terça-feira, 13 de abril de 2021

LUSO: JANELA DA CUSQUICE

Intervalado com umas bátegas de água, o dia de hoje, com alguns espaços para sacudir, esteve praticamente quase sempre nublado. Numa dessas ilhas temporais em que, apesar de cinzento, se estava bem na rua, os dois homens, já entradotes nos “entas”, estavam sentados junto à Fonte de São João, no Luso. Envolvidos pela tranquilidade do correr contínuo da água nascida na Serra do Bussaco e saída pelas onze bicas, o “Manel” Pascácio e o “Xico” Assarapantado comentavam as últimas. Num rebate de ideias sempre em contraditório e muito acesso, em que cada um defendia os seus pontos de vista, depois da política internacional, caindo a seguir na análise nacional sobre a “Operação Marquês” e mais propriamente na posição do juiz Ivo Rosa em despronunciar José Sócrates numa grande parte dos alegados crimes nomeados em acusação pelo Ministério Público, a discussão, em torno de apontar um culpado para o estado a que isto chegou, prometia dissensão, divergência de opinião. Foi então que o “Xico” Assarapantado, sempre mais perspicaz, vendo que a coisa podia azedar, numa espécie de ritual que significava pausa em linguagem gestual, levantando o chapéu e cofiando o bigode todo enrolado nas pontas, atirou: - Ó compadre Pascácio, vamos deixar esse tema para outra conversa futura e passemos à política local. Pode ser? O que é que há de novo por entre os burriqueiros, os naturais de Luso? -Ai, então o compadre ainda não sabe? Respondeu o Pascácio em trejeito interrogativo. Não me diga que ainda não lhe chegou aos ouvidos que o “Miro” (Claudemiro Semedo), o nosso presidente da Junta de Freguesia, foi convidado para vereador? - Não, não sabia. Palavra de honra, compadre! Não me diga?!? - Retorquiu o Assarapantado, ficando ainda mais assarapantado. E prosseguiu, gosto dele. É um tipo humilde e respeitador, aparentemente sem maldade. Se calhar, estava melhor na junta que ir lá para baixo (para a Mealhada). Parece-me que terá mais futuro aqui. Vai se meter no meio de uma luta de galos pelo poder. Vai arrepender-se, compadre… - Ora, ora! – interrompe o Pascácio. Se ele for em lugar elegível, o lugar, tendo em conta o ordenado quase triplicado, vale a pena… - E só o dinheiro que conta? É, compadre? Atalhou o Assarapantado. Por um lado é bom para a alternância, para dar lugar a outro, mas… (e ficou com a frase pendurada)

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