(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Há
três semanas encerrou a dependência do Santander-Totta na Rua
Visconde da Luz. A indicação colada no vidro informa que os
serviços bancários estão disponíveis na Rua da Sofia, a cerca de
duzentos metros e num outro balcão da mesma instituição já
existente há décadas.
Se, por um lado, dentro
da racionalidade de custos que qualquer empresa se obriga, este fecho
não causa surpresa, já que tendo outra representante a escassas
centenas de metros não faria muito sentido manter as duas, e
sobretudo num sector profundamente em crise, pelo menos na banca
portuguesa -o Santander é de capital espanhol-, por outro, é mais
um espaço que claudica na Baixa. Quero dizer que, no silêncio
envolvente da economia e do financeiro, quer sejam bancos ou negócios
pequenos, os estabelecimentos que marcaram a paisagem citadina nas
últimas décadas, como nevoeiro em manhã de Agosto, vão
desaparecendo.
Em exclamação de lavar
as mãos, pode até dizer-se: se é a economia a funcionar, morrendo
uns e nascendo outros, o que se há-de fazer? De facto, pouco ou nada
podemos fazer. Mas o que é certo é que a Baixa vai ficando cada vez
mais vazia de comércio e serviços. Ainda há pouco mais de uma hora
conversava com um colega comerciante que se queixava do tempo
despendido em instituições para tratar de assuntos. Dizia ele: “são
agora treze horas. Olha que estou desde as 09h30 para tratar de
problemas da minha firma. Ou seja, demorei três horas e meia em três
instituições. Quer sejam dos sectores público ou privado, todos se
preocupam em atingir o mínimo de funcionários, mas esquecem que
essa minimização acaba, inevitavelmente, por atingir os que mais
precisam, que é a pequena empresa.”
E
A BAIXA CONTINUA A ENCOLHER...
Embora
ninguém queira saber -nem mesmo os interessados-, os espaços,
paulatinamente, continuam a cerrar portas. Neste fim de mês vai
encerrar outro micro negócio com vinte anos de existência, na zona
da Praça 8 de Maio -a seu tempo identificarei o local.
Como solitário sentado
nas rochas a ver o mar, tomando o que está a acontecer na Baixa como
fenómeno natural, sentimo-nos observadores impotentes a contemplar
as ondas a ir e a vir.
Para complicar mais a
nossa forma de estar, fazendo-nos crer que vivemos num outro mundo,
segundo o INE, Instituto Nacional de Estatística, bem aproveitado em discurso político do Governo e
avalizado pelo Presidente da República, a confiança dos portugueses
na economia continua a subir. Se calhar, digo eu, os políticos
viverão num outro Portugal que não o que se fala e escreve aqui.
E
A POLÍTICA LOCAL FAZ O MESMO...
Ontem
foi o último dia das Festas da Cidade. Foram gastos cerca de 300 mil
euros. Para além disso, vamos lendo na imprensa diária e semanal
que mais três campos de futebol, na periferia, foram contemplados
com relvados sintéticos no valor de mais de 500 mil euros, e outras
obras na cidade de muitos milhões. Quando uma maioria de cidadãos
conta os cêntimos para se aguentar, custa muito a entender este
desbaratar de pecúlio público. São milhares, milhares e mais
milhares. É uma ofensa à dignidade do munícipe comum que
(sobre)vive entalado entre o princípio e o fim do mês.
Bem
sei que há uma maioria silenciosa que, desde que haja fogo de
artifício, entrada gratuita na Feira Popular e concertos musicais à
borliú, adora este velho conceito romano de pão e circo. Quem
escreve contra este tipo de política barata é logo apelidado de
Velho do Restelo, pessimista, azedo com a vida e por aí além.
De
quatro em quatro anos -e tanto faz ser o partido laranja como rosa-,
o investimento em obras sem grande utilidade ou em festarolas
é cada vez maior.
Acerca dos problemas
verdadeiros do povo, aqui sim deveria haver investimento, os
políticos não querem saber. É a política ao contrário. Em vez de
se tentar melhorar a vida dos cidadãos todos os dias e para o futuro,
como uma aspirina para a dor de cabeça, é gerada a ilusão de
felicidade durante duas semanas. Mas é ísto que a maioria quer,
não é? E como em democracia é a maioria que manda, seja atrelada a carroça à
vontade do burro!
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