segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

COMÉRCIO: A DIFICULDADE EM MOBILIZAR



 Conforme já tinha anunciado aqui e no Diário de Coimbra, no último sábado –em que, a cru, plasmava uma série de depoimentos de vários profissionais de comércio-, logo à tarde, pelas 17h30, irei estar presente no executivo para, de viva voz e oficialmente a ser lavrado em acta,  levar ao conhecimento do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, João Paulo Barbosa de Melo, e a todos os vereadores, o que se está a passar dentro de portas de muitas famílias de comerciantes que estão a exercer na Baixa da cidade. Para além disso, vou também pugnar pelo cumprimento de uma promessa exarada em Acta de 14 de Outubro de 2002, no seu Ponto VII – Planeamento VII.1. do Fórum Coimbra –Multi 16 Sociedade Imobiliária S.A. –Informação Prévia, Processo 2927/2001. Aí, com intervenção de plena defesa do então vice-presidente, Pina Prata, ficou escrito que este projecto da Multi 16 SA teria parecer favorável –como teve por maioria- se, em compensação ao comércio tradicional da cidade, fosse construída a “Casa do Comerciante”. Vou apresentar também uma solução possível.
Antes de continuar, gostaria de explicar para que servirá esta dita “Casa do Comerciante”. Será uma estrutura física, um edifício, um andar, com alguns quartos mobilados para se poder fazer face imediata a algum comerciante que caia em desgraça e não tenha uma telha para se abrigar –saliento que já há alguns que conheço em perspectiva. Para além disso, depois de constituídos os estatutos e tomar posse uma direcção, seriam encetados meios para obter verbas e também para fazer face a qualquer profissional de comércio que, de um momento para o outro, se veja sem um cêntimo –lembro que os empresários não têm direito a subsídio de desemprego. Uma questão que certamente o leitor já colocou é como é que se vai arranjar dinheiro em tempo de dificuldades? Quanto a mim, é preciso é colocar esta máquina em andamento, depois a obra nasce, através de iniciativas várias, como por exemplo, recorrer a leilões de peças doadas; fazer um jantar mensal de comerciantes, em que cada um, para além do valor da refeição daria 5 euros e que seriam directamente canalizados para os fundos da organização de ajuda.
Ora, mas o que me levou a escrever este texto foi outra coisa. Hoje, de manhã, das 9 às 11h00, dei uma volta pelas lojas a convidar os comerciantes a estarem presentes logo à tarde na autarquia, pelas 17h30. Falei com muitos pessoalmente. Lembro que o que se vai defender é algo que, em princípio, deveria interessar a todos. Há demasiadas situações no comércio que urge dar uma mão, e fazer isso cabe sobretudo àqueles que ainda vão andando, uma vez que todos estamos na fila. É apenas uma questão de tempo. Os comerciantes tradicionais estão para a queda na indigência, como os países europeus mais ricos estão para a desclassificação de notação: vai tocar a todos.
Por uma questão de registo futuro, e também para reflexão, vou plasmar algumas respostas que recebi. A maioria com quem falei recorria a uma desculpa chapa 3 ou 5 ou 8, e que, respectivamente pela ordem, era assim:
-É hoje? A que horas… 17h30? É má hora. Estou sozinho. Não posso fechar, não é assim?
-Hoje? Às 17h30? Não posso, tenho dois empregados doentes!
-Logo à tarde? Não sei se posso. Vou sair. Não sei a que horas chegarei. Mas se puder você já sabe que estarei lá…”
Mas convém deixar aqui as mais peculiares: “você anda com isto, onde estão os representantes institucionais dos comerciantes? Morreram?”
Outro, que, durante muitos anos, foi comerciante na Baixa e, depois de entrar em declínio económico e financeiro, foi obrigado a vender o seu prédio, e agora a pagar renda está a mulher a exercer o "metier", responde assim: “eu ir à Câmara? Nem penses! Eu já não sou comerciante! E mais, ainda te digo, para que é que se lá vai? Não se consegue nada. Até porque te digo: não vais lá ter ninguém. Isto é tudo uma cambada de hipócritas. Fazem todos de conta que estão bem. Eu não vou!... Eu nem sou comerciante!”
Outro: “ir à Câmara? Para quê? Eles não ligam nada. Eles não ouvem ninguém. Amanhã este assunto está esquecido. O deles, o “carcanhol”, está certo. Esse é o verdadeiro drama! Estivessem eles dependentes das vendas que faziam numa loja, a ver se não tomavam atenção!”
Outro ainda: “ir à autarquia? Para quê? Não se resolve nada. Até porque lhe digo, não concordo que se ande a escrever sobre estas situações de miséria de alguns comerciantes. É que as pessoas, os nossos clientes, entram nas nossas lojas e até parecem que nos estão a comprar por favor. Só falta mesmo dizerem: “deixa-me ajudar este coitadinho, porque está a morrer à fome”. Ora, desculpe que lhe diga mas eu não sou coitadinho. É certo que estou com dificuldades, como todos, mas quando vir que as despesas são maiores que os proventos, encerro isto e vou-me embora. Estou farto disto!”
Vamos ver, mais logo, quantos comerciantes estão preocupados, essencialmente, com o seu futuro e com os colegas que estão a passar mal. Vamos aguardar.


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