quinta-feira, 30 de setembro de 2021

ELEIÇÕES NA MEALHADA: ASCENSÃO E QUEDA DOS PEQUENITOS

 




Se houve surpresas nas três forças candidatas à Câmara Municipal da Mealhada, nos chamados concorrentes maiores, em boa verdade, também nos deparámos com o resultado inesperado na contagem de votos por parte dos partidos mais pequenos, isto é, com menos representatividade no Concelho.

Como se sabe o Iniciativa Liberal (IL) concorreu em associação com a coligação Juntos Pelo Concelho da Mealhada, por isso, embora seja um dos dois partidos emergentes a disputar as eleições na terra do leitão, é impossível saber o número de folhas dobradas a seu favor.

Outro partido em ascensão e que se apresentou a concurso para o executivo da autarquia foi o CHEGA. E aqui a primeira surpresa – ou talvez não, se entendermos que a sua divulgação, numa espécie de fenómeno nacional, assenta no protagonismo de um homem só, nomeadamente, André Ventura.

Sabendo que apenas com algumas entrevistas impessoais, sem programa eleitoral, sem comparecer em nenhum debate radiofónico, a candidata Nélida Gomes obteve 151 votos, podemos interrogar? E se fosse uma candidatura bem preparada, como seria? Quantos votos obteria? Poderemos ser levados a pensar que em 2025 o CHEGA poderá ser uma séria ameaça para o PSD, se entretanto os sociais-democratas não se reorganizarem e arrumarem a casa?


QUEM TRAMOU ANA LUZIA?


Nas eleições autárquicas de 2017 o Bloco de Esquerda (BE) obteve 632 votos e elegeu uma deputada à Assembleia Municipal, Ana Luzia Cruz. Nesta eleição do último Domingo o BE conquistou 296 e não elencou ninguém.

E aqui sai logo a primeira interrogação? O que aconteceu para haver uma derrocada nas intenções de voto? Sobretudo, porque, ao logo dos últimos quatro anos, o trabalho da deputada, alegadamente, foi muito interessante. Foi de tal modo reconhecido que a secção do BE local começou a sonhar alto, e a pensar em ter um vereador no executivo.

Então, insisto, o que aconteceu? Como não tenho nenhuma bola de cristal, como é óbvio, não sei… mas posso aventar. Ou não fosse esta a minha intenção quando comecei a escrever esta crónica.

Começo com uma pequena nota: o BE é um partido recente, foi fundado em 1999. Com a junção de três forças políticas, a União Democrática Popular (marxista), o Partido Socialista Revolucionário (trotskista-mandelista) e a Política XXI (socialista democrática). Com a extinção das agremiações que o compõem e com outras influências veio a ser o Bloco de Esquerda. Mas não igual ao de hoje. Sobre a batuta de Francisco Louçã como coordenador, apelidando-se de “Nova Esquerda”, entre outros cortes com o chamado “sistema”, era contra a permanência de Portugal na Comunidade Europeia.

Muito virado essencialmente para questões fracturantes, perdendo a única Câmara Municipal que conquistou, Salvaterra de Magos, em 2016 elegeu como coordenadora Catarina Martins. Vindo a ocupar um espaço político importante entre o PS e o PCP, transformou-se num partido de bandeira para as minorias, tem vindo a fazer a sua prova de vida na Assembleia da República. É um fenómeno de causas nas grandes cidades, como Lisboa, Porto e Coimbra. Nas restantes pequenas cidades, como a Mealhada, tem e terá sempre dificuldades em se implantar. A menos que, perdendo de vista o evangelho nacional, se adapte às circunstâncias sociais de cada concelho, sobretudo que utilize uma linguagem mais terra-a-terra e menos filosófica.

No caso presente da sua queda, estou em crer que os seus mais de 300 votos perdidos foram canalizados para o movimento Mais e Melhor, liderado por António Jorge Franco.


E A CDU?


A coligação CDU, constituída pelo PCP e PEV, em 2017 na Mealhada, conseguiu 617 votos. Nestas eleições foram apurados 408. E novamente a pergunta de retórica, para onde foram os duzentos e pouco votos?

E para mais levando em conta que a campanha eleitoral no Concelho foi muito empenhada. Com um bom candidato à Câmara Municipal, José Marques, com um discurso simples, directo e entendível por todos – largando a tradicional cassete -, a CDU merecia mais. Mesmo assim manteve o seu deputado na Assembleia Municipal, João Louceiro.

Então, mas, afinal, o que aconteceu? E eu sei lá? No mínimo posso especular.

O PCP na Mealhada, a meu ver, se não mais difícil ainda, está no mesmo patamar de implantação do BE. Ser comunista num concelho rural como é a Bairrada é um acto de extrema coragem. O estigma, o fantasma, do Estado Novo ainda paira por aqui.

Tal como aconteceu com o BE, mais que certo, os votos depositados na urna levavam a mensagem de útil, ou seja, concentrar todas as fichas na mesma força para derrubar Rui Marqueiro.

Vale a pena pensar nisto?


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