(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
São
a última fornada do virar do milénio. Oscilam entre os dezassete e
os vinte anos. Em grupo, sobretudo em ocasião de festas académicas,
para se fazerem notados, batem em tudo o que é estático e, sem
qualquer respeito por quem dorme no silêncio da madrugada, andam na
rua a fazer barulho até ao raiar da claridade. Entram nos
estabelecimentos em magote como se fossem elefantes em lojas de
porcelanas. Dar as saudações não é com eles, os “bons dias”
do Verão são tão surdos como as “boas noites”
invernosas. Tudo lhes chama a atenção e julgam-se senhores de
direito absoluto. Sem pedir licença, mexem, remexem, dão a volta
para cima, para baixo e, depois de ver sem ver, com displicência,
como se mandassem os objectos à merda, sem preocupação de causar dano, atiram as coisas sem ponta de carinho
nem afecto.
Falando
entre si, assistimos a diálogos do absurdo:
Ele: Comé? Vamos
tomar café? Pago eu...
Ela: Não man! Vou mesmo almoçar com a mãe... (Ahahah)
Ele: Ganda seca!
Ela: Ya man! Ganda seca mesmo! (Ahahahah)
Ela: Não man! Vou mesmo almoçar com a mãe... (Ahahah)
Ele: Ganda seca!
Ela: Ya man! Ganda seca mesmo! (Ahahahah)
Como
almas penadas em busca de coisa nenhuma, quando entram sozinhos nas
lojas comerciais, em quadro repetido, fazem lembrar marcianos: nos
ouvidos carregam uns fones que os tornam insensíveis a qualquer
conversa ou, no oposto, transpõem a porta de entrada a conversar ao
telemóvel. Como se andassem na Lua e não estivessem com os pés na
terra, em completa abstracção, calmamente percorrem todo o espaço
de venda sem uma única palavra com quem está e, silenciosos como mudos, saem por onde entraram.
São
os “zombies” do nosso tempo.
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