sábado, 11 de março de 2023

LÁ LONGE, PARA ONDE FOSTE…

 




Há pessoas que marcam a nossa vida para sempre.

Como se fosses minha mãe, tu foste uma delas.

Recordo a tua gargalhada estridente e desvalorizante perante tudo o que parecia mau de mais para ser verdade.

No confronto com o lado negro das coisas, parecias ter o dom de colorir o negrume com cores garridas.

Foste sempre uma mãe-galinha na verdadeira acepção da palavra, no entanto, na hora de voar, incentivavas os teus “pintos” a abrir as asas, e, com incentivo marcante, sempre cada vez mais alto.

O sentido de protecção dos teus filhotes era tão vigoroso, tão enorme como um Céu estrelado de Agosto.

Muitas vezes dividias o pouco que tinhas com os mais carenciados, teus familiares ou outros que não sabias de onde provinham.

Se tinham necessidade, sem olhar à cor da pele, sem julgamentos apriorísticos e bacocos, logo ajudavas sem mais delongas.

Foste uma fervorosa seguidora da religião católica, da doutrina cristã, que te levou, mesmo já muito debilitada, a não faltar à missa de Domingo na igreja da paróquia.

Eras a trave-mestra, agregadora e essencial na união da prole.

Foste uma mulher incrível, “velhota” – foi assim, carinhosamente, que te tratei sempre.

Não deixas casas, terrenos, conta bancária, mas, apesar disso, os teus filhos, tenho a certeza, davam um pouco da sua vida para te manter por cá mais uns anitos.

Deixas um exemplo existencial para os presentes e vindouros como, numa casinha pobre, pequena, arrendada, sem os confortos tão exigíveis da modernidade, puderam nascer 11 filhos, e onde nunca faltou o pão.

Não trocavas, a “tua palha” – como referia o teu falecido marido Américo – pela melhor casa do mundo.

Lá, nas paredes de construção toscamente erguidas, estava a tua história, a resenha de uma pessoa simples, e de toda a sua família, que com pouco viveu mas nunca se queixou, e sem jamais exigir o que quer que fosse ao Estado.

Foste uma mãe sempre alegre e bem-disposta, de rosto efusivo e marcante para quem contigo conviveu.

Partiste hoje, para um lugar de descanso eterno que – acreditavas tu – é o sítio, o Paraíso, onde todas as almas espirituais vão parar.

Sem ser bafejado com a tua fé, nem de perto nem de longe, acredito piamente que exalaste o último suspiro no sono dos justos e agora descansas serenamente nesse lugar sagrado onde o teu “Deus” é o gestor, Aquele que esquece o mal causado em sofrimento e dor e perdoa tudo à Humanidade.

Gostei tanto, mas tanto de te conhecer...

Nunca te pagarei o alento e o quanto foste importante para mim...

Até um dia, a ser verdade o que espalhavas como dogma e verdade única sem contestação, que nos encontraremos na última paragem sem retorno.

Descansa em paz, Justina Carvalho Pereira.


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