segunda-feira, 10 de agosto de 2009

CANSAÇO




Tenho dias, como hoje, meio frouxo, estou cansado,
sem alento, folha seca esvoaçante, apetece-me partir,
ir na onda, na brisa, à procura de um lugar encantado,
que sem saber onde, nem distância, gostava de ir;
Estou cansado de não ser, aquele que deveria ser,
que tudo dá, em devota entrega, mas parece nada dar,
tentando tudo satisfazer, mas sem nunca corresponder,
como seta perdida, almejando alvo, sem nunca acertar;
Quero ser a outra parte, indivisível, notada, admirada,
a meia-laranja, que sem ela, sem alma, é corpo vão,
o fruto desejado, alquimia de mago, a banana descascada,
o desejo louco, a luxúria, o pecado, que provoca insatisfação;
Estou cansado de sonhar, pensando, com lugares que desconheço,
imaginando o sol, a lua, um prado verde, o rio calmo, até o mar,
detalhes, que quando acordo sem dormir, são tudo o que pareço,
uma alma errante, perdida, à procura de carinho, sem encontrar;
Estou cansado de ser tudo, mesmo não sendo, para agradar,
sempre à espera de amanhã, tentando não ferir sensibilidades,
o dia vem, a noite, outra semana, outro mês, nada parece mudar,
a não ser eu, como camaleão, vou adaptando as minhas vontades;
Já nem sei o que é o desejo, ser desejado, já nem quero desejar,
nas noites longas, mal dormidas, só procuro compreender,
a razão de tantas discussões, finca-pés, para poder remediar,
na insónia, viro-me para um lado, para outro, sem entender;
Estou cansado, fatigado, de nunca ter sido bom companheiro,
ser perdulário, demasiado generoso, pouco trabalhador,
ser tudo, sem ser nada, gerar insatisfação, não ter dinheiro,
passando a vida a dar, no vazio, parece que nunca dei amor;
Estou cansado de partir, sem partir, num veleiro, e querer viajar,
conhecer novos mundos, novas pessoas, outros sóis, sem nada ter,
quem me aceite como sou, com defeitos, virtudes, sem apontar,
quem me reconheça “pessoa”, única, de “deve” e “haver”.

Sem comentários: