segunda-feira, 21 de março de 2022

MEALHADA: HOJE, HOUVE REUNIÃO DE CÂMARA (1)

(imagem espectacular do jornal online Bairrada Informação)



 

O Salão Nobre estava todo engalanado. Com nova disposição do mobiliário da sala, formou-se um U. Com pequenas mesas individuais do género das salas de aula sentados em cadeiras simples, os vereadores ficaram frente-a-frente. A completar a nova apresentação e a sinalizar a hierarquia, António Jorge Franco, o presidente da Câmara Municipal, ficou sentado no alto cadeirão majestático e tendo a assessorar a velha secretária de madeira trabalhada e onde já apoiaram os cotovelos muitos homens e até uma mulher que comandaram a edilidade. 

No meio do U, a mesa das conferências que serviu até há pouco para as reuniões, perfilada com traje aparentemente pantagruélico, parecia pronta para receber os comensais após a apresentação e votação dos actos. 

Na parede ao fundo, por cima de todos como manda a tradição republicana, Marcelo Rebelo de Sousa, em pose de estadista, com um olho na direita e outro na esquerda, parecia vigiar todos. Mesmo sabendo que naquela reunião quinzenal a maioria é filho da mesma mãe socialista, uns do primeiro casamento e outros do segundo, o melhor é estar atento. Com um rosto dividido entre a preocupação do aumento do custo de vida, que aí está para os portugueses mais pobrezinhos, e a saudade daquela “pomada” bairradina que, na companhia de António Franco, ingeriu na BTL, Bolsa de Turismo de Lisboa, há dois dias, parecia indeciso e sem saber para que lado cair. 

O dia apresentava-se soalheiro com os raios solares a trespassarem as vidraças, violando as frestas dos pesados reposteiros, e a invadirem todos os presentes. Como se fosse uma luz refulgente e espiritual, a fazer crer e sentir que estavam ali por um valor superior legitimado, para além disso, tendo em conta o ambiente pesado, de guerra, que vem de leste, ali, naquele pequeno parlamento onde se decide o futuro de um concelho, colocando de lado as diferenças pessoais já que as ideológicas serão parecidas, dever-se-ia praticar a paz. (nesta altura, em que os eleitos puxavam os coletes, compunham o cabelo, cofiavam a barba, esticavam a pele da face para ficarem bem na transmissão por “streaming”, via YouTube, ainda não se sabia se a mensagem metafísica teria sido interiorizada por todos. Só no fim se saberia) 

Já o relógio da torre sineira da Igreja da Mealhada tinha batido há muito as nove badaladas quando se deu início ao Período de Antes da Ordem do Dia. 

António Franco, levantando a batuta de maestro, começou por dizer que a Câmara Municipal tem um T2 e um T3 para acolher refugiados ucranianos. Mas disse mais: “não vamos deixar ninguém ao abandono. 

Aparentemente, estava dado o mote para “dança comigo”. Mas nunca confiando, a manhã ainda era uma criança e, por suposição, ali havia alguns “pés-de-chumbo”. 

Foi então que Rui Marqueiro, ex-presidente e actual vereador eleito pelo PS, pega no “lança-chamas” e, apontando a suspeita sobre o indevido pagamento do “Stand” da BTL, pareceu estar a incendiar o rastilho para um “bate-boca" pouco santífico. Quem visionava a reunião em casa estremeceu. Queres ver?!? Lá se foi o ambiente de paz, terá murmurado com seus botões. 

É então que Filomena Pinheiro, vice-presidente, como se fosse “Calamity Jane” a puxar do revólver, aponta  o "colt" verbal ao velho pistoleiro e retorque: “O município pagou o “Stand” em 2020 e a empresa faliu. A Câmara não reagiu, não actuou judicialmente”. 

PUM!!! Quem estava em casa até pareceu sentir o impacto no peito do antigo xerife do reino. Só não caiu porque a cadeira onde se acomodava era pujante.  

Presumindo contra-ataque, para acudir a “Calamity, Franco pôs água na fervura. E a coisa ficou por ali. Lá atrás, Marcelo revirando os olhos ao Céu pareceu indicar “haja Deus! Haja Deus!”

 

E CHEGARAM AS 10H00 

 

Estava no período dedicado à intervenção dos munícipes. Fosse ou não pela nostalgia de contactar de novo com eleitos, foi em dose a quadriplicar. Quatro cidadãos do concelho explanaram ali os problemas e as dificuldades sentidas na sua vida diária. 

Estranhamente – ou talvez não - as pessoas que intervieram não foram mostradas nas imagens transmitidas. Em resposta a um comentário no momento, a “Câmara Municipal” respondeu que devido à Proteção de Dados não se pode mostrar os intervenientes. Como tive já ocasião de escrever aqui, legalmente não existe qualquer obstáculo legal para a transmissão de imagens de munícipes desde que estes não se oponham verbalmente e por escrito. Relembro que a Câmara Municipal do Cartaxo, antecipando-se aos demais municípios, já fez aprovar e publicar em Diário da República um Regulamento das Transmissões online das reuniões camarárias. O que espera a nossa autarquia para fazer o mesmo? 

 

(CONTINUA) 

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