quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

BARRÔ: ENSAIO PARA QUE A FESTA DE ANO NÃO ACABE (3)

 



Nos últimos três dias, numa espécie de rosário (terço), trazendo à discussão a festa de ano em Barrô, fui desfolhando as contas. Ainda que possa parecer provocatório, a intenção é, trazendo o assunto à liça, tentar perceber o que se passa, dando ideias, e, pelos interessados, fazer reflectir para o futuro.

Bem sei que, alguns, estarão a pensar: “olha p’ra ele armado em esperto. Se sabe tanto, que faça ele!

Como ressalva, pelo que vou escrever a seguir, mais uma vez peço desculpa se alguém se sentir ofendido.

Levando à letra o pensamento que me levou a redigir esta série de textos, a solução para elevar esta terra no espectro concelhio não reside num homem só, mas sim num grupo de moradores dispostos a largar a sua área de conforto e que esteja disposto a romper com a inércia, a preguiça da inactividade. Sobretudo, despender algum do seu tempo em nome de um projecto social sem fins lucrativos que, destinado a um colectivo amorfo e silencioso, pode falhar e implicar o endividamento dos envolvidos.

Apesar de habitar, de facto, há cerca de quatro anos, já deu para ver que, na generalidade, os moradores na aldeia são pouco solidários uns com os outros.

Numa catarse mal tratada, muitos permanecem em conflito consigo mesmos desde que nasceram e procuram na religião a abstracção que lhes traga a redenção.

Numa espécie de capa comunitária de mentira, todos se dão bem. Mas isso é apenas o que parece. No fundo, bem no fundo, dissimulado nas entranhas, há um ódiozinho de estimação a minar as relações de fraternidade.

Voltando a ideias que possam dar resistência e manter a festa de ano de pé, vou elencar algumas “deixas”:


1 -Anualmente, deveriam ser nomeadas duas comissões de mordomos:


A sacro, que seria responsável unicamente pela realização das homilia e procissão solene.

Este grupo, constituído por três residentes, embora independente, ficaria ligado à Comissão de Capela. Com uma conta bancária associada mas autónoma, este movimento de entradas e saídas de dinheiro, embora sobre consulta por parte da comissão de capela, apenas seria movimentado por dois elementos nomeados para gerir a festa do ano em curso.

Em caso de contas positivas, sempre tornadas públicas sejam negativas ou positivas, o remanescente deveria ser depositado num fundo de reserva transitando de um ano para o seguinte e servir de almofada a quem vier de novo.

A este grupo de três pessoas, mais que certo senhoras, durante o ano de vigência mordoma, cabe-lhe tomar várias iniciativas, na aldeia e fora dela, de modo a conseguir verbas que lhe permita fazer melhor do que o ano anterior – mais abaixo enumero uma série de actividades que podem ser aplicadas, isto para além do peditório directo ao povo;


2 A profana, constituída por três pessoas essencialmente homens, seria a comissão nomeada anualmente para realizar as festividades alegóricas, tais como, arruada com gaiteiros, contratação de grupos de baile e outras iniciativas artísticas.

Embora independente, este grupo ficaria ligado à Associação Recreativa - tenho esperança que, mais dia menos dia, acorde do seu longo sono letárgico -, com uma conta bancária independente do clube. Esta conta seria movimentada por dois dos três mordomos nomeados. Em caso de resultados positivos, o remanescente transitaria para um fundo de reserva, para servir de almofada para os anos seguintes.

A Associação Recreativa, sem força executiva nos planos de mordemia, serviria como incubadora, parte consultora e comparte na ajuda à realização dos eventos;


3 – Iniciativas para angariar fundos ao longo do ano (que podem servir para as duas comissões Sacra e Profana):


Janeiro – percorrer as casas com o cantar das Janeiras (5, 6 e 7 de Janeiro), pedindo dinheiro ou géneros. Esta alegoria seria para usar na festa a seguir, passados uns dias.

- Pedir nos estabelecimentos comerciais, no concelho, géneros variados.

- Os géneros, garrafas de vinhos, licores, chouriças, salpicão, presunto, broa, roupas, artigos de bricolage, outros, seriam leiloados no Sábado ou Domingo do Dia da Festa, a ocorrer em 20 de Janeiro, no Largo da Capela.

- Alguns destes géneros, assim como outros angariados, seriam canalizados para uma quermesse com rifas enroladas junto à capela e outra dentro do salão recreativo.

- Sendo este o dia das festividades, recuperar a moda do Ramo, a dança da flor nos arraiais.

- Venda de garrafas, ou outros, em leilão nos intervalos musicais.

- Concurso para os melhores pares dançantes.

-Realizar, neste dia, uma Feira de Velharias no Largo Assis Leão.


Fevereiro – Feitura de vários livros, com senhas numeradas, com três prémios a sortear no dia da festa.


Março – Primeiro peditório porta-a-porta na povoação. Possibilidade de angariar fundos em outros lugares da freguesia.

(usar o Dia de Páscoa como instrumento para captar fundos)


Abril – Primeiro grande almoço a realizar na Associação Recreativa de Barrô para angariação de fundos.


Junho – (re)criar os populares “cravanços”, constituídos por duas pequenas fitas cruzadas e um alfinete.

Começar a cravar os populares com uma moeda, fora e dentro do lugar.


Julho – Realizar o segundo almoço na Associação Recreativa de Barrô, para angariar fundos.


Setembro – Realizar um almoço no Pavilhão de Várzeas para angariar fundos – em troca, Várzeas usaria o salão de Barrô em Novembro, aquando das festas locais.


Novembro – Num Domingo, realizar uma matiné na Associação Recreativa de Barrô com um grupo musical, por exemplo, um organista e outro.

Convidar, por exemplo, o Ruizinho de Penacova para actuar em Barrô.


Dezembro – Usar o presépio de Natal, no Largo da Capela, como incentivo a pedir donativos aos visitantes.


FIM


Sem comentários: