Meu caro director do Jornal da Mealhada, senhor João Pega; na qualidade de assinante, dirijo-me, mais uma vez, no sentido de lhe fazer sentir a necessidade de mudança de linha editorial do quinzenário que dirige.
Embora já lhe tivesse manifestado particularmente através de mensagem o meu descontentamento pareceu-me que V. Ex.ª não deu particular atenção às minhas palavras escritas. Como acredito que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, sinto-me estimulado a persistir na minha intenção.
Como ressalva, repito o que já plasmei, não me move outro objectivo, ou interesse, que não seja o melhoramento do único órgão de informação escrita que se edita na cidade. Pode ter a certeza que se houvesse outro em concorrência esta missiva nunca aconteceria.
O periódico precisa muito de publicidade, muito mais de leitores, sobretudo assinantes para sobreviver. E este compromisso cabe a todos, particulares, empresários, profissões liberais e câmara municipal -, mas, em dobro, o concelho precisa muito mais deste órgão de imprensa. E aqui, para que esta reciprocidade funcione bilateralmente, o jornal, através da sua equipa, compromete-se a apresentar um bom trabalho a dois níveis: social e político. No social obriga-se a ser exigente nas qualidades noticiosa, informativa, imparcialidade, objectividade, formativo, de completa cobertura jornalística do concelho e vinculado aos valores e princípios democráticos.
Na parte política, da polis e partidária, a sua responsabilidade na distribuição do conhecimento intelectual e subsequente desenvolvimento comunitário é enorme. Se um órgão de informação local, ou regional, sendo de propriedade privada mas de fim público, falha esta missão os resultados para o presente e futuro serão catastróficos. Talvez sem termos noção dos efeitos nefastos, não cumprindo a sua função garantística, está a contribuir para uma sociedade amorfa, manipulável, acrítica, medrosa e abstencionista.
Denominado como quarto-poder, por outro lado, não se pense que uma publicação, pelo simples facto de ser propriedade privativa está isenta de ser escrutinada como os estruturantes três poderes restantes.
É evidente que é a minha opinião. E vale o que valer. Porém, não abdico dela. Ou seja, o Jornal da Mealhada, com a actual linha editorial, não serve bem o concelho.
E para a consubstanciar mais objectivamente, dei-me ao trabalho de fazer uma análise às últimas nove edições, relativas aos últimos quatro meses, respectivamente, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro. Isto é, avaliei o número de páginas que a sua/nossa publicação dedica aos lugares do nosso concelho, à cidade da Mealhada, à cultura, a outros concelhos limítrofes, nomeadamente, Cantanhede, Anadia, Penacova, Mortágua, Oliveira do Bairro. Examinei ainda o número de páginas com fotografias – cujo espaço deveria servir para falar das nossas aldeias e vilas em redor. Contei ainda o número de notícias sobre o espectro político no concelho:
Notícias sobre a Mealhada Outros lugares do concelho Concelhos vizinhos
22 páginas 10 e ½ páginas 46 páginas
Páginas só com fotos Notícias a ver com o município Cultura
21 páginas 8 páginas 4 páginas
Desporto
24 páginas
Notícias sobre políticos partidários do concelho
PCP Juntos concelho da Mealhada Bloco de Esquerda Juvent. Socialista
1 e ⅓ pág. ⅓ de página 0 páginas ½ página
Fotos de políticos partidários do concelho
Executivo:
Rui Marqueiro Hugo Alves Silva Executivo em conjunto
3 fotos 0 1
Assembleia Municipal
Não há qualquer fotografia, nem da presidente do hemiciclo, nem de qualquer deputado, nem qualquer presidente de junta de freguesia.
CONCLUSÃO
O que sobra em fotografias geográficas e paisagísticas, falta em retratar os representantes partidários. Este apagamento da identidade dos políticos é inadmissível. Em especulação, é como se os dirigentes do jornal, incluindo a proprietária Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, quisessem passar a mensagem de que não se querem envolver em política de partidos.
FALTA DE ARTICULISTAS
A falta de colaboradores conotados com o espectro partidário é simplesmente gritante, para não dizer escandaloso. Esta carência, como é óbvio, redunda no apagamento notório das forças em combate nas urnas eleitorais. Mais, cria a impressão de que, para além do partido no poder, não há alternância democrática.
MUDAR A PERIODICIDADE
Um jornal quinzenário, sobretudo da área noticiosa, perde completamente actualidade pelo tempo entre as edições. É urgente mudar a publicação para semanal -mesmo correndo o risco de atravessar a grave crise que passamos. Basta lembrar o Diário de Notícias, que há duas semanas regressou diariamente às bancas. Os bons títulos em papel nunca irão desaparecer.
Se preciso for para esta alteração, é preciso envolver a Câmara Municipal nos custos de edição. Se a autarquia apoiou os vários sectores de actividade, naturalmente, tem obrigação dobrada de, através da compra de uma ou duas páginas para publicação de deliberações municipais, participar activamente na restauração e prosperidade da imprensa local.
CRIAR UMA EMPATIA COM O LEITOR
É inadmissível que o Jornal da Mealhada (JM) não detenha uma página do leitor. Este corte, a persistir, pode ser-lhe fatal.
PUBLICIDADE
Salvo melhor opinião, apreendemos que no toca à angariação de publicidade o processo é incipiente, sem ideias e amador.
Ainda neste âmbito, mas de publicidade ao jornal, é preciso que, através de uma assinatura especial, o JM chegue a todos os estabelecimentos, de hotelaria, consultórios, empresas, lojas comerciais.
Pelo progresso do Concelho da Mealhada.
Atentamente
António Luís F. Quintans
Sem comentários:
Enviar um comentário