sábado, 13 de fevereiro de 2021

BARRÔ: A TRISTEZA DA LAVADEIRA

  




Seja Verão, seja Inverno, faça Sol, faça chuva, no pequeno lavadouro público de Barrô, construído pela Junta de Freguesia de Luso há cerca de quatro décadas, praticamente desde o primeiro dia que a obra comunitária foi erguida, vamos encontrar a Augusta de Jesus Vieira, de 78 anos, debruçada sobre o tanque de um total de oito lugares. Com vista privilegiada para o Barreiro, o vale fértil e celeiro da aldeia, onde se avistam a dois passos laranjeiras e outras árvores frutícolas, a Ribeira do Salgueiral e o velho moinho e, misturado com o chilreio dos passarinhos, se ouve as suas águas límpidas a baterem palmas à natureza, pela acalmia paradisíaca, presume-se, Deus teria passado por ali.

De um grupo de três resistentes, a Augusta é a única que marca o ponto todos os dias. Ou melhor, marcava, porque desde há cerca de um mês que, por avaria no sistema de enchimento automático, as torneiras do Lavadouro estão secas e silenciosas. Desde esse dia de secura, os dias de Augusta nunca mais foram iguais. Segundo diz, já por mais que uma vez comunicou a anomalia ao senhor presidente da Junta de Freguesia de Luso. Por entre uma tristeza velada no rosto, vai dizendo: “tenho a certeza que este atraso se deve à pandemia. Só pode ser, porque o Miro - Claudemiro Semedo, presidente da Junta de Freguesia de Luso -, nunca me falhou.

Ainda há dias, para ver se fico mais bem-disposta, liguei uma mangueira da minha casa - que é ao lado - para encher um tanque e conseguir lavar uns tapetes. Sabes, esfregar, torcer e lavar ali é o meu refúgio espiritual. Entendes? Se calhar não… É lá que ponho os meus pensamentos em dia. É um distraio! Se lavar em casa não é a mesma coisa!

Nos primeiros anos de 1960, a Augusta, a esposa do “” Maria, barbeiro, juntamente com um grupo de mulheres de Barrô, onde se incluía a minha mãe, foi lavadeira do Grande Hotel de Luso – engraçado é que eu, mesmo tendo cerca de cinco anos nessa altura, consigo lembrar-me desse tempo.

Prossegue a Augusta, “tenho a certeza que este meu gosto veio daí, do lavar a roupa do Grande Hotel, à mão. Apesar das imensas dificuldades, quem me dera esse tempo de volta, ter a mesma idade, e saber o que sei hoje!


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