sábado, 10 de abril de 2021

OPERAÇÃO MUDAR O VÍRUS

Tanto tempo, sempre a levar com o Corona, era na rua, na rádio, nos jornais, na televisão, não se nota, mas já estou aloucado da mona, já não escrevo, não rezo nem uma só oração, dei em engordar por causa de uma hormona, deixei de dormir, dou três voltas no colchão, não sonho ser um macho latino, sou um chona, julgo-me um velhinho de bengala, uma aflição, perdi a libido, o desejo, perdi a testosterona, dou mais umas voltas no leito, perdi a tesão, no Multibanco, a máquina diz que estou na lona, dei um pontapé no aparelho, fui para a prisão, não imagino o que se passa, tudo me abandona, se calhar é o maldito Corona, ou então maldição, ai, se viesse outro e largasse este que me aprisiona… Eis então que ontem surgiu o milagre, uma bênção, de uma assentada nasceram vários vírus em Portugal, Sócrates, Rosa, Ministério Público, corrupção, Ticão, Alexandre, falsificação, tribunal, acusação, por sinal mortal para a justiça, na confiança do povo morcão, haja Deus, meu Salvador, meu Pai, meu anti-viral, estou salvo da pandemia que me atrofiava o coração, estava farto, esmorecido de tanta repetição banal, como relâmpago que vem e vai, mal se vê na televisão, esta noite já dormi como um anjinho, sem razão causal, o mastro levantou como se mareasse em oceano de ilusão, recupero rapidamente a testosterona que só vinha no Natal, já emagreci dois quilos, estou quase a ser de novo gabão, bendito sejas, ó novo vírus, que mudaste tudo, ó informal, espalha-te por aí à vontade, mesmo tendo na origem um ladrão.

Sem comentários: