segunda-feira, 10 de julho de 2017

EDITORIAL: SE QUERES DINHEIRO VAI AO TOTTA...

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Há três semanas encerrou a dependência do Santander-Totta na Rua Visconde da Luz. A indicação colada no vidro informa que os serviços bancários estão disponíveis na Rua da Sofia, a cerca de duzentos metros e num outro balcão da mesma instituição já existente há décadas.
Se, por um lado, dentro da racionalidade de custos que qualquer empresa se obriga, este fecho não causa surpresa, já que tendo outra representante a escassas centenas de metros não faria muito sentido manter as duas, e sobretudo num sector profundamente em crise, pelo menos na banca portuguesa -o Santander é de capital espanhol-, por outro, é mais um espaço que claudica na Baixa. Quero dizer que, no silêncio envolvente da economia e do financeiro, quer sejam bancos ou negócios pequenos, os estabelecimentos que marcaram a paisagem citadina nas últimas décadas, como nevoeiro em manhã de Agosto, vão desaparecendo.
Em exclamação de lavar as mãos, pode até dizer-se: se é a economia a funcionar, morrendo uns e nascendo outros, o que se há-de fazer? De facto, pouco ou nada podemos fazer. Mas o que é certo é que a Baixa vai ficando cada vez mais vazia de comércio e serviços. Ainda há pouco mais de uma hora conversava com um colega comerciante que se queixava do tempo despendido em instituições para tratar de assuntos. Dizia ele: “são agora treze horas. Olha que estou desde as 09h30 para tratar de problemas da minha firma. Ou seja, demorei três horas e meia em três instituições. Quer sejam dos sectores público ou privado, todos se preocupam em atingir o mínimo de funcionários, mas esquecem que essa minimização acaba, inevitavelmente, por atingir os que mais precisam, que é a pequena empresa.

E A BAIXA CONTINUA A ENCOLHER...

Embora ninguém queira saber -nem mesmo os interessados-, os espaços, paulatinamente, continuam a cerrar portas. Neste fim de mês vai encerrar outro micro negócio com vinte anos de existência, na zona da Praça 8 de Maio -a seu tempo identificarei o local.
Como solitário sentado nas rochas a ver o mar, tomando o que está a acontecer na Baixa como fenómeno natural, sentimo-nos observadores impotentes a contemplar as ondas a ir e a vir.
Para complicar mais a nossa forma de estar, fazendo-nos crer que vivemos num outro mundo, segundo o INE, Instituto Nacional de Estatística, bem aproveitado em discurso político do Governo e avalizado pelo Presidente da República, a confiança dos portugueses na economia continua a subir. Se calhar, digo eu, os políticos viverão num outro Portugal que não o que se fala e escreve aqui.

E A POLÍTICA LOCAL FAZ O MESMO...

Ontem foi o último dia das Festas da Cidade. Foram gastos cerca de 300 mil euros. Para além disso, vamos lendo na imprensa diária e semanal que mais três campos de futebol, na periferia, foram contemplados com relvados sintéticos no valor de mais de 500 mil euros, e outras obras na cidade de muitos milhões. Quando uma maioria de cidadãos conta os cêntimos para se aguentar, custa muito a entender este desbaratar de pecúlio público. São milhares, milhares e mais milhares. É uma ofensa à dignidade do munícipe comum que (sobre)vive entalado entre o princípio e o fim do mês.
Bem sei que há uma maioria silenciosa que, desde que haja fogo de artifício, entrada gratuita na Feira Popular e concertos musicais à borliú, adora este velho conceito romano de pão e circo. Quem escreve contra este tipo de política barata é logo apelidado de Velho do Restelo, pessimista, azedo com a vida e por aí além.
De quatro em quatro anos -e tanto faz ser o partido laranja como rosa-, o investimento em obras sem grande utilidade ou em festarolas é cada vez maior.
Acerca dos problemas verdadeiros do povo, aqui sim deveria haver investimento, os políticos não querem saber. É a política ao contrário. Em vez de se tentar melhorar a vida dos cidadãos todos os dias e para o futuro, como uma aspirina para a dor de cabeça, é gerada a ilusão de felicidade durante duas semanas. Mas é ísto que a maioria quer, não é? E como em democracia é a maioria que manda, seja atrelada a carroça à vontade do burro!

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