sexta-feira, 21 de abril de 2017

A SÓNIA MONTEIRO, A RAPARIGA ACAMPADA, FOI FINALMENTE INTERNADA





Segundo uma fonte ligada ao processo, que pediu o anonimato, por interceção directa de Jorge Alves, vereador do Gabinete de Acção e Família, da Câmara Municipal de Coimbra, foi ontem internada compulsivamente Sónia Monteiro, a mulher de 36 anos, notoriamente a sofrer de distúrbios mentais, que permaneceu acampada, num banco de madeira da Praça do Comércio, mais de dois meses num inadmissível prolongamento, e sem que os seus progenitores pudessem fazer alguma coisa. Alegadamente, o vereador responsável pela solidariedade social municipal teria convocado uma reunião urgente com a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e a Cáritas Diocesana, entidade que sinalizou e assistia a Sónia no terreno, para que todos juntos fizessem pressão junto do tribunal para acabar com a vergonha que, durante tempo demais, esteve ao alcance do mais distraído. Se fosse um animal de quatro patas, mais que certo, o assunto teria sido resolvido com um simples e-mail.
Depois de cerca de setenta e cinco dias, depois de eu ter contactado praticamente todos os jornais locais e nacionais; depois de ter dado nota a todos os canais de televisão públicos e privados, incluindo programas sectoriais, depois de ter enviado o conhecimento do caso para a Presidência da República, depois de cerca de 50 mil pessoas terem lido os textos que escrevi aqui no blogue, depois de largas dezenas de leitores anónimos terem partilhado as crónicas no Facebook, depois de algumas dezenas terem comentado com indignação a passividade das autoridades, finalmente a mulher foi levada sobre custódia policial para os HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, onde se encontra internada em psiquiatria.
Dá que pensar o facto de nunca obter qualquer resposta às minhas solicitações. Quer o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quer os jornais nacionais e locais, quer as televisões, com os seus muitos programas de denúncia pública, nenhuma destas entidades se dignou mandar uma nota.
Dá que pensar que ontem, dia do internamento compulsivo, eu começasse a receber e-mails de jornais e revistas a pedirem informações para escreverem sobre o “estranho caso da mulher acampada
Em juízo de valor, posso pensar que Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso Presidente da República, afinal não é o “grande pai” da Nação, que está sempre atento aos queixumes populares, e que não perde uma para intervir a favor dos mais carenciados.
Em juízo de valor, posso apreender que o quarto poder, constituído por todos os meios de informação, falada e escrita, por motivos que desconheço mas adivinho, deixou de ser o instrumento amplificador que eleva o grito do desesperado.
Em resultado final, faço votos para que este internamento tenha por objecto o tratamento clínico e psiquiátrico da Sónia e não seja apenas um meio para entreter os indignados.
Já passei por isto mesmo há cerca de meia dúzia de anos com Anildo Monteiro. Este homem, declaradamente com problemas mentais, permaneceu na rua largos meses. Alegadamente, por tardio tratamento, viria a morrer no Hospital dos Covões.
Vale a pena pensar nisto?

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