(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Inserido
na página da necrologia, ontem, acompanhada com uma fotografia dos
anos de 1970, o Diário de Coimbra (DC) deu a notícia: “Faleceu
Vala, antigo futebolista da Académica”. Em desenvolvimento contava-se a história do emérito futebolista
conimbricense, que também chegou a jogar no Beira Mar e no
Pampilhosa, e que foi posteriormente funcionário dos CTT em Coimbra.
Hoje, na página dos
funerais, sem foto, novamente o jornal escreve que “António
José Lino Vala, antigo futebolista da Académica e do União de
Coimbra, faleceu com 65 anos, conforme noticiámos ontem. (…) O
corpo encontra-se depositado hoje, a partir das 14h00, na capela
mortuária da Igreja de S. José (Nova) e o funeral realiza-se amanhã
(quinta-feira), pelas 9h30, para o Complexo Funerário Municipal de
Coimbra, em Taveiro.”
Conheci
Vala nos finais de 1960 e princípios de 1970 quando ele jogava na
Académica. Eu era miúdo, trabalhava no então desaparecido Café
Mandarim. Lembro-me ainda do seu rosto de homem simples, como outros
da época, os irmãos Campos, o Belo, o Andrade, o Rui Rodrigues, o
Nené e outros que agora não recordo. As décadas passaram e nunca
mais ouvi ou li qualquer linha sobre a sua pessoa. Talvez por isso,
pelo anonimato da sua vida posterior à de jogador de futebol e agora pela notícia curta da sua morte nos jornais da
cidade, me levasse a escrever esta crónica. O que estranho é nem
sequer haver uma foto actual. É óbvio, e não contesto, que poderia
ser a sua vontade derradeira e prosseguida pela família. No entanto,
tenho para mim que este esquecimento por todos os meios de informação
entre 1970 e hoje, 5 de Abril de 2017, não deveria acontecer. Num
tempo em que os futebolistas da actualidade, em que ganham e facturam
milhões, e são capa de jornal quase diariamente, pessoas como o
Vala, que na década de todas as revoluções sociais quase pagaram
para jogar, mereciam um outro tratamento público.
É certo que no DC de
ontem era citada a Direcção da AAC/OAF, em que esta “endereça
as mais sentidas condolências” à família do antigo jogador”.
Porém, no meu entendimento, isto é pouquíssimo. Mesmo sendo-lhe guardado o tradicional minuto de silêncio em jogos na próxima semana, o organismo da
AAC/OAF tem uma obrigação moral para com Vala e outros antigos
jogadores da cidade que, sobretudo nessa época, jogaram praticamente
por amor à camisola.
Coimbra
é uma cidade bi-polar. Num dos pólos, no radical da notoriedade
bacoca que advém de todo o nacional "porteguesismo", tanto dá o nome a uma rua de um “cromo”, cujos
feitos foram unicamente girar em torno da academia a pedir uma moeda,
como pode bajular, desencadeando homenagem atrás de homenagem, com
busto erguido, a uma personalidade cujo feito mais notório foi estar
presente num governo nacional e continuar a pertencer a um grande
partido. Mas nem todos merecem o mesmo endeusamento. No outro extremo, intencionalmente e implícito, a urbe
esquece os simples, aqueles que, sem se baterem a elogios públicos,
dividindo a sua sobrevivência com a colectividade, são o que eu
chamo a “gente humilde do povo”,
a matriz identitária de um lugar
habitado. Esforçados trabalhadores divididos em várias áreas,
encontram no labor o único meio honesto de sobreviverem.
O
ex-atleta José Vala, que nos deixou agora precocemente, no mínimo,
merece ter a autarquia representada no seu funeral e, em reunião
próxima do executivo municipal, ser referenciado, a título póstumo, como um dos atletas que ajudou a construir a história da cidade.
À
sua família enlutada, em nome da Baixa -se posso escrever assim, já
que foi um calcorreante destas pedras-, em nome da cidade, os nossos
sentidos pêsames. Que Vala descanse em paz. Uma grande salva de
palmas para o humilde mas grande jogador da Académica.
5 comentários:
As fillhas do Zé Vala, Andrea e Joana, gostariam de agradecer esta homenagem ao nosso pai. Obrigado Luis Fernandes.
Grande Vala.. Era fã.. Não sabia foi Mister Niza que me disse.. Paz sua Alma.. Estou triste
JMREIS - Obrigado pela sua mensagem! Eu e a minha irmã agradecemos o sentimento.
JMREIS - Obrigado pelo comentario. Eu e a minha irma agradecemos o sentimento! Andrea
Vim aqui parar, Cusco, ao ver no canal 11 o Caldas/AAC, chamou-me a atenção o nome do treinador do Caldas. Pretendia saber se existiam laços de parentesco com o falecido José Vala com quem partilhei a mesma mesa de café algumas vezes, acompanhado com o José Rachão aquando da sua passagem pela Académica, sendo na altura meu colega de turma na Brotero estando o José Vala a frequentar o ISCAC. O José Vala foi um dos meus ídolos no futebol para o qual morreu com o trágico acidente em que o pai faleceu. Tudo o resto é demasiado óbvio pela alegria que deixou de ter.
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