Ontem, por volta das 19h00, ao chegar à aldeia, fui alertado por um vizinho, “ó António, ó António, vem cá! Tu que és o escrivão cá da terra, podias escrever sobre esta miséria – e apontou os contentores cheios de lixo e a transbordar. As pessoas, sem critério, põem tudo no reservatório, depois é o que se vê: mau-cheiro e moscas aos montes. Desculpa lá estar a aborrecer-te com isto”, finalizou.
Não dei a certeza que ia escrever. Como tantas vezes, sem o dizer, em cenário idêntico, um pouco irritado, fico a pensar: que diabo, porque não escreves tu um e-mail direccionado à autarquia, ou telefonas? Por que tenho de ser eu? Não, não vou fazer isso. A obrigação de comunicar uma anomalia que resulte em prejuízo público, é uma responsabilidade social colectiva, de todos, sem excepção. E, entre o escrevo e não escrevo, fui a matutar no assunto.
Como em tantas dezenas ou centenas de vezes que isto me aconteceu com outros, em que me pedem para dar a cara numa solicitação, acabo sempre por escrever. Em solilóquio, em conversa surda com os meus botões, entre prós, lá vou dizendo: que raio, escreve lá isso! Nem te custa nada! E até gostas de escrever…
Às 21h30, duas horas e meia depois, estava a enviar um e-mail para a edilidade a dar conta do estado pouco consentâneo dos depósitos de excedentes.
Hoje, durante a manhã, os reservatórios de entulho foram despejados. Saliento que esta foi a segunda vez em que, depois de envio de e-mail, os serviços camarários de higiene responderam prontamente.
Como se sabe, na generalidade, incluindo eu, estamos sempre inclinados para dar “porrada” nos serviços públicos, mais concretamente na prestação de serviços à comunidade. Em pré-juízo estereotipado, achamos que todos funcionam mal. Mas quando somos atendidos com especial atinência raramente elogiamos. E devemos ser equilibrados no julgamento, entre a crítica negativa e o aplauso.
Primeira lição a reter:
- Não julgues antecipadamente uma instituição ou pessoa sem a testares e ouvires as suas razões;
- Não perguntes à tua cidade o que pode fazer por ti. Interroga antes o que podes fazer por ela (John F. Kennedy);
- Como cidadão, munícipe, sem qualquer receio de dar a cara, colabora com os serviços públicos, comunicando o que te parece menos bem no teu bairro, na tua rua;
- Não te preocupes se ainda estás longe do mínimo. A seu tempo, vendo o resultado do teu esforço, atingirás uma boa classificação;
- Procede com o teu vizinho como gostarias que ele procedesse contigo. Comportamento gera comportamento.
Vale a pena pensar nisto?
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