domingo, 27 de fevereiro de 2022

AÍ ESTÁ A NOVA FILARMÓNICA LUSENSE (OU BURRIQUEIRA)




A luz do dia, paulatinamente, parecia despedir-se e embrenhar-se no breu da noite. Como se fossem trindades a anunciar que estava na hora da despega e o regresso ao doce lar, o relógio da capela de Barrô espalhou ao vento as 6 badaladas da tarde. Os poucos agricultores a tempo parcial que regavam as suas courelas na horta do Barreiro, arrumando as mangueiras e dando o último olhar de enleio às couves, às cebolas, alfaces e favas, erguendo os olhos ao Céu, pareciam pedir a Deus que mandasse uma chuvinha para consolar a terra ressequida neste Fevereiro de sequeiro e aumentar o fio de água que se perde de vista na Ribeira do Salgueiral, ali ao lado.

Foi então que uns sons musicais, melodiosos, começaram a marcar o compasso do final da tarde e a ouvir-se cada vez mais com maior intensidade vindos da Lameira de São Pedro e em direcção à povoação outrora famosa pelo seu barro de qualidade excelsa.

No penhasco que forma barreira ao logo do vale celeiro, um casal de coelhos bravos pararam espectantes. Nas árvores de ramagem espessa, também a passarada, entretida em algazarra a mostrar as contas do dia, fizeram silêncio.

O que significaria aquela música maravilhosa que, com a progressiva aproximação e com os sons de instrumentos de sopro, dava para perceber que seria uma banda filarmónica? Seria para publicitar algum corso carnavalesco na freguesia de Luso? Uma festa anual do santo padroeiro no concelho? Pareciam todos interrogar.

Até que o marchar ritmado e repetido rufar da caixa, “terran… tan... tan”, acompanhado de mais quase uma dezena de instrumentos de sopro, veio clarificar o mistério.

Pela voz de uma simpática acompanhante, a dona Fernanda, mais conhecida por “Fernanda Cabeleireira”, ficou-se a saber tudo: “este grupo de jovens músicos e juntamente com outros que não puderam vir fazem parte da nova Filarmónica de Luso. São há volta de vinte e cinco. Tocavam todos todos na Filarmónica Pampilhosense. Houve uma cisão, uma separação… o senhor ouviu falar? Pensámos em formar uma filarmónica na nossa terra de burriqueiros, mas, coitados, vieram embora sem instrumentos. E são muito caros. Então pensámos em apelar à boa vontade dos habitantes das aldeias da freguesia. E é o que andamos a fazer… já vimos a andar desde o Bussaco. Tenho três netos a tocar. Consegue perceber o meu orgulho, não consegue? Esta iniciativa está a correr muito bem, as pessoas são muito generosas. Toda a gente entende que esta ideia precisa de apoio. Praticamente, entre cinco e vinte euros, todos dão uma notinha”, concluiu a dona Fernanda com manifesto entusiasmo.


CONSTITUIÇÃO JÁ FORMADA


Em consulta pela informação digital, ficamos a saber que, com CAE de Actividades de Artes de Espectáculo, há cerca de uma semana, desde de 16 deste Fevereiro, está constituída a Associação Filarmónica de Luso (AFL). A sua sede oficial é no Bairro da Creche, número 78, 3050-221, Luso, Mealhada.


OS ENSAIOS SÃO EM BARRÔ


Ficámos a saber ainda que os ensaios vão realizar-se semanalmente no Centro Recreativo de Barrô, às Sextas-feiras e Sábados, pelas 21h30. Quem se quiser inteirar do trabalho de aperfeiçoamento desta filarmónica pode assistir aos ensaios, desde que em silêncio, obviamente.

Sob regência da maestrina Adriana Oliveira, assistimos ao primeiro ensaio no salão polivalente de Barrô. Com toda a sinceridade do mundo ficámos extasiados pelo desempenho daqueles jovens músicos.

Em resumo, resta-nos fazer eco com a dona “Fernanda Cabeleireira” e apelar a todos os moradores da Freguesia de Luso que comparticipem neste grandioso projecto – evidentemente que o apelo também vai direitinho para o senhor Gil Ferreira, vereador da Cultura da Câmara Municipal da Mealhada. 


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