segunda-feira, 23 de março de 2015

LEIA O DESPERTAR...




LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A VIDA DE MARCO POR UM ACORDEÃO", deixo também as crónicas "O CARLITOS "POPÓ" ESTÁ AÍ PARA AS CURVAS"; "REGRESSA CANDEEIRO, À RUA DA GALA. VEM!"; "SENSIBILIZAÇÃO PARA O HORÁRIO DA RECOLHA DE LIXOS; e "ANIVERSÁRIOS DE ARROMBA NA BAIXA".


A VIDA DE MARCO POR UM ACORDEÃO


“Certamente que já várias vezes você passou por mim na rua e não me contemplou. Interrogo, também por que haveria de me ter notado? Sou um tipo vulgar, no aspecto, igual a tantos portugueses que, como eu, se arrastam pelas pedras da calçada em busca de um simples olhar. Vou contar a minha história. Chamo-me Marek Adam Kepacz –tratam-me por Marco. Nasci na Polónia em 1958. Em 1980 assisti ao germinar do Sindicato Solidariedade, fundado por Lech Walesa nos Estaleiros Lenin, em Gdansk, e à sua luta de resistência civil pela causa dos direitos dos trabalhadores. Até aos 23 anos, na minha terra, estudei, trabalhei a tempo inteiro e nas horas vagas tocava acordeão. No meu país de origem aprendíamos música desde os bancos da escola. Alegadamente, como eu tinha talento, e aconselhado pela professora, o meu pai pagou para eu continuar a estudar o solfejo. Durante alguns anos fiz parte de um grupo de baile. Entretanto, como não vislumbrasse o meu futuro com nitidez, e a carestia da vida e a falta de trabalho fosse uma constante, em 1981, com 23 anos, parti para Itália em busca de uma vida melhor. Durante 15 anos fui funcionário da fábrica FIAT, em Florença, e fundei um grupo de músicos de rua. Éramos quatro, saxofone, guitarra baixo, violino e eu tocava acordeão. A música foi sempre o meu resguardo espiritual. Enquanto por lá permaneci fui acompanhando o combate travado por João Paulo II, declarado santo em 2014, contra o regime totalitário vigente. Em 1983, vibrei com a atribuição do prémio Nobel da Paz ao fundador do Solidariedade pela sua coragem em enfrentar o regime pró-soviético. Em 1989 presenciei a queda do comunismo, desmoronamento do bloco de leste, ascensão de Lech Walesa a presidente da República e acreditei num destino melhor para a minha pátria. Em 1996 a fábrica onde laborava, em Florença, entrou em dificuldades, despediram pessoal e regressei à Polónia, já com Walesa apeado do poder e em pré-rotura com a organização sindical que o elevou e transformado em partido político. Fui trabalhar para a construção civil e por lá me mantive até 2009, quando a situação económica do país começou a piorar e senti que tinha de dar uma volta à minha vida. Com 51 anos, mais uma vez, peguei na mala e, tocado de força e alma cheia, abalei e aterrei em Portugal. Sempre fui um sonhador –os artistas são assim, você sabe?- e sempre acreditei que uma pessoa imagina, luta para a sua concretização e as coisas acontecem. Mas em Lisboa não foi assim. Não havia trabalho para mim, que vinha de fora. Mais uma vez a música, a minha música, foi o meu mar da subsistência possível. Sobrevivendo conforme podia e com a saúde a debilitar-se –tive dois AVC, Acidente Vascular Cerebral-, durante quatro anos, em duo, toquei na rua com um ucraniano. Emprestou-me um acordeão e ele tocava concertina. Até que, como começou a não dar para viver, o meu amigo regressou à Ucrânia. E com ele foi o instrumento que me alimenta a alma. Vim para Coimbra há cerca de um ano. Tive fé que aqui conseguiria ganhar dinheiro para conseguir comprar um acordeão e viver melhor do que na capital. Mas mais uma vez a minha fantasia falhou. Recebo 178,80 euros de RSI, Rendimento Social de Inserção, pago de renda por um quarto 120,00 e gasto mais 25 euros em medicamentos por mês. Mal dá para eu comer na Cozinha Económica. Mas eu passo bem! Gosto muito da cidade. É aqui que quero morrer. Esta é a minha segunda terra. Custa-me muito é não ter um acordeão para eu tocar na rua e poder ganhar uns trocos. Sem o instrumento sinto-me amputado, metade de mim. Acho que dava a minha vida para poder tocar todos os dias. Este acordeão que aparece na fotografia foi do Paolo, um reconhecido músico de rua e que regressou à Roménia há cerca de dois anos, mas está avariado. Se estivesse em condições de tocar, mais que certo, este texto de rogação não surgiria. Será que o leitor não terá uma forma de me ajudar? Por favor!”



O CARLITOS “POPÓ” ESTÁ AÍ PARA AS CURVAS

O Carlitos “popó” –para os amigos e “pipi” para os desconhecidos-, o nosso embaixador para as questões nacionais e internacionais, depois de uns meses de repouso na Unidade de Saúde Fernão Mendes Pinto, na Avenida Fernão de Magalhães, regressou há dias aos seus passeios diurnos e noturnos pelas ruas estreitas da Baixa. Notava-se um bocadito amarelecido e com aspeto cansado. Sei lá, se calhar a noite anterior foi agitada com alguma menina que ardia de saudade dos seus carinhos. É certo que até lhe poderia ter perguntado mas, como sou muito pudico, preferi ficar pela especulação. Mas, em boa verdade, o que interessa isso? O que importa mesmo é que o nosso representante para a liturgia, na procissão da Rainha Santa, está bem e recomenda-se.



 REGRESSA CANDEEIRO, À RUA DA GALA. VEM!
Há cerca de dois meses que uma parte da Rua da Gala, na Baixa, está sem luz e sem gala. Segundo Adélia Norberto, moradora na mesma rua e no número 37, trata-se de um misterioso desaparecimento de um candeeiro, que partiu, não se sabe para onde, e não voltou. Vamos ouvir esta residente: “mais ou menos há dois meses o luzeiro, se calhar com o peso de tanto lixo, subitamente arreou e ficou pendurado como ave na cinta do caçador. Telefonei a dar conta e vieram os bombeiros, a polícia e uma empresa por parte da EDP. Dando a impressão de rapidez, disseram que demorava uns dias a voltar. Até hoje.”
Não sei se o lampião teria ido para o estrangeiro –o que a ter acontecido até se entende. Se assim foi, graças ao programa governamental para a emigração VEM, o regresso está mais facilitado. É? Não é?


SENSIBILIZAÇÃO PARA O HORÁRIO DA RECOLHA DE LIXOS

Numa iniciativa louvável, tanto quanto sei, originária do Departamento de Desenvolvimento Social e Ambiente, da Câmara Municipal de Coimbra, num esforço olímpico e numa meritória função, anda um funcionário da Divisão de Ambiente a contactar individualmente todos os residentes para a obrigação de cumprimento dos horários de recolha dos resíduos urbanos pelos serviços. Há muito tempo que assistimos todos a um desleixo continuado por parte de alguns moradores que colocam os detritos a qualquer hora do dia ou da noite. E esta estranha relação de maltrato e abandono pela cidade, que é de todos e deve ser amada e respeitada, tem de mudar. E, sem dúvida e sublinhado, esta é a forma correta para se melhorar um procedimento errático que se verifica há muitos anos por parte de muitos munícipes. Como manda o bom senso, na pedagogia, primeiro adverte-se e a seguir, para quem teimar em prevaricar, leva com a coima correspondente.
Ficamos a saber que na zona da Alta o lixo doméstico será recolhido entre as 17h30 e as 21h00. Na área da Baixa o papel e o cartão serão recolhidos entre as 17h30 e as 19h30. Já o lixo doméstico será apanhado pelos serviços entre as 19h00 e as 21h00.


ANIVERSÁRIOS DE ARROMBA NA BAIXA

-A senhora Adelaide, a projeção de nós na velhice esperançada, fez 91 anos na quinta-feira da semana passada, 12 de Março. A “última tremoceira”, a vender na Praça 8 de Maio, embora queixando-se dores na coluna, nas pernas e nem sei mais onde, está mais rija que uma bola de bilhar. Preparemo-nos, portanto, para lhe fazer uma grande festa no centenário. Muitos parabéns à velhota mais querida da Baixa.


-Ainda na semana passada, na quarta-feira, houve festa grossa na Rua Sargento Mor e tudo parou em redor. O caso não era para menos, João Braga, o regedor daquela conhecida artéria e dono da Retrosaria Ziguezague, comemorava o seu aniversário. Mas o João estava um bocadito inconsolável. Então não é que tinha encomendado cinco leitões assados e outras tantas caçoilas de carne assada e, sabe-se lá por quê, não chegaram ao destino convencionado? Claro que os muitos vizinhos e amigos do popular comerciante, embora lamentando a falta, não deixaram de bater palmas ao aniversariante e -que remédio, o que é que se havia de fazer?- lá se atiraram ao queijo e aos bolinhos. Esta artéria da Baixa de Coimbra continua a ser uma lição.


-Também na mesma semana e na mesma Rua de Sargento Mor, na segunda-feira, houve champanhe a jorrar dos copos e bolinhos à discrição para toda a vizinhança. O motivo de grande alegria foi a Marta António, a simpática dona de um dos mais famosos açougues da Baixa: o Talho Mor -há 19 anos a fornecer carnes frescas de qualidade excecional na artéria com o mesmo nome. Muitos parabéns à Marta.
-Mais acima, no Largo da Portagem, nesta terça-feira última, havia um ambiente inusitado no Café Montanha. O caso não era para menos, o António Alves Fonseca, o sócio-gerente do popular estabelecimento hoteleiro, comemorava mais um aniversário e, para além do contentamento que se adivinha, as mensagens no telemóvel não paravam. Muitos parabéns, Fonseca, são os desejos de montanhas de amigos.




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