quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A ESPERANÇA NUM PAPEL





O velhinho inspecciona o boletim,
está absorto, certamente, a imaginar,
provavelmente, acordado, a sonhar,
com a parte, que não teve neste jardim;
Ai se eu ganhasse o Loto em fortuna!
saía do lar onde estou hospedado,
aposto, pela família seria visitado,
deixaria de ser pária, barco escuna;
Largaria este banco, porto de abrigo,
passaria ser o Senhor José, pessoa,
ai de certeza, ia passear até Lisboa,
largaria o estigma de pobre, castigo;
Arranjaria uma mulher nova, bonita,
para poder apreciar a sua beleza,
jamais ela esqueceria a minha pobreza,
nem eu; mas deixaria de ser eremita;
Ser velho e pobre é demasiado drama,
só sente quem chega cá, neste sofrer,
quando somos novos, é o amanhecer,
nunca planeamos o fim do programa;
Sentado neste banco mais a pomba,
vendo os transeuntes passar rápido,
indo sós, em pensamentos acrobáticos,
estou sozinho nesta solidão hedionda;
Gostava de conversar com alguém,
com quem me olhasse profundamente,
falar de coisas vãs, uma palavra ardente,
para ser gente, não me sentir “ninguém”;
Pensando melhor, que se dane a lotaria,
dinheiro, na minha idade, não é condição,
preciso é de paz, ter alguém numa aflição,
o que quero mesmo somente?…ALEGRIA!"

Sem comentários: