Segundo
uma fonte ligada ao processo, que pediu o anonimato, por interceção
directa de Jorge Alves, vereador do Gabinete de Acção e Família,
da Câmara Municipal de Coimbra, foi ontem internada compulsivamente
Sónia Monteiro, a mulher de 36 anos, notoriamente a sofrer de
distúrbios mentais, que permaneceu acampada, num banco de madeira da Praça do Comércio, mais de dois meses num inadmissível prolongamento, e sem que os seus
progenitores pudessem fazer alguma coisa. Alegadamente, o vereador
responsável pela solidariedade social municipal teria convocado uma
reunião urgente com a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de
Coimbra, e a Cáritas Diocesana, entidade que sinalizou e assistia a
Sónia no terreno, para que todos juntos fizessem pressão junto do
tribunal para acabar com a vergonha que, durante tempo demais, esteve
ao alcance do mais distraído. Se fosse um animal de quatro patas, mais que certo, o assunto teria sido resolvido com um simples e-mail.
Depois
de cerca de setenta e cinco dias, depois de eu ter contactado
praticamente todos os jornais locais e nacionais; depois de ter dado nota a
todos os canais de televisão públicos e privados, incluindo
programas sectoriais, depois de ter enviado o conhecimento do caso
para a Presidência da República, depois de cerca de 50 mil pessoas
terem lido os textos que escrevi aqui no blogue, depois de largas
dezenas de leitores anónimos terem partilhado as crónicas no
Facebook, depois de algumas dezenas terem comentado com indignação
a passividade das autoridades, finalmente a mulher foi levada sobre
custódia policial para os HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, onde se encontra internada em psiquiatria.
Dá
que pensar o facto de nunca obter qualquer resposta às minhas
solicitações. Quer o Presidente da República, Marcelo Rebelo de
Sousa, quer os jornais nacionais e locais, quer as televisões, com
os seus muitos programas de denúncia pública, nenhuma destas
entidades se dignou mandar uma nota.
Dá
que pensar que ontem, dia do internamento compulsivo, eu começasse a
receber e-mails de jornais e revistas a pedirem informações para
escreverem sobre o “estranho caso da mulher acampada”
Em
juízo de valor, posso pensar que Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso Presidente da República, afinal não é o “grande pai” da
Nação, que está sempre atento aos queixumes populares, e que não
perde uma para intervir a favor dos mais carenciados.
Em
juízo de valor, posso apreender que o quarto poder, constituído por
todos os meios de informação, falada e escrita, por motivos que
desconheço mas adivinho, deixou de ser o instrumento amplificador
que eleva o grito do desesperado.
Em
resultado final, faço votos para que este internamento tenha por
objecto o tratamento clínico e psiquiátrico da Sónia e não seja
apenas um meio para entreter os indignados.
Já
passei por isto mesmo há cerca de meia dúzia de anos com Anildo Monteiro. Este homem, declaradamente com problemas mentais,
permaneceu na rua largos meses. Alegadamente, por tardio tratamento,
viria a morrer no Hospital dos Covões.
Vale
a pena pensar nisto?
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