quarta-feira, 6 de agosto de 2008

COMO RESISTIR NESTE EGOCENTRISMO NACIONAL?




(ESTAS QUATRO CASAS COMERCIAIS ENCERRARAM, NOS ÚLTIMOS MESES, NA PRAÇA DO COMÉRCIO, EM COIMBRA)

Há dias, na Praça Velha, encerrou a CHUTEIRA. Esta casa, dedicada ao desporto e uma das primeiras que abriu em Coimbra, em finais da década de 1970, com uma longa tradição de apoio à Académica e ao União de Coimbra, sem direito a oração de encomenda ou epitáfio, fechou portas, ou melhor, para maior infelicidade, foram fechadas por dívidas a credores, incluindo o Estado.
Mais uma que se vai sem honra e sem glória. Este estabelecimento foi um bom “soldado” enquanto teve forças, nesta guerra fratricida, em forma de purga existencial, com queda anunciada dos mais débeis. Caiu por força dos modernos obuses do grande comércio centralizado, dos novos hábitos e costumes dos consumidores, e, sobretudo, pela insensibilidade com que este e os anteriores governos tratam a pequena empresa familiar. Com as finanças depauperadas, sem dinheiro, como é que se pode adquirir novo armamento (stoks)? Para além disso, constantemente, com o movimento de pessoas a minguar nos centros históricos, de que valerá apostar em grandes inovações?
Se alguém fizesse um estudo de opinião aos lojistas implantados na Baixa de Coimbra iria ficar surpreendido com o resultado. Dois terços, se pudessem abandonavam este centro histórico. Não digo isto de ânimo leve, sei do que falo. O desânimo é atroz. Para além de ser contagioso, perpassando aos restantes, incomoda e faz pensar. O que vai ser de tanta gente?
Admito, tenho escrito isso várias vezes, que, nesta apatia de modorra, é preciso fazer alguma coisa. É preciso fechar os estabelecimentos mais tarde, durante a semana, e abrir, pelo menos, aos sábados durante todo o dia. Porque, não tenhamos ilusões, o futuro vai obrigar o comércio a estar aberto também aos domingos. Por enquanto, como estamos em ambiente pré-eleitoral, as grandes superfícies não vão ser licenciadas para trabalharem aos domingos todo o dia, mas deixem passar o pleito eleitoral de 2009 e verão o que acontece: vão ser liberalizados os horários a funcionarem 24 sobre 24 horas.
Já o escrevi aqui, mais de uma vez, lutar contra o desejo dos consumidores –mesmo que esta cegueira consumista leve ao estertor de múltiplas lojas tradicionais- é o mesmo que querer lutar contra a corrente de um caudaloso rio. É esforço de vã glória. E sinceramente também o digo: será lícito, por um lado, defender um Estado liberal, assente num livre comércio, numa concorrência sã, em que todos tenham lugar, em que a liberdade individual conte e leve ao desenvolvimento, e, por outro lado, porque essa liberalização nos afecta, nesse caso, voltando ao proteccionismo, reivindicarmos um Estado intervencionista que condicione a entrada de novos comerciantes e que imponha barreiras ao desenvolvimento. Estará certa esta posição?
Evidentemente que caberá ao Estado, como árbitro magister, fiscalizar as regras e ter em conta as diferenças individuais, de cada um, ou de cada grupo, evitando que os mais fortes aniquilem os mais fracos e, como um bom chefe de família, em relação à sua prole, gerir esta situação. Ou seja, nem caindo no livre-cambismo exacerbado e selvagem, nem pender para um proteccionismo aberrante, cujas consequências são sempre o manter o status quo e que no limite, para além de adiar o desenvolvimento, prejudica os consumidores.
Porque, atente-se, quer queira quer não, o governo vai ter de se debruçar sobre o constante genocídio das pequenas e médias empresas, com medidas desoneradoras da elevada carga fiscal e incentivadoras do auto emprego. E quando falo em pequenas e médias empresas, obviamente, que me refiro a toda uma plêiade de profissões, na indústria, no comércio, nos serviços e até, inclusivamente, na agricultura.
O futuro reside na liberalização e no livre acesso a uma qualquer profissão e não na criação de barreiras através de indecorosos números clausus, um ensino universitário desfasado da realidade, que leva à desistência de milhares de alunos, de legislações discutíveis, do ponto de vista Constitucional, de Ordens Profissionais, que impondo novos exames de aptidão,tendo o único propósito de extorquir os recém-licenciados e adiar a sua entrada na profissão, como se passassem um atestado de incapacidade às Universidades do país, parecem reinar estapafurdiamente como se estivéssemos numa monarquia constitucional.
As consequências estão a bater-nos à porta nos médicos; se se levar em conta as pretensões do Bastonário dos Advogados, daqui a alguns anos nos causídicos; a seguir serão os Arquitectos, os Engenheiros, os Notários e por aí fora.
Haja bom senso. O sol quando nasce é para todos. É preciso é evitar que os mais altos captem toda a luz e, com a sua presença, imponham uma sombra demoníaca aos mais baixos e provoquem o seu raquitismo.

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