sexta-feira, 7 de abril de 2017

MEMÓRIA DO TEMPO: OS NOVOS "ZOMBIES"

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





São a última fornada do virar do milénio. Oscilam entre os dezassete e os vinte anos. Em grupo, sobretudo em ocasião de festas académicas, para se fazerem notados, batem em tudo o que é estático e, sem qualquer respeito por quem dorme no silêncio da madrugada, andam na rua a fazer barulho até ao raiar da claridade. Entram nos estabelecimentos em magote como se fossem elefantes em lojas de porcelanas. Dar as saudações não é com eles, os “bons dias” do Verão são tão surdos como as “boas noites” invernosas. Tudo lhes chama a atenção e julgam-se senhores de direito absoluto. Sem pedir licença, mexem, remexem, dão a volta para cima, para baixo e, depois de ver sem ver, com displicência, como se mandassem os objectos à merda, sem preocupação de causar dano, atiram as coisas sem ponta de carinho nem afecto.
Falando entre si, assistimos a diálogos do absurdo:
Ele: Comé? Vamos tomar café? Pago eu...
Ela: Não man! Vou mesmo almoçar com a mãe... (Ahahah)
Ele: Ganda seca!
Ela: Ya man! Ganda seca mesmo! (Ahahahah)
Como almas penadas em busca de coisa nenhuma, quando entram sozinhos nas lojas comerciais, em quadro repetido, fazem lembrar marcianos: nos ouvidos carregam uns fones que os tornam insensíveis a qualquer conversa ou, no oposto, transpõem a porta de entrada a conversar ao telemóvel. Como se andassem na Lua e não estivessem com os pés na terra, em completa abstracção, calmamente percorrem todo o espaço de venda sem uma única palavra com quem está e, silenciosos como mudos, saem por onde entraram.
São os “zombies” do nosso tempo.

Sem comentários: