosso venerado santo popular Encarnação, o protector de todos os pomares laranjas da margem direita.
Pelo lapso, ao visado santo, penitencio-me. Fogo! Não vá ele, pelo meu descuido, descarregar a sua ira omnipotentíssima cá no humilde escriva.

Anónimo disse...

LUIS FERNANDES, pretendo informar que já se executaram duas campanhas de sensibilização para a limpeza da Baixa de Coimbra, com a colocação de cartazes solicitando o cumprimento do horário para a colocação de residuos sólidos na via pública. Resultado de todo o trabalho (0). Algumas pessoas são assim. Olhe que já me livrei de levar com um saco de lixo,jogado de uma varanda na Rua Ferreira Borges. Tenho a certeza que não me era dirigido, mas as pessoas são assim e continuam.
Obrigado pela sugestão e porque vem de si,assumo que voltarei a repetir essa campanha.
Quanto a "COIMBRA COM AMOR", é de rir. Este slogan, nem na minha aldeia que muito estimo.
Sabe amigo, estas coisas de se fazer politica "COM AMOR" é para garantir o tacho aos seguidores!!
Veja-se por exemplo o que se passa no Convento da 8 de Maio;
Mulheres de directores, filhos de Directores, sobrinhos de Vereadores e para arrematar alguns lugares para Presidentes de Junta. E essa hem!!!
Um abraço

Carlos de Freitas Almeida Nunes disse...

Nunca entendi o porquê de quando alguém chama alguma coisa pelos seus verdadeiros nomes é logo apodado de demamagogo, para não escrever outras coisas. Estamos num tempo em que poupar (gerir bem) é reduzir custos. Estamos num tempo em que bom político é aquele que faz propaganda, não aquele que humildemente serve os cidadãos que o elegerem e muito mais aqueles que o não elegeram. estamos num tempo em que qualquer dia para se trabalhar é preciso pagar. Estamos num tempo no qual mostrar o que se não deve, até, como é o caso, mostrar algumas alternativas, o que revela reflexão sobre o que se escreve, é considerado chauvinismo. Há tempos a esta parte que sigo o seu blogue com a atenção que me permite a vida. Um blogue sobre o real, muitas vezes sobre o real estado em que se encontra a Baixa Coimbrã. O santo protector dos laranjais, herdeiro de um célebre lente do tempo de Trindade Coelho não é mais que um mero personagem desta triste e esconsa de vistas casta que se vai mantendo na governança de uma cidade que merece todos os esforços para acabar com os pretensos jardins no Mondego, o lixo no coração da parte mais nobre desta cidade. Depois chamam-nos demagogos. Não faz mal, quem ficará mal na fotografia da história serão eles. Os que desgovernam, governando-se.
Sejam estes de que quadrante forem a cidade sobreviverá, como sempre sobreviveu, entre apogeus e quedas. O problema está em que o tempo do senhor doutor acabou. Alguns ainda não o entenderam, porque ainda há quem lhes alimente esse malfadado fado coimbrão. Sabemos que a cidade não se resume a uma parte, neste caso a Baixa. Ela é um todo, no entento a marca Coimbra estabelece-se através da sua parte mais nobre, aquela que atrai forasteiros quer pela diferença, pelas gentes que nela existem, pelo seu pulsar e não por aquelas que são iguais em todo o lado. Amar Coimbra não deveria ser slogan, deveria ser lema de vida para quem a governa. Há quem pense que se o Portugal dos Pequeninos estivesse debaixo da alçada camarária já há muito teria deixado de ser o que na realidade é: um motivo para que muitos se desloquem a Coimbra. Bem me podem dizer que Santa-a-Clara-a-Velha finalmente foi restituida à cidade que dela quis fazer uma lixeira. Sem dúvida, embora muito tarde ela aí está. Demoraram muito tempo, preocupados em rentabilizar as quintas das flores, foram-se esquecendo do essencial.