sexta-feira, 2 de julho de 2021

MEALHADA: MEDIDAS SEM CONTA NEM MEDIDA (3)



Por estes dias, os munícipes do Concelho de Mealhada foram surpreendidos com três medidas – salvo melhor opinião, avulsas – que fazem arregalar os olhos por serem feitas em cima do joelho, atabalhoadamente, quase sem pensar.

Depois de comentar o Serviço de Transporte Flexível a Pedido (SIT Fexi) e o “Mealhada Porta a Porta”, que constitui o projecto de distribuir quatro mil ecopontos domésticos para recolha selectiva de vidro, papel e papelão e plástico e embalagens, para já, na cidade de Mealhada, hoje vou escrever sobre o novo sistema de bicicletas partilhadas, o “BipeBipe”.

Segundo a página do município no Facebook, “O processo é simples e gratuito: o utilizador deve registar-se, obter o seu cartão e, de seguida, pode usar as bicicletas. O cartão tem a validade máxima de um ano.

Neste momento, há duas as estações de parqueamento com bicicletas disponíveis: uma localizada junto à Câmara Municipal da Mealhada e outra junto ao Centro de Interpretação Ambiental, no Parque da Cidade da Mealhada. Para usar as Bipe -Bipe, o munícipe tem que fazer um registo - na secretaria da Câmara Municipal, no Posto de Turismo da Mealhada ou no Centro de Interpretação Ambiental - que lhe conferirá a atribuição de um cartão de utilizador que permite desbloquear a bicicleta nas duas estações de parqueamento. Cada utilização decorre por um período máximo de duas horas, seguido de 30 minutos de paragem obrigatória para nova utilização.

Enquadrado nesta temática da mobilidade e no âmbito da Pacto de Autarcas 2030 e na Estratégia de mobilidade sustentável da Região de Coimbra, surgem as BipeBipe, que integra uma estratégia de sustentabilidade alargada que abrange várias vertentes: o uso de sistemas que permitem a diminuição do consumo de recursos e o aumento da eficácia da sua utilização; a exploração do conceito multimodal de deslocações urbanas com a otimização da utilização da bicicleta (deslocações mais amigas do ambiente); a mudança de estilos de vida; o conhecimento; o avanço tecnológico; a melhoria da qualidade ambiental de todos os cidadãos (local e globalmente)”.



CRÍTICA



Nos últimos tempos, de Norte a Sul, em vários concelhos do país, fomos invadidos por duas modas aparvalhadas: os passadiços em madeira e a distribuição gratuita de bicicletas. Nos primeiros, nos passadiços, até se entende o seguidismo, é uma forma de valorização turística da zona onde são implantados e é um investimento, já que pelo seu atravessamento implica um pagamento.

Já na colocação de bicicletas não se entende muito bem – pelo menos eu tenho dificuldade em compreender. É um projecto que absorve grandes verbas, quer na compra de velocípedes, quer na construção de infra-esturas básicas, os parques de estacionamento e as chamadas ciclovias. E o que mais custa a aceitar é o facto de, para além de implicar grandes aplicações de capital em vias próprias para as duas rodas, sendo gratuito para os utilizadores, não se vislumbrar um retorno directo.

Pode até dizer-se que a intenção majorada é tentar motivar os munícipes, numa espécie de aprendizagem, a utilizar um transporte não poluente. Mas este argumento justifica tudo? Ou estamos perante um esbanjar de dinheiro público sem o devido cuidado?

E se houver acidentes em que o ciclista-utilizador for manifestamente culpado? De quem é a responsabilidade? As bicicletas vão ter seguro de acidentes pessoais? Não esquecer que nos últimos tempos morreram 20 pessoas que se deslocavam em bicicletas.

Tenho para mim que o Estado não deve dar nada sem receber algo em troca – a não ser quando se trata de medidas profilácticas, que sirvam para prevenir doenças, como por exemplo as vacinas contra o Covid-19. E quando dá, a doação deve ser geral e abstracta e não localizada, para não discriminar os cidadãos, quer em função da idade, ou outro factor.

Faz sentido oferecer passeios de bicicleta aos mais saudáveis, mais novos, e fazer pagar medicamentos aos doentes, mais idosos?

Em função deste meu pensamento, dá para ver que as bicicletas disponibilizadas na Mealhada favorecem, implicitamente, os moradores na cidade. Em contrapartida, discriminam os munícipes que habitam mais longe dela. Já não seria assim se a utilização fosse onerada.

A ver vamos, como diz o cego.

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