quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

FALECEU O MEU AZIMUTE

 





Juntamente com o meu tio, sem exagero, ela foi o ponteiro da bússola que me indicava o Norte. Foram importantíssimos numa fase essencial do meu desenvolvimento como é a adolescência.

Desde os meus tempos de menino, relembro a sua silhueta de mulher com porte fino, o seu ar exigente, e do seu sorriso aberto e sonoro.

Quando acabei a escola primária, foi ela que me ajudou a redigir uma carta endereçada a outro seu irmão e também meu tio para que este me arranjasse um emprego em Coimbra.

Quando já estava a trabalhar na cidade dos estudantes foram estes meus tios que me acolheram em sua casa. Em finais dos anos de 1960, era ela que comprava a roupa usada na vizinhança e a lavava de noite para eu vestir no dia seguinte.

Guardo bem fundo que nunca fui suficientemente agradecido por tudo o que foi feito por mim.

Parecendo ser movida por forças inexplicáveis, não me lembro de alguma vez ver a minha tia chorar. Tinha sempre uma resposta pronta e adaptável a qualquer situação.

Lembro-me sempre de, quando a laborar na sua casa, de a ver acompanhada de uma vassoura e um pano. Foi sempre uma moira esforçada; penso, utilizava o trabalho como uma escada para chegar ao Céu.

Neste 13 de Janeiro, um dia de Sol resplandecente num universo carregado de luto, a minha tia Cacilda partiu para a eternidade. Ao meu tio Artur, aos meus primos, a toda a família, nesta hora e data difíceis para todos, os meus sentidos pêsames.

Até sempre, tia Cacilda.



1 comentário:

noname disse...

Que homenagem linda de ler "Faleceu o meu azimute", esteja onde estiver, por certo, saberá que a amou e até hoje, lhe respeita a memória, faleceu no dia em que minha mãe nasceu (já falecida também).

Sentidos pêsames, sr. Fernandes