quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A BAIXA ENTRE O PASSADO ANTIQUADO, O PRESENTE TECNOLÓGICO E O FUTURO DIGITALIZADO







O jornal Público de ontem, em primeira página e a contar um alerta na Web Summit, escrevia o seguinte: “Estamos a deixar-nos colonizar pelas empresas de tecnologia”. A Web Summit é uma das feiras mais importantes na área da ciência, principalmente para quem está ligado a “startups” e ao empreendedorismo. Depois da ideia ter sido vendida a peso de ouro ao Governo como a entrada para a caverna de Alibabá, em que ficará por cá até 2028, esta iniciativa realiza-se, este ano, pela primeira vez em Lisboa, depois de 7 edições em Dublin.
Num exercício estapafúrdio, creio que vale a pena fazer uma análise ao que está acontecer na Baixa de Coimbra. Será que esta zona comercial segue a moda apregoada, isto é, as empresas de inovação e ciência estão a monopolizar o Centro Histórico?
Relembramos que em Abril, último, foi noticiado na imprensa que a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, num projecto de 300 mil euros, comparticipado pela CCDRC, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, em 85 por cento, foi-lhe também atribuída pela autarquia uma verba de 45 mil euros para a instalação de 20 empresas “startups”, indústrias criativas, na Baixa. Passados mais de seis meses não se vislumbram estes investimentos. Por onde andarão os ditos?


ENTRE O DEVE E O HAVER


Desde Janeiro, último, e até esta data, encerraram na Baixa 26 espaços comerciais, alguns deles com história e levando vários funcionários para o desemprego. Faço notar que não incluo algumas transferências de lojas que se deslocalizaram por questões de rendas ou melhor localização.
Em contrapartida, reabriram 20 estabelecimentos de áreas diferenciadas:

Hotelaria e alimentar: 7
Rádio e audiovisual: 1
Velharias e artigos decorativos: 2
Roupas: 3
Bugigangas/ artigos eléctricos: 2
Artesanato/tabacaria: 2
Sapataria: 1
Livraria: 2


Em observação sobre os novos empreendimentos, constata-se que só mesmo na restauração - em dois casos, nomeadamente o Nut’s, no Largo da Portagem, e o restaurante Refreito, no Terreiro da Erva – e num alimentar – a Comur, no Largo da Portagem - foram feitos investimentos de monta e originando novos postos de trabalho.
Nas restantes amostras de novas aberturas, retirando um caso de uma livraria - a Casa do Castelo, na Rua da Sofia- e uma sapataria – a Veludo Carmim, na Rua da Louça – salvo algum olhar menos atento, praticamente todos os 15 investimentos foram originados na lógica de auto-emprego.
Por outro lado ainda, dá para verificar que em aplicações de roupas (3) quem chegou de novo, no artigo que vende, é igual ao que já havia. Quem veio, sem ter o cuidado de fazer uma prospecção de mercado, ou ouvir quem cá está há muitos anos, sem enriquecer a diversidade, implantou-se notoriamente para se auto-flagelar e, numa concorrência improcedente, prejudicar e dificultar a vida aos que por cá já andam aos papéis.


QUE ÁREAS FAZEM FALTA NA BAIXA?


Como se pode ver, na maioria, os investimentos que têm sido realizados são sempre precários, numa óptica de pouco risco e facilitismo, e na direcção de preencherem o auto-emprego. Isto é, para além de se estar a tornar tudo igual, com a mesma oferta, a Baixa, para além de ficar cada vez mais empobrecida, fica cada vez mais descaracterizada.
Contrariando a onda do politicamente correcto, de que o futuro reside unicamente na área tecnológica, no Centro Histórico não existem ofícios que fazem falta todos os dias, como exemplo:

- Carpintaria/marcenaria/torneiro de madeiras
- Construtor de instrumentos musicais
- Ceramista, pintor de louça (salienta-se que a fábrica Antiga de Coimbra, no Terreiro da Erva, está a relançar a arte para, creio, turista ver)
- Restaurador de arte sacra/dourador
- Restaurador de móveis
- Oficina de Ferro forjado
- Loja dedicada a bordados/ tear/ensino de ajour
- Restaurador de cerâmica/oleiro
- Vitralista
- Picheleiro (o vulgo latoeiro)
- Espaço dedicado a pequenas reparações familiares


Bem sei que para que estas profissões em desaparecimento regressassem à Baixa de Coimbra seria necessário a intervenção camarária, nomeadamente com apoios a incluir o Cearte e alteração do uso do espaço privado e público. Mas, interrogo, o executivo municipal quer saber sobre o que se passa nesta parte da cidade?
Será que não valerá a pena pensar nisto?

1 comentário:

Miguel Serrano disse...

é um vazio cada vez maior. O lobby dos grandes centros comerciais, a falta de lugares de estacionatemto na baixa. Uns com vistos "Gold", outros forçados a fechar portas e despedir colaborades. "Criativos & Ideias" para a baixa ; precisam-se.