terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A COLUNA DO JORGE...




A PROLIFERAÇÃO DOS BLOGUES NO ESPAÇO PÚBLICO

 O fenómeno da comunicação chamado blogue é um bom observatório das características do nosso espaço público e da hegemonia do discurso da opinião.

Subitamente, levantou-se uma euforia no mundo da publicidade - do espaço público - não propriamente por causa dos factos que produzem notícias, mas por causa das notícias que são culpadas dos factos, cuja actualidade é cada vez mais notória. A jubilosa catástrofe -quotidiana, como são as verdadeiras catástrofes- chama-se blogue. Não é um fenómeno completamente novo, mas, entre nós, surgiu há pouco tempo organizado segundo regras próprias, reivindicando uma certa autonomia.
Não se pode, obviamente, caracterizar os blogues em geral porque, tratando-se de um meio que dispõe de uma enorme liberdade, há-os de todos os géneros e sobre as mais variadas matérias: os que reivindicam o mero direito à expressão, os de agitação política, os paródicos, os pornográficos, os literários, os que servem um saber, um gosto, uma causa, uma obsessão. Potencialmente, nenhum território lhes é interdito porque não há limites para o seu poder de penetração. Os limites são os do próprio meio, eficaz nas mensagens curtas e no registo do imediato, mas inadequado a tudo o que requer outro ritmo e outra temporalidade.
O facto curioso, em Portugal, é que o interesse pelos blogues não foi suscitado, em primeiro lugar, por terem acedido à livre publicação indivíduos e grupos que dela estavam excluídos, mas por terem entrado na «blogosfera» nomes que, regularmente ou de maneira esporádica, escrevem nos jornais ou são convidados pelas televisões. Este é um sinal eloquente de que há hoje uma corrida ao espaço público mediático e de que este não é capaz de se estruturar de outra maneira que não seja segundo o regime do mandarinato. É este regime o responsável pela hipertrofia da «opinião» que caracteriza a imprensa, em Portugal, e que a grande maioria dos blogues prolonga na perfeição. Os blogues mais frequentados, isto é, aqueles para onde estamos constantemente a ser remetidos através dos «links», quando entramos na «blogosfera», apresentam-se, assim, como uma esfera funcional das páginas de opinião dos jornais, mesmo quando têm um registo “diarístico” e pessoal. Digamos que os blogues economizaram algumas etapas e chegaram rapidamente ao ponto a que já chegaram ou aspiram chegar os jornais: o da conversa desenvolta, cujos intervenientes são muito mais actores do que autores, ao serviço do espectáculo integral. Tão próximos estão - jornais e blogues - do mesmo universo cultural e funcional que não é possível fazer a crítica de uns sem fazer a crítica de outros. O que alimenta a maior parte dos blogues não é uma escrita mas uma conversa, como aquela que se pode ter no café com os amigos, e que se esgota numa troca que promove a confusão da esfera pública com a esfera privada.

Jorge Neves

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