“A
essência de haver um problema é não haver uma solução.”
Fernando
Pessoa
Em
aforismo, diz o povo que para grandes problemas soluções simples.
Às vezes há respostas tão óbvias que, por serem tão evidentes,
nos levam a questionar a razão de continuar a haver problemas.
Vem
isto a propósito de hoje, em primeira página, os dois jornais da
cidade, Diário de Coimbra e Diário as Beiras, noticiarem o furto de
150 grelhas, em ferro fundido, de sarjetas em meio ano e da
responsabilidade de reposição pela empresa municipal Águas de Coimbra (AC).
A
primeira questão que se levanta é perguntar se, de facto, este
desvio é recente. Para quem lê jornais facilmente responde que este
fenómeno, em Coimbra, já tem barbas, sobretudo e pelo menos desde
há cerca de três anos a esta parte e quando o preço dos metais
subiu exponencialmente a nível mundial. Ou seja, como o valor pago
por quilo de resíduos será alto, o crime compensa bastante para
quem furta e quem recepciona.
A
segunda interrogação é a razão de não terem sido tomados
cuidados que evitassem o descalabro em tempo útil, isto é logo no
início dos desaparecimentos.
Não
é preciso ser economista para verificar que, contrariamente ao que
parece ser sugerido, a solução deste problema social não reside na
apresentação de queixa na polícia para a descoberta dos autores.
Este procedimento, aliás obrigatório numa empresa pública, é uma
mera prerrogativa de função administrativa. Como acção de
eficácia, era preciso ter substituído o ferro fundido por cimento
ou pedra, que eram os materiais usados no Estado Novo (1933-1974). E mais ainda:
recorrer menos a grades e mais a cavidades interiores nas bermas e
encravados nos passeios para escoamento de águas pluviais. E por que
não foi seguida esta ajuizada metodologia? Claro que não sabemos,
mas podemos sempre aventar: se calhar na AC não haverá arquitectos
ou a haver, sem ofensa para a classe, estes profissionais de projecto
não conhecem o sistema antigo de escoadura; a AC ser accionista de
uma fábrica de fundição de ferro; haver demasiado dinheiro na AC e
que não obrigue a empresa a prevenir e a poupar nos custos de
execução.
Seja
lá o que for que esteja por detrás desta ineficácia, perante as
diárias dificuldades das empresas particulares, esta inusitada falta
de visão económica, este desperdício irrita até um santo homem
como eu -modéstia à parte, é claro. Se não houver mais alguém,
pelo menos a mim deixa-me fora de controlo.
Vale
a pena pensar nisto?
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