“Caro Colega,
A Câmara Municipal de Coimbra em
parceria com a IAPMEI e a APBC promovem, no próximo dia 10 de Março,
terça-feira, uma Sessão de Esclarecimento sobre a
medida “Comercio Investe”, que visa o apoio a projetos que promovam a
criação de fatores de diferenciação claros que possibilitem melhorar os níveis
qualitativos da oferta comercial do comércio de proximidade. A Sessão
de Esclarecimento decorrerá no Salão Nobre da Câmara Municipal
de Coimbra, a partir das 17h00. O prazo para as inscrições inicia hoje e
termina na próxima segunda-feira, dia 9 de Março. Solicitamos que nos informem
se pretendem participar através do telf: 239842164, telm: 914872418 ou do
e-mail apbcoimbra@gmail.com,impreterivelmente
até dia 09 de Março de 2015.
Contamos com a v/ presença.
O convite da APBC, Agência para a Promoção da
Baixa de Coimbra, é claro: uma sessão de esclarecimento, a decorrer no Salão
Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, sobre o “Comércio Investe”. Como se sabe trata-se de um programa de apoio ao
desenvolvimento do comércio, dito tradicional. Estes projectos, que sempre
visaram atenuar o impacto das grandes superfícies no comércio de rua, começaram
em 1998 com o PROCOM –nesta altura,
ainda com a procura em alta, os subsídios iam até cerca de 60 por cento a fundo
perdido. Por aqui, pela Baixa, vários foram os comerciantes que, pedindo empréstimos
ao banco para os restantes 40 por cento e hipotecando as suas lojas, vieram a
falir. Progressivamente, sem grande adesão pública, estes programas foram sendo
mudados com novos nomes, como “Urbcom”
por exemplo, e os auxílios, a fundo perdido, foram sendo diminuídos até aos dias
de hoje e agora, creio, são todos reembolsáveis. Escusado será dizer que os
envolvidos nestes projectos foram aumentando o rol de insolvências e sem que,
aparentemente, o IAPMEI, Agência para
a Competitividade e Inovação, que sempre foi a entidade encarregue de espalhar
a “boa nova”, se limitasse a “vender”
o produto como se fosse de grande importância para o comércio –e, na minha opinião,
trata-se de um pacote altamente tóxico. É preciso esclarecer que –embora ignore
o lastro de abrangência do programa actual- que um dos âmbitos destes apoios sempre
foi a modernização de instalações, com obras e substituição de mobiliário. Há
uma dezena de anos, numa destas apresentações, interroguei o funcionário do
IAPMEI sobre para que servia remodelar os estabelecimentos se a desertificação era cada vez maior e o poder de compra, inversamente, cada vez menor. Naturalmente que me desancou
verbalmente e passei por parvo. Como já estou habituado, nem levei a mal.
Vamos a perguntas: fará algum sentido, por
parte do IAPMEI, continuar a apoiar um sector que continua em decadência
profunda e em que diariamente encerram espaços pelo país inteiro? –Só para comparação: neste mês de Fevereiro, passado, na Baixa de Coimbra, encerraram três lojas.
Terá coerência o executivo da
Câmara Municipal de Coimbra ceder o Salão Nobre para mais um provável desastre
para os que aderirem ao programa “Comércio
Investe”? Porque comunga da ideia cegamente desta maneira? A meu ver –repito no meu legítimo
direito de opinião- porque não sabe nem quer saber do que se passa no comércio
de rua. Limita-se a surfar a onda do facilitismo. Com esta abertura do Salão
Nobre, em parceria com a APBC e que é membro fundador maioritário, quer mostrar
aos comerciantes que está preocupado com o estado caótico comercial. Pura
demagogia, como se adivinha facilmente. Que eu saiba, não há
planos para as actividades nesta zona de antanho. Não se sabe o que se quer e
muito menos para onde se encaminha- embora se vislumbre uma intenção de
transformar tudo em hotelaria. Mas a diversidade não é importante? E a
habitação?
POR QUE NÃO SE APOSTA NA PEQUENA INDÚSTRIA?
Se o Comércio está em queda livre na Baixa da
cidade –e em todo o país- por que não se transferem estes fundos comunitários
para a pequena indústria transformadora, para a pequeníssima oficina, de artes
e ofícios tradicionais, que tanta falta faz nas zonas velhas? Porque não criar
na Baixa a oficina-escola para que o saber do passado não se perca?
Os exemplos de indústrias típicas
regionais que desapareceram são imensos. Basta lembrar a olaria –a cidade, ao
longo dos séculos, foi um grande centro desta área. Retirando uma ou outra
fábrica de louça pintada de Coimbra, na zona de Condeixa, a cidade não tem uma
única fábrica de faiança para amostra, como a santaria. As últimas a encerrarem
foram a “Fábrica Alfredo de Oliveira”,
no Terreiro da Erva e mais conhecida por “fábrica
da Isabelinha”, e a “Cicade”, em
Coselhas, em que foram destruídos à marretada moldes com quase um século.
-A doçaria regional apesar de tudo e
graças a alguns hoteleiros envolvidos –apenas e só a eles- tem persistido. É
urgente a administração local, conjuntamente com os interessados, pegar neste
produto altamente turístico.
-Bordados de Almalaguês –há muito tempo que a
edilidade deveria ter desenvolvido meios para ceder um espaço gratuitamente na
Baixa e de modo a espalhar esta arte ancestral aos mais novos.
No ferro forjado a mesma história. Coimbra,
durante o último século XX, foi o berço desta arte milenar, com mestres como
Daniel Rodrigues e Lourenço Chaves de Almeida. Nos anos de 1980, na Baixa,
havia várias oficinas de ferro, como a do mestre José Pompeu Aroso –que cheguei
a conhecer pessoalmente, na Rua da Nogueira.
As obras do Metro Ligeiro de Superfície, no
final do milénio, esmagaram tudo o que eram pequenas oficinas, como a “Cromagem de Santa Cruz”, na Rua João
Cabreira. Hoje, na Baixa não há uma única aberta. Se precisarmos de uma pequena
soldadura terá de se sair do perímetro velho –e, do meu conhecimento, só existe
uma: a “Cromagem Avenida”, na
Pedrulha.
-Fabrico de instrumentos musicais –Coimbra sempre
teve tradição na guitarra de Coimbra e na sua construção. Para além disso, sem
lhe passar importância, a cidade detém no seu seio um dos mais importantes
fabricantes de instrumentos, o Fernando Meireles. Para além de construir e
reconstruir qualquer aparelho, recuperou a sanfona, um instrumento do século
XVII. Não deveria a autarquia ceder-lhe um espaço na Baixa para que se
instalasse na zona e a troco de “whorkshop’s”
e de modo a transmitir o seu saber?
-Corte de vidros – embora ainda persistam dois
estabelecimentos do género, praticamente estas oficinas desapareceram da Baixa.
-Tornearia mecânica – Há cerca de uma vintena
de anos na Baixa havia várias oficinas, hoje nem uma marca presença.
-Pedras e cantarias – havia várias oficinas de
transformação em torno da Baixa e com estabelecimentos na área. Hoje
desapareceram totalmente. A última que encerrou foi a firma “Firmino Baptista
& C.ª, Lª.”, na Pedrulha.
-Serração – a cidade, salvo erro, não detém
hoje uma pequena serração para amostra. As últimas a fecharem foram a do Arco
Pintado e o “Ferreira de Araújo”, na
Rua dos Combatentes.
-Tanoaria –Embora a urbe nunca fosse forte
nesta área, no entanto, neste momento nem uma existe.
-Estofador – embora ainda existam dois, entre
a Baixa e a Alta, pela idade dos donos, estão a prazo.
-Electricista de automóveis – Há cerca de
vinte anos havia pelo menos meia dúzia destes serviços. Hoje só há um, o senhor
Delfim, junto à Rua Direita.
Não seria altura de parar e pensar? E começar
a canalizar os fundos para áreas que sirvam, de facto, a comunidade? Será que
estou errado?
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