sábado, 13 de março de 2010

SE UM DIA FOR PRESO, QUERO UMA PRISÃO ASSIM






  Já fiz muita coisa na vida. Como toda a gente, umas que me orgulho e outras nem por isso. Mas, de certeza absoluta, somos todos assim. Só quem nunca se expos, arriscou ou correu riscos, pode afirmar que nunca passou a “red line”.
Sempre achei que todos, impreterivelmente todos, deveríamos ter um tempo, “pro bono”, para serviço social. Acabou-se com o serviço militar obrigatório e passou a voluntariado. Esta medida, sendo nós um país que não está em guerra com ninguém, a não ser consigo mesmo, até está certa. Mas, quanto a mim, esse tempo, cerca de um ano, dedicado às armas, deveria ter sido substituído por serviço à comunidade. Seria uma forma de fazer passar todos os cidadãos por serviços que nunca conhecerão por dentro. Muitas vezes, devido a este desconhecimento, por exemplo, se maltrata um empregado de um qualquer café porque ele demorou um pouco mais a trazer a “bica”. Se todos passássemos apenas um mês a trabalhar num qualquer bar, saberíamos o quanto custa aturar, tantas vezes a má educação da maioria.
Sentados numa mesa de café, pela forma como cada um de nós fala para o funcionário, pela sua vicissitude, na agressividade e paciência, deve ser o local onde mais facilmente nos revelamos psicologicamente, na forma idiossincrática.
As pessoas, no geral e sobretudo em grandes cargos de responsabilidade, deveriam começar de baixo. Progressivamente, só depois de subirem todos os degraus da hierarquia é que deveriam poder atingir o topo –lembremo-nos, por instantes dos “boys”, os dois administradores, de cerca de trinta anos, da PT, e que tanto barulho têm feito ecoar nos corredores políticos partidários.
Lembremos o caso dos juízes. Acabam a licenciatura nas faculdades de direito, mais dois anos de estágio, entram no CEJ –centro de Estudos Judiciários- e após três anos, sem qualquer experiência empírica de vida, passam a decidir a sorte ou má sorte de milhares de pessoas. Esta situação não pode perdurar muito mais tempo –aqui, neste caso, o Bastonário, Marinho e Pinto, tem muita razão.
Antigamente, para se chegar a juiz, salvo erro, tinha de se advogar durante dois anos, depois passar pelo Ministério Público, indo para os confins de Portugal, tomar contacto com a vida terrena das vilas do fim do mundo, e só depois, então, se poderia aceder ao lugar de juiz.
Depois de visionar este vídeo, comecei a escrever este texto. Era minha intenção levar isto a brincar. Eu queria apenas dizer que um dia, se vier a ser preso, queria uma prisão assim. Quando começo a escrever raramente sei onde me leva a escrita e aqui, nesta prosa, foi igual. Acabei por construir um texto quase sério.
Pegando na “prisão”, a mesma coisa, dentro do tal serviço cívico de que falava em cima, todos deveríamos ser obrigados a trabalhar num presídio, pelo menos durante dois meses. Esse contacto com os presos, ajudaria em muito a desmistificar a ideia de que as penitenciárias são apenas para os outros. Faria cair o mito de que os criminosos pertencem a um outro mundo diferente deste que diariamente habitamos –nós os bons. Ajudaria a tornarmo-nos mais humanos e, para além de se compreender a vida dentro de um cárcere, de certeza absoluta que, depois desta experiência, passaríamos a aceitar no nosso seio quem prevaricou e como um igual a nós.
Quanto a mim, volto a dizer, se um dia for preso, por favor, coloquem-me numa prisão igual à da Lady Gaga…pode ser?

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