sábado, 28 de março de 2015

UM IDEIA GIRA, MAS...



Era meio-dia deste Sábado quando o meu amigo, acompanhado do neto, me entrou pela porta e atirou de supetão: “então vim eu com o meu neto para comprar arrufadas e lhe mostrar como, até há cerca de meio-século, era feita a sua venda aqui na Baixa através do pregão e com os tabuleiros de madeira à cabeça das mulheres e afinal não há nada? Isto é publicidade enganosa!”
De facto, passado um quarto de hora depois do meio-dia já não havia animação na Praça 8 de Maio e conforme o anunciado nos jornais, nomeadamente n’O Despertar: “Os doces e apetecíveis aromas prometem voltar a seduzir quem passar amanhã (Sábado) pela Praça 8 de Maio, antigo Largo do Sansão. Tal como manda a tradição, no sábado da Aleluia, o Grupo Etnográfico da Região de Coimbra (GERC) realiza mais uma Festa da Arrufada, trazendo para a rua centenas de atrativos, fofos e apetitosos bolos. Entre as 9h00 e as 13h00, a praça vai encher-se de vendedeiras que vão colocar os seus tabuleiros em linha e vão apregoar o seu produto. Tal como acontecia no passado, o grupo pretende recriar todo o ambiente festivo associado a esta tradição, onde o burburinho do público quase que abafava os pregões das vendedeiras atarefadas.”
Falei com um operador da zona. Com a minha anuência de não o identificar -perante o tão meu conhecido “não diga que fui eu que disse”-, aceitou falar e declarou o seguinte: Estiveram aí umas cinco bancas, mais ou menos até às 11h00, com pessoas a vender arrufadas. Mas, pareceu-me, traziam poucas –iam adquiri-las a uma carrinha que estava aí estacionada. Este doce tradicional não chegou para as encomendas. Não ouvi nenhum pregão. Até gostava de ter ouvido. Seria uma óptima ideia se fosse mais explorada”. Sei que andou uma vendedeira –pelo menos uma foi vista-, e o seu pregão ecoou pelos beirais.
Prossegue o meu depoente, “esta Praça 8 de Maio está feita numa bandalheira. Olhe ali o espelho de água –está com imensos papéis a boiar. Há gente a atirar os detritos lá para dentro de propósito. Para além disso, por exemplo, a tuna que actuou às 11h00 –Tuna do Instituto Superior De Contabilidade e Administração- coincidiu com a missa na igreja. É uma falta de respeito. Embora não saiba o motivo, creio que o pároco até veio cá fora para colocar alguma ordem. Esta manhã, aqui no antigo Largo de Sansão, o que até poderia ser uma iniciativa muito engraçada foi uma coisa muito triste. Muito pobrezinha!”

ALGUMAS “ILHAS” ESTIVERAM ANIMADAS DURANTE A TARDE

Neste quarto Sábado do mês, por isso mesmo, realizou-se, na Praça do Comércio, a Feira de Velharias. Para além deste certame, nas Escadas do Quebra-Costas havia também uma interessante feira de artesanato urbano. Foi uma organização de alguns lojistas e da ADDAC, Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra, e, futuramente, vai praticar-se sempre no primeiro Sábado de cada mês –esta produção de hoje foi uma excepção para não coincidir com a Páscoa. Durante a tarde, cerca das 15h00, qualquer um destes eventos estava bem concorrido com público e era notório um ambiente de festa.
No Dia Mundial da Juventude, com espectáculo promovido em parceria entre o Café Santa Cruz e a Câmara Municipal de Coimbra, os gaiteiros “Roncos e Curiscos” exibiam a sua música junto ao vetusto café e juntavam alguma assistência na Praça 8 de Maio e ruas largas. Nas artérias estreitas, com bastantes lojas abertas nesta tarde solarenga, não se passava nada. Nem a festa cá chegou, nem o público veio atrás dos foguetes. Mais uma vez venho bater no ferro frio. Nos dias festivos é preciso ligar estas ilhas. No caso de hoje, Praça 8 de Maio, Praça do Comércio e Escadas do Quebra-Costas. E como é que se fazia a ponte? Bastava descentralizar a Feira de Velharias da antiga Praça Velha e, fazendo um círculo, estendê-la pelas ruas estreitas e largas –como se faz em Aveiro. Por seu lado a feira de artesanato do Quebra-Costas descia até à Rua Ferreira Borges. Qual é a consequência deste isolamento? É que cada um, no seu canto, tenta safar-se. Se estivessem todos ligados, para além de desenvolver toda a Baixa e convidar mais lojas comerciais a estarem abertas ao Sábado de tarde, o público de um seria o mesmo do outro. Assim não. Parece que estamos todos de costas voltadas.
No caso das Escadas de Quebra-Costas o que se espera para “derrubar” a psicológica fronteira existente no Arco de Almedina e considerar esta zona –até ao cimo e junto ao Largo da Sé Velha e até ao antigo Governo Civil- como fazendo parte integrante da Baixa? Até parece que estamos na Idade Média e a cidade continua dividida. Ridículo, digo eu!








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