quarta-feira, 4 de março de 2015

COMÉRCIO: MALHAR NO FERRO FRIO




“Caro Colega,
A Câmara Municipal de Coimbra em parceria com a IAPMEI e a APBC promovem, no próximo dia 10 de Março, terça-feira, uma Sessão de Esclarecimento  sobre a medida “Comercio Investe”, que visa o apoio a projetos que promovam a criação de fatores de diferenciação claros que possibilitem melhorar os níveis qualitativos da oferta comercial do comércio de proximidade. A Sessão de Esclarecimento decorrerá no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, a partir das 17h00. O prazo para as inscrições inicia hoje e termina na próxima segunda-feira, dia 9 de Março. Solicitamos que nos informem se pretendem participar através do telf: 239842164, telm: 914872418 ou do e-mail apbcoimbra@gmail.com,impreterivelmente até dia 09 de Março de 2015.
Contamos com a v/ presença.



O convite da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, é claro: uma sessão de esclarecimento, a decorrer no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, sobre o “Comércio Investe”. Como se sabe trata-se de um programa de apoio ao desenvolvimento do comércio, dito tradicional. Estes projectos, que sempre visaram atenuar o impacto das grandes superfícies no comércio de rua, começaram em 1998 com o PROCOM –nesta altura, ainda com a procura em alta, os subsídios iam até cerca de 60 por cento a fundo perdido. Por aqui, pela Baixa, vários foram os comerciantes que, pedindo empréstimos ao banco para os restantes 40 por cento e hipotecando as suas lojas, vieram a falir. Progressivamente, sem grande adesão pública, estes programas foram sendo mudados com novos nomes, como “Urbcom” por exemplo, e os auxílios, a fundo perdido, foram sendo diminuídos até aos dias de hoje e agora, creio, são todos reembolsáveis. Escusado será dizer que os envolvidos nestes projectos foram aumentando o rol de insolvências e sem que, aparentemente, o IAPMEI, Agência para a Competitividade e Inovação, que sempre foi a entidade encarregue de espalhar a “boa nova”, se limitasse a “vender” o produto como se fosse de grande importância para o comércio –e, na minha opinião, trata-se de um pacote altamente tóxico. É preciso esclarecer que –embora ignore o lastro de abrangência do programa actual- que um dos âmbitos destes apoios sempre foi a modernização de instalações, com obras e substituição de mobiliário. Há uma dezena de anos, numa destas apresentações, interroguei o funcionário do IAPMEI sobre para que servia remodelar os estabelecimentos se a desertificação era cada vez maior e o poder de compra, inversamente, cada vez menor. Naturalmente que me desancou verbalmente e passei por parvo. Como já estou habituado, nem levei a mal.
Vamos a perguntas: fará algum sentido, por parte do IAPMEI, continuar a apoiar um sector que continua em decadência profunda e em que diariamente encerram espaços pelo país inteiro? –Só para comparação: neste mês de Fevereiro, passado, na Baixa de Coimbra, encerraram três lojas.
Terá coerência o executivo da Câmara Municipal de Coimbra ceder o Salão Nobre para mais um provável desastre para os que aderirem ao programa “Comércio Investe”? Porque comunga da ideia cegamente desta maneira? A meu ver –repito no meu legítimo direito de opinião- porque não sabe nem quer saber do que se passa no comércio de rua. Limita-se a surfar a onda do facilitismo. Com esta abertura do Salão Nobre, em parceria com a APBC e que é membro fundador maioritário, quer mostrar aos comerciantes que está preocupado com o estado caótico comercial. Pura demagogia, como se adivinha facilmente. Que eu saiba, não há planos para as actividades nesta zona de antanho. Não se sabe o que se quer e muito menos para onde se encaminha- embora se vislumbre uma intenção de transformar tudo em hotelaria. Mas a diversidade não é importante? E a habitação?

POR QUE NÃO SE APOSTA NA PEQUENA INDÚSTRIA?

Se o Comércio está em queda livre na Baixa da cidade –e em todo o país- por que não se transferem estes fundos comunitários para a pequena indústria transformadora, para a pequeníssima oficina, de artes e ofícios tradicionais, que tanta falta faz nas zonas velhas? Porque não criar na Baixa a oficina-escola para que o saber do passado não se perca?
Os exemplos de indústrias típicas regionais que desapareceram são imensos. Basta lembrar a olaria –a cidade, ao longo dos séculos, foi um grande centro desta área. Retirando uma ou outra fábrica de louça pintada de Coimbra, na zona de Condeixa, a cidade não tem uma única fábrica de faiança para amostra, como a santaria. As últimas a encerrarem foram a “Fábrica Alfredo de Oliveira”, no Terreiro da Erva e mais conhecida por “fábrica da Isabelinha”, e a “Cicade”, em Coselhas, em que foram destruídos à marretada moldes com quase um século.
-A doçaria regional apesar de tudo e graças a alguns hoteleiros envolvidos –apenas e só a eles- tem persistido. É urgente a administração local, conjuntamente com os interessados, pegar neste produto altamente turístico.
-Bordados de Almalaguês –há muito tempo que a edilidade deveria ter desenvolvido meios para ceder um espaço gratuitamente na Baixa e de modo a espalhar esta arte ancestral aos mais novos.
No ferro forjado a mesma história. Coimbra, durante o último século XX, foi o berço desta arte milenar, com mestres como Daniel Rodrigues e Lourenço Chaves de Almeida. Nos anos de 1980, na Baixa, havia várias oficinas de ferro, como a do mestre José Pompeu Aroso –que cheguei a conhecer pessoalmente, na Rua da Nogueira.
As obras do Metro Ligeiro de Superfície, no final do milénio, esmagaram tudo o que eram pequenas oficinas, como a “Cromagem de Santa Cruz”, na Rua João Cabreira. Hoje, na Baixa não há uma única aberta. Se precisarmos de uma pequena soldadura terá de se sair do perímetro velho –e, do meu conhecimento, só existe uma: a “Cromagem Avenida”, na Pedrulha.
-Fabrico de instrumentos musicais –Coimbra sempre teve tradição na guitarra de Coimbra e na sua construção. Para além disso, sem lhe passar importância, a cidade detém no seu seio um dos mais importantes fabricantes de instrumentos, o Fernando Meireles. Para além de construir e reconstruir qualquer aparelho, recuperou a sanfona, um instrumento do século XVII. Não deveria a autarquia ceder-lhe um espaço na Baixa para que se instalasse na zona e a troco de “whorkshop’s” e de modo a transmitir o seu saber?
-Corte de vidros – embora ainda persistam dois estabelecimentos do género, praticamente estas oficinas desapareceram da Baixa.
-Tornearia mecânica – Há cerca de uma vintena de anos na Baixa havia várias oficinas, hoje nem uma marca presença.
-Pedras e cantarias – havia várias oficinas de transformação em torno da Baixa e com estabelecimentos na área. Hoje desapareceram totalmente. A última que encerrou foi a firma “Firmino Baptista & C.ª, Lª.”, na Pedrulha.
-Serração – a cidade, salvo erro, não detém hoje uma pequena serração para amostra. As últimas a fecharem foram a do Arco Pintado e o “Ferreira de Araújo”, na Rua dos Combatentes.
-Tanoaria –Embora a urbe nunca fosse forte nesta área, no entanto, neste momento nem uma existe.
-Estofador – embora ainda existam dois, entre a Baixa e a Alta, pela idade dos donos, estão a prazo.
-Electricista de automóveis – Há cerca de vinte anos havia pelo menos meia dúzia destes serviços. Hoje só há um, o senhor Delfim, junto à Rua Direita.
Não seria altura de parar e pensar? E começar a canalizar os fundos para áreas que sirvam, de facto, a comunidade? Será que estou errado?



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