Seja Verão, seja Inverno, faça Sol, faça chuva, no pequeno lavadouro público de Barrô, construído pela Junta de Freguesia de Luso há cerca de quatro décadas, praticamente desde o primeiro dia que a obra comunitária foi erguida, vamos encontrar a Augusta de Jesus Vieira, de 78 anos, debruçada sobre o tanque de um total de oito lugares. Com vista privilegiada para o Barreiro, o vale fértil e celeiro da aldeia, onde se avistam a dois passos laranjeiras e outras árvores frutícolas, a Ribeira do Salgueiral e o velho moinho e, misturado com o chilreio dos passarinhos, se ouve as suas águas límpidas a baterem palmas à natureza, pela acalmia paradisíaca, presume-se, Deus teria passado por ali.
De um grupo de três resistentes, a Augusta é a única que marca o ponto todos os dias. Ou melhor, marcava, porque desde há cerca de um mês que, por avaria no sistema de enchimento automático, as torneiras do Lavadouro estão secas e silenciosas. Desde esse dia de secura, os dias de Augusta nunca mais foram iguais. Segundo diz, já por mais que uma vez comunicou a anomalia ao senhor presidente da Junta de Freguesia de Luso. Por entre uma tristeza velada no rosto, vai dizendo: “tenho a certeza que este atraso se deve à pandemia. Só pode ser, porque o Miro - Claudemiro Semedo, presidente da Junta de Freguesia de Luso -, nunca me falhou.
Ainda há dias, para ver se fico mais bem-disposta, liguei uma mangueira da minha casa - que é ao lado - para encher um tanque e conseguir lavar uns tapetes. Sabes, esfregar, torcer e lavar ali é o meu refúgio espiritual. Entendes? Se calhar não… É lá que ponho os meus pensamentos em dia. É um distraio! Se lavar em casa não é a mesma coisa!”
Nos primeiros anos de 1960, a Augusta, a esposa do “Zé” Maria, barbeiro, juntamente com um grupo de mulheres de Barrô, onde se incluía a minha mãe, foi lavadeira do Grande Hotel de Luso – engraçado é que eu, mesmo tendo cerca de cinco anos nessa altura, consigo lembrar-me desse tempo.
Prossegue a Augusta, “tenho a certeza que este meu gosto veio daí, do lavar a roupa do Grande Hotel, à mão. Apesar das imensas dificuldades, quem me dera esse tempo de volta, ter a mesma idade, e saber o que sei hoje!”
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