Hoje
foram as cerimónias fúnebres de Vasco Berardo, conhecido artista
multifacetado em várias áreas como a cerâmica, escultura,
medalhística e artes plásticas.
Há meses faleceu Mário Silva e há cerca de um ano faleceu Cunha Rocha, outro grande vulto
das artes pictóricas. Sem particularizar, anteriormente outros
grandes nomes se finaram. É nestas alturas que, enquanto cidadão e
munícipe ligado profissionalmente ao oficio dos talentos, dou por
mim a ser tomado de um sentimento de ingratidão por parte de Coimbra
para com todos aqueles que isoladamente, como embaixadores culturais,
levam longe o nome da cidade. Se a morte é o pano que se abate
sobre o espectáculo da vida criativa, e aqui termina tudo,
contudo, também em vida raramente os executivos da Câmara
Municipal, enquanto órgão de governo local e de representação
pública, tem uma homenagem simples, ou preocupação pelo seu estado
financeiro, para estas pessoas. Individualmente, só lhes dá atenção
se os visados atingirem uma notoriedade além fronteiras e amiúde
ocuparem espaço nos media ou então se estiverem ligados aos
partidos que compõem o governo da urbe. Para estes dois grupos,
seguindo o exemplo do país, podem os seus nomes serem perpetuados em
ruas, campos de futebol e bustos espalhados pela cidade.
No
limite, pode perguntar-se: e porque raio há-de a autarquia
diferenciar os artistas entre si e do comum dos cidadãos?
Diferencia-os entre si, por que se associados, sabe-se, a edilidade
concede subsídios ao seu desempenho. Portanto, não fazendo o mesmo
enquanto criadores sozinhos, estou em crer, estamos perante uma
discriminação negativa do particular e benefício exagerado para o
grupo associado. O que separa o artista do comum dos cidadãos
trabalhadores, no essencial, é que o primeiro é um visionário que
só ele acredita no seu mundo encantado. É um Ser contraditório em
potência. É um lobo solitário no meio da multidão. Afirma-se
racional e é um emotivo de coração lacrimejante. Personagem algo
mediúnico, transcendental e metafísico, sente-se um obreiro
iluminado e, para manter viva a sua criatividade, se necessário,
está disposto a morrer pelo seu sonho. Já o segundo, o trabalhador,
faz o que for preciso para sobreviver. Ou seja, enquanto o
verdadeiro artista é um personalista centrado numa linha de
originalidade e acérrimo defensor da dignidade da pessoa humana e
com esta singularidade, abdicando do lucro fácil, projecta a sua
obra para a posteridade social, já o segundo, o vulgar artífice,
buscando proveitos imediatos, tem uma ideia de massificação e,
tomando a amostra pelo todo, não distingue o lindo do belo.
MAS,
EXPLIQUEMO-NOS...
Todos
sabemos que não vivemos num mundo perfeito, e se assim fosse, pela
exacerbada perfeição perante um humano incompleto e imperfeito,
logo seria tomado como defeituoso. No entanto, sendo cada um de nós
um eventual revolucionário em potência -mesmo que seja no campo
opinativo-, tomando consciência social de que não está tudo feito
e que, enquanto cidadãos interessados, nos cabe ajudar a tornar o
nosso meio melhor, podemos perfeitamente apresentar ideias. Se irão
ser aproveitadas? Isso já é outra questão. Ora, o que quero dizer
com isto é que, independentemente do seu grau de fama, os artistas
enquanto vivos deveriam ser acompanhados, merecedores de apoio
social local, e vistos com um outro olhar de grandiosidade cultural.
Aquando
da sua morte, nas exéquias, o seu caixão deveria ser coberto com a
bandeira da cidade. Para além disso, na subsequente reunião do
executivo deveriam todos, sem excepção, merecer um elogio de louvor
-tanto quanto julgo saber só alguns são mencionados depois da sua
morte.
E
mais ainda, deveria ser criado um mural em pedra, um recordatório,
onde gravados na laje ficariam identificados para memória futura.
Certamente locais apropriados não faltarão, mas, por exemplo, o
Centro Cultural São Francisco, cujas paredes exteriores em mural
abundam, poderia ser um local apropriado.
Valerá a pena pensar nisto?
Valerá a pena pensar nisto?
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