Ontem,
Dia da Cidade, Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de
Coimbra, deu uma entrevista ao Diário as Beiras. Ao jornalista Paulo
Marques o edil respondeu a várias questões. Salvo melhor opinião,
para quem lê, a ideia que fica no ar é que Machado fala de uma
cidade cosmopolita que não é Coimbra. Em que lugar estaria a
pensar? Braga? Guimarães? Ficam as interrogações.
Lendo a frio, sem
partidarismo ideológico, o que ressalta neste diálogo, nas
respostas dadas, é uma profunda intenção de mostrar uma urbe que
na prática não existe. É um defender para a frente de um político
acossado, alvo de perseguição, sem planos para o futuro sobretudo
para a recuperação da Baixa comercial e habitacional, que, a todo o
custo, precisa de mostrar ao eleitorado que nestes quatro anos muita
coisa se fez e, se Deus nosso Senhor ajudar a reelegê-lo, ainda vai
ser melhor no futuro.
Para
melhor se compreender, vou deixar (apenas) algumas perguntas e
respostas que considero mais importantes:
Paulo Marques (PM)
começa com a pergunta: Coimbra está em festa e, nesta altura,
meia cidade sai à rua. Todavia, no resto do ano, os conimbricenses
pouco ou nada usufruem do espaço público e da oferta de eventos, na
sua cidade. Porquê?
Respondeu Manuel Machado (MM): Eu não sinto isso.
Aliás, os números revelam que não é assim. Basta atentar em
estudos recentes que relevam a posição cimeira de Coimbra em
rankings de qualidade de vida. Um, por exemplo, coloca a cidade em
4.º lugar, no todo nacional, em itens como poder de compra, turismo,
etc., a seguir a Lisboa, Porto e Braga e à frente de Setúbal,
Aveiro e Leiria.
“Eu não sinto isso.”
PM: Já a Baixa continua a não conseguir atrair pessoas...
MM: Como disse, não tenho nada essa percepção. Agora, admito
que existe em alguns sectores, mas que, como se vê, carece de ser
demonstrada, não por propaganda mas por factos concretos. De resto,
lembro que, em 1994, quando mandei fechar o canal da Baixa e a Praça
8 de maio, houve muita gente a bradar que ia ser a desgraça total.
Não foi. Agora, vamos fazer a Via Central, com o equilíbrio e os
cuidados urbanísticos que devem ser tomados e com o trabalho, em
simultâneo, do Fundo Box. Mas já estamos a ver as dificuldades e as
resistências. Esta área da cidade, especialmente sensível, precisa
de estímulos e de intervenções desta natureza.
“Agora, admito que existe em alguns sectores,
mas que, como se vê, carece de ser demonstrada, não por propaganda
mas por factos concretos.”
PM: Porque se instalou a ideia de que a dinâmica empresarial
em Coimbra está estagnada?
MM: Estagnada? Só pode afirmar isso quem não sabe nada de
nada. Basta olhar para os muitos casos de empresas com êxitos,
empresas com inovação e com modernidade. Coimbra é uma cidade
desejada.
“Estagnada? Só pode afirmar isso quem não sabe
nada de nada.”
PM: A verdade é
que a indústria “foge” de Coimbra...
MM: A Bluepharma é
uma grande indústria. E há outras. Mas eu não tenho nenhum
preconceito, tal como não tive quando, noutros tempos, muitas
grandes indústrias que havia aqui definharam e fecharam. Agora, o
que se está a fazer é sério e os resultados não chegam de um dia
para o outro. Veja que acabámos agora de aprovar um regulamento
específico para apoio às iniciativas empresariais -o Coimbra Investe. Levou muito tempo a produzir, a encontrar o modelo adequado.
Depois, há um clima de cooperação entre a Universidade, o
Politécnico e as empresas...
“Mas
eu não tenho nenhum preconceito, tal como não tive quando, noutros
tempos, muitas grandes indústrias que havia aqui definharam e
fecharam.”
PM:
O problema, então, é o da má imagem?
MM:
Não é verdade que Coimbra tenha má imagem...
“Não
é verdade que Coimbra tenha má imagem...”
PM:
Desculpe, mas tenho de discordar. A imagem da cidade, no país, é
má, feita de estereótipos como “parou no tempo”, “muitos
doutores”, “bafienta”, “à sombra da torre”...
MM: Vejamos: há
uma coisa que caracteriza Coimbra que é a elevada qualificação e
formação das pessoas que aqui vivem, face à média nacional.
Depois, existe uma extraordinária qualidade de serviços aos
cidadãos, forte centralidade, boas acessibilidades e tem vindo a
melhorar a qualidade do espaço urbano, com forte aposta na
reabilitação do edificado, que já está a dar os seus frutos.
Agora, o que é preciso é investir sobretudo na autoestima...
“Agora,
o que é preciso é investir sobretudo na autoestima...”
PM: Como
assim?
MM:
Desde sempre, coisas de grande valor que aqui se realizam são
desvalorizadas e alvo de críticas. Há sempre uma coisita que
perturba quem cá vive...
Ora, o
que eu vejo noutras cidades, sobretudo as mais pequenas, é que
qualquer iniciativa, qualquer evento, que se faça tem sempre uma
propagação enorme.
“Há
sempre uma coisita que perturba quem cá vive...”
PM: O
que se ganhou com a inscrição da Alta e da Sofia na lista da
UNESCO?
MM:
Todos sabemos que foi um projecto muito demorado e complexo, mas está
conseguido. Agora, há um compromisso do Estado, da Câmara Municipal
e da Universidade para a preservação do bem classificado, que é a
Alta, a Universidade e a Rua da Sofia – classificada não apenas
pelo edificado mas também pelo bem espiritual que representa,
enquanto berço dos colégios das ordens de formação superior. Um
deles, aliás, era o Colégio das Artes, que funcionava no Pátio da
Inquisição e para onde chegou a estar contratado como professor
Erasmo de Roterdão.
“Todos
sabemos que foi um projecto muito demorado e complexo, mas está
conseguido.”
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