(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Ontem,
em reportagem de duas páginas e sob o título “Há uma nova
geração de “inquilinos” empenhada em mudar a Baixa para
melhor”, o Diário de Coimbra, conforme nos vem habituando nos
últimos anos, presenteava-nos com um trabalho profundamente
optimista sobre o que se passa na actualidade na Baixa, pincelado a
cores vivas, para agradar a todos. Há apenas um senão, quando o
relato é descrito numa espécie de euforia, com a imaginação a
suplantar a realidade, os conhecedores da situação real tomam a
descrição como sendo de outro mundo. E foi o que me aconteceu.
Primeiro, comecei por beliscar-me para ver se não estaria a sonhar e se este Centro Histórico seria o mesmo que eu conheço bem há muitas décadas.
Vendo que estava acordado, li três vezes a reportagem. Era mesmo.
Pelas
declarações dos depoentes, na maioria ligados a empreendimentos de
hotelaria, depreende-se que a Baixa está a caminho de ser a nova
Silicon Valley de Portugal. Num desenvolvimento como nunca se viu,
parece uma cota toda apertadinha onde as formas firmes e apetecíveis
fazem revirar os olhos aos adolescentes. Só que o problema é que
tais generosos e abundantes contornos, como “verdades palacianas”, não
passam de mentiras para enganar os tolos. Num dar exagerada importância a si mesmo, em exercício narcísico, até
se entende já que o parecer é mais importante do que o ser mas, que
diabo, nem que fosse pela solidariedade que atravessam os que têm
mais dificuldades, a meu ver, fica mal esta prosápia. Bem sabemos
que só pensa nos outros aquele que já sofreu as agruras da vida.
Sobretudo os mais novos, que não fazem ideia do que passaram os pais
para alcançarem uma posição económica desafogada, têm tendência
em desvalorizar tudo o que está para trás e considerarem os
“velhos” como resignados e fora do tempo presente.
A
dificuldade começa, porventura, quando for preciso apresentar
reivindicações na Câmara Municipal. Com este discurso inflamado de
que a Baixa vive no melhor dos mundos como justificar novas medidas
necessárias ao seu desenvolvimento?
Até
porque basta pensar que, em três páginas mais à frente do mesmo
jornal, foi noticiado um assalto rocambolesco ao proprietário de “A
Brasileira”, Lúcio Borges, ocorrido no dia anterior, domingo
pelas 07h00, em plena rua larga na Baixa, no coração turístico da
urbe. Pelos vistos, sem um único agente da PSP por perto, o
reconhecido empresário teve de pedir a um condutor particular para
perseguir o assaltante. É normal acontecer uma coisa destas numa
parte da cidade em que tudo corre sobre-rodas?
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