quarta-feira, 20 de maio de 2009

O EXTRAORDINÁRIO LEONARDO...






(UMA AMOSTRA DO TRABALHO EXTRAORDINÁRIO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)



Leonardo nasceu nos Açores, mais propriamente em Vila Franca do Campo, São Miguel. Desde menino foi sempre um ser especial. Muito tímido, mas essa imanente reserva era compensada pela sua extrema sensibilidade. Parecia ler o interior dos seus semelhantes. Quando falava com alguém, parecia dotado de presciência, quase sempre adivinhava o que o outro ia dizer.
Em Vila Franca do Campo todos gostavam de “Leo”. Não tinha muitos amigos. Talvez o maior de todos fosse o seu irmão “Manel”. A amizade era um sentimento muito especial para ser desperdiçado de qualquer maneira, costumava dizer.
Desde cedo Leonardo se sentiu próximo de Deus. Era profundamente místico. Sentia que Ele era o seu guia e protector. Sentia-se tocado por Ele, pela Sua omnipotência.
Era mais fácil vê-lo sozinho do que acompanhado. Sentado naquele penhasco sobre o atlântico, com o olhar perdido no horizonte, Leonardo parecia voar sobre as nuvens, atravessando oceanos e o cosmos. Quando caminhava pelas veredas estreitas do casario da ilha, aparentemente perdido, olhando demoradamente, parecia gravar na memória os gestos, o olhar da “ti” Ana. “Leo” era um nefelibata, parecia andar sempre nas nuvens, como se não apercebesse a realidade. Entendê-lo mesmo, verdadeiramente, só mesmo a sua mãe. Entre os dois parecia que o cordão umbilical não tinha sido cortado fisicamente à nascença. Continuavam ligados de corpo e alma.
Na escola básica e no secundário foi um aluno médio. Os professores sempre acharam que Leonardo, se quisesse, poderia ir muito mais longe.
Quando acabou o ensino liceal veio para o continente, mais propriamente para Coimbra. Foi aluno de Medicina Veterinária, na Escola Vasco da Gama. Mas este curso não o motivou. Muitas vezes os seus amigos o apanharam a contemplar as águas calmas do Mondego ali ao lado. Anteviam, apenas, nesse gesto de aparente nostalgia, a saudade da sua ilha longínqua e as águas transparentes do Atlântico. Sempre que podia andava com a sua companheira: a sua máquina fotográfica. A fotografia era o seu mundo. Era através dela que Leonardo expressava a sua sensibilidade. “Leo”, através dos retratos, era um caçador de expressões sentimentais. Era como se ele, tratando a impressionabilidade por tu, com poder extra-sensorial, conseguisse, através da máquina, ver o que ninguém mais via. As suas fotos não mostram apenas paisagens ou pessoas, mostram, isso sim, o âmago, o interior das coisas, o espírito, a alma da pessoa retratada.
Em Coimbra deixou uma marca profunda em quem conviveu de perto com ele. “Era um ser único! Uma pessoa muito meiga, muito querida, justa e muito sensível”, enfatizam num acordo de saudade.
Como a veterinária não lhe dizia nada, Leonardo transferiu-se para a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, onde era aluno em 2008.
Quis o destino, naquele ano de 2008, encurtar a vida de Leonardo. Como ladrão, este fado, esta fatalidade, este acaso, com 25 anos apenas, roubou-nos precocemente um talentoso artista, talvez, se tivesse tido tempo, o maior fotógrafo de todos os tempos.
As suas imagens, obras-primas deixadas à humanidade como testemunho da sua passagem por este mundo, são um monumento à vida que Leonardo não viveu. Dê uma alegria aos seus olhos, dê alento à sua alma. Venha comprovar tudo o que lhe disse até aqui. Vá na próxima sexta-feira, dia 22, e na segunda a seguir, até quarta, dia 26, visitar a primeira grande exposição de fotografia “PINTAR COM LUZ” –“Homenagem a Leonardo Braga Pinheiro”, à Escola Superior da Tecnologia da Saúde, em São Martinho do Bispo, em Coimbra.
Pode também ver esta belíssima exposição de imagem na Baixa. Estará patente no Café Santa Cruz no próximo sábado, dia 23, e a partir de quinta-feira, dia 27, e até 31 deste mês de Maio.
Um agradecimento muito especial à sua amiga de sempre, a Soraia Lopes, que contra ventos e marés, tudo fez para que a memória do seu amigo não se perca e acreditando sempre que Leonardo, através da obra deixada entre nós, não desapareceu. Está bem “vivo” entre nós através daquelas extraordinárias fotografias.

1 comentário:

Ana Santo disse...

Eu estive com o Leonardo na maior parte dos momentos retratados nessa exposição, fotografar era a única coisa que o deixava realmente feliz, e eu felizmente fui a primeira pessoa a ver cada uma dessas fotos em primeira mão. Lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje, do brilho nos seus olhos, daquele sorriso maravilhoso, da alegria dele, cada vez que tirava uma foto que ele achasse que era realmente boa, aí, vinha ter comigo todo contente e mostrava-me as fotos. Fotografar era o seu passatempo favorito, e eu acompanhava-o sempre que podia, aprendi imenso com ele sobre Fotografia. "Henri Cartier Bresson" um fotógrafo magnífico, era o seu ídolo, e a frase "Pintar com Luz" vem daí "Cartier Bresson" dizia que fotografar era "Desenhar com Luz". O Leonardo podia passar um dia inteiro a procura da fotografia perfeita, daquela fotografia que lhe tocasse no coração, que lhe dissesse algo, era muito exigente e todas as fotos dele têm um significado muito forte. ("FOTOGRAFAR É COLOCAR NA MESMA LINHA DE MIRA, A CABEÇA, O OLHO E O CORAÇÃO") frase de Henri Cartier-Bresson. A sua paixão pela Fotografia, as suas tendências, os seus gostos, ninguém os conhece melhor do que eu. Das fotos que estão no post, a primeira foto foi tirada em Rabo de Peixe - S. Miguel, a segunda foto foi em Vila Franca do Campo - S.Miguel, a casa retratada já não existe com muita pena dele, a terceira foto foi tirada na Nazaré, a Sra da foto estava muito envergonhada, mas o Leonardo com a sua simpatia derretia o coração de qualquer um e tirou-lhe as fotos que quis, a quarta foto foi tirada na Baixa de Coimbra a um senhor que lá vende castanhas no Inverno, a quinta foto foi tirada na Baixa de Coimbra, naqueles dias de maratona fotográfica em que nos deparámos com um rancho a dançar na rua, esta fotografia fazia-o lembrar a sua Mãe e o Amor que ela tinha por ele, a sexta foto foi tirada em Ponta Garça - S.Miguel e é a sua avó. Leonardo era a minha alma gémea, o meu amigo, meu namorado, o meu anjo protector, sincero, verdadeiro, muito dedicado, de uma sensibilidade enorme e um coração do tamanho do mundo, tive a sorte de fazer parte da vida do Leonardo durante 3 anos lindos, cheios de Amor e Dedicação. Para mim ele continua vivo para sempre no meu coração, para sempre gravado na minha alma e no meu corpo...
A eterna namorada Ana Santo